Sedução Diabólica. Barbara Cartland
apenas o mordomo.
Ofélia passou por ele, sem uma palavra, e desapareceu no interior da casa.
–A senhora pede que me acompanhe– disse o mordomo–, ela pede que o senhor venha até o seu boudoir, a pequena sala íntima, perto do quarto.
Era o que o Conde esperava. Seguiu o mordomo.
No caminho, descobriu-se tentando ver algum sinal de Ofélia, mas só percebeu o silêncio da casa imensa e o roçar dos próprios passos nos tapetes.
–Jem Bullet!
Pronunciou o nome baixinho, lembrando agora perfeitamente do homem inteligente, que montava seus cavalos e sempre ganhava todos os prêmios.
Lembrou-se do acidente. Tinha-se sentido triste e desapontado, ao saber que Jem Bullet não poderia mais montar, mas naturalmente, havia providenciado uma garantia para seu futuro, como sempre fazia.
Ficou imaginando como Ofélia havia recebido aquela informação falsa, e porque estaria preocupada com os empregados de outras pessoas. Pensando nela, percebeu que sabia bem pouco sobre os Langstone. A não ser que, Lady Langstone o perseguia há algum tempo.
Para o Conde, não era nenhuma novidade, ser perseguido, por aquele tipo de mulher. Era um alívio saber, que as mães de mocinhas casadouras o evitavam a qualquer custo. Tinha até ficado um pouco desconcertado, quando foi aceito na melhor sociedade da Corte.
Só seus melhores amigos, e eram bem poucos, conheciam a personalidade complexa de Gerald Wilmot e os motivos que o levaram a escolher o Condado de Rochester, quando o Rei lhe ofereceu um título.
Todos os antigos senhores de Rochester, tinham fama de galanteria e rebeldia. A começar pelo primeiro Conde, descrito por seus biógrafos como “bravo, humano e um boêmio de bom coração”.
Gerald não só admirava esse homem que havia vivido cem anos antes, como também se identificava com seus problemas familiares. Ambos tiveram mães puritanas e dominadoras que censuravam seus excessos de bebedeiras, e de certa forma eram as responsáveis por eles.
As coincidências não paravam aí, como o primeiro Conde, Gerald também ocupava um cargo na Câmara dos Lordes, que assumiu aos vinte e um anos, depois da morte de seu pai, Lord Wilmot, e se interessava bastante pela Marinha.
Denunciava apaixonadamente a política com que a Marinha estava sendo conduzida, com os marinheiros demitidos ou aposentados, logo após a assinatura do Tratado de Amiens, em março de 1802.
Entretanto, muito antes disso, já havia-se distinguido por sua bravura e imaginação.
Tinha trazido, com toda segurança, um grande número de fugitivos da Revolução Francesa, cujas cabeças estavam ameaçadas pela guilhotina.
Foi como recompensa por esse feito que o Rei George III lhe ofereceu um título. Sem hesitar, sabendo que deixaria a mãe furiosa, Gerald Wilmot respondeu:
–Se Sua Majestade não se importa, quero ser o novo Conde de Rochester.
Na ocasião, o título estava sem herdeiro e o condado quase extinto, e o ex-estudante boêmio, que os colegas de Oxford chamavam de Gerald “Rake” Wilmot, preparou-se para seguir os passos de seu antecessor. Principalmente, ao que tudo indicava, em relação às damas.
Levava uma vida alegre, despreocupada, com amigos em toda parte e principalmente na corte do Príncipe de Gales e da Rainha, que, aliás, o considerava libertino demais para ser uma boa companhia para o jovem Príncipe.
Se o primeiro Conde, John, tinha sido um demônio com as mulheres, “Rake” levava sobre ele a vantagem de ser um homem extremamente bonito, que combinava a audácia com o cinismo, um sorriso simpático e uma língua ferina.
Só numa coisa eram completamente diferentes. John tinha-se apaixonado por Elizabeth Barry, a quem dedicou poesias, e não havia na vida do atual Conde ninguém que inspirasse versos como os que o outro escreveu: “Eu só lhe estou fazendo justiça, amando-a, como nunca mulher alguma foi amada”.
