Sedução Diabólica. Barbara Cartland
vivia, não pôde acreditar que um ser humano fosse Conde nado a uma existência naquele lugar. Nem o fazendeiro mais mesquinho se atreveria a criar porcos ali.
O chão estava limpo. Jem o lavava sempre, mas as paredes caíam aos pedaços, emboloradas. As dobradiças e fechaduras estavam enferrujadas e não havia vidro nas janelas.
Ofélia quase não tinha dinheiro, pois só recebia uma pequena mesada para pagar seus vestidos e as poucas coisas de que precisava.
Quando reclamou com o pai, a madrasta interferiu, convencendo-o de que era uma perdulária e não precisava de mais nada. Reclamou até da comida que Ofélia comia, dizendo que não podiam pagar desperdícios.
Tudo mentira. Lord Langstone era um homem rico. Acreditou na esposa, mas ao mesmo tempo ofereceu uma mesada um pouco maior à filha. Quando o dinheiro chegou, Ofélia entregou-o a Emily.
Pensou em pedir que o pai ajudasse Jem Bullet, mas depois da cena que a madrasta fez, desistiu da ideia .
Desde que visitou Jem, em Lambeth, passou a odiar o Conde, como odiava poucas pessoas.
Claro que já tinha ouvido falar dele. Na escola, as garotas repetiam as histórias que ouviam de suas mães e avisavam, umas às outras, que evitassem ser vistas perto, daquele homem.
–Mamãe falou que ele é o diabo em pessoa– uma menina disse.
–Mas, francamente, é tão bonito, que gostaria de encontrá-lo.
–Se ficar perto dele, não será mais convidada para nenhum baile– uma outra avisou.
–Mamãe me disse que a filha de uma dama que saiu com o Conde foi completamente marginalizada da sociedade.