Às vezes, Earl encontrava alguém atraente, mas nenhuma dama ouvira dele o que Elizabeth Barry ouvira de John:
“Quando com a arte do amor sem resistência, com seus olhos ela me escravizou”.
Rake nunca se tinha sentido assim. Nunca havia sido escravizado por uma mulher, nem tinha o menor desejo de o ser. As mulheres eram um divertimento, serviam para o riso, para o seu desejo, e nada mais. Viu claramente o inferno que a mãe tinha feito da vida do pai e jurou que aquilo não aconteceria com ele.
Passava de um caso de amor para outro, com uma rapidez e uma naturalidade que assustavam as mães protetoras. Não havia donzela na Corte que já não tivesse sido advertida pelos pais:
–Quero deixar uma coisa bem clara; se, por má sorte, você estiver na mesma festa que Rake Rochester, evite-o. Se me desobedecer, será mandada embora de Londres no dia seguinte.
Entretanto, as mulheres sofisticadas, com maridos distraídos, sempre o olhavam com um ar curioso.
O Conde sabia que podia escolher quem lhe agradasse, mas todas lhe pareciam muito cansativas e, com o tempo, foi ficando cada vez mais aborrecido com elas.
Durante a juventude, se dedicava seriamente a suas conquistas. Depois, a facilidade delas o deixou enfastiado. Agora, só queria uma coisa; que as mulheres não o aborrecessem.
Por causa disso, tinha resistido tanto tempo aos avanços de Lady Langstone. Mas Circe, como ela própria se havia apelidado, era muito persistente.
Escolhera este apelido para esquecer o nome banal de Adelaide Charlotte, que parecia não combinar com sua ambição de poder sobre os homens. Um poder considerável.
Circe, exercia sobre eles o mesmo fascínio que Rake sobre as mulheres. Trocava de amantes com frequência, descartando-se deles assim que a aborreciam ou cansavam, e estava sempre à procura de uma nova conquista. Era uma das mulheres mais diabolicamente atraentes e o Conde reconhecia isso. Tinha olhos imensos, misteriosos, cabelo vermelho escuro e os lábios sorriam cheios de promessas. Possuía algo de felino, mas quando desejava alguém, enfeitiçava a vítima, feita uma cobra.
–Ela é a cobra do paraíso– uma vez uma mulher tinha declarado, furiosa–, se aquela serpente tivesse nome, seria Circe!
Mais de uma dúzia de mulheres pensava da mesma forma, ao ver seus maridos dominados, seus filhos com o coração partido e a confusão emocional causada por Circe, que prosseguia intacta, vitoriosa.
Sobre ela, circulavam muitas histórias, e o Conde, às vezes, pensava que seria uma rival à altura na luta do amor. Com ela, precisaria ser cuidadoso, para não perder a batalha.
Bem, mas não tencionava competir com ninguém.
Seus dias de juventude tinham firmado a reputação de conquistador. Possuía glórias e críticas suficientes. Era, no fundo, um rebelde, não propriamente um leviano, como diziam. Só seguia sua própria vontade e não se importava com o que os outros pensavam.
Quando queria uma mulher, tomava-a. Não precisava fazer disso um acontecimento público, um carnaval.
Na noite anterior, quando Circe Langstone o convidou, de modo muito casual, para visitar sua casa, sabia exatamente o que ela queria.
–Vou receber alguns amigos– disse–, teria muito prazer em vê-lo, se não tiver nada melhor a fazer.
Era um modo muito artificial, para que o Conde acreditasse na pureza das intenções dela e não lesse, nas entrelinhas, um convite bem diferente. Na última hora, ele sabia, os amigos não compareceriam “por motivos pessoais” e se encontraria sozinho com a anfitriã.
Olhou-a de cima a baixo. Estava com um colar de esmeraldas que brilhavam do mesmo modo que seus olhos verdes. De repente, desejou saber como realmente, ela era. Se na verdade seria assim tão má como a reputação que tinha.
À reputação de uma mulher, o Conde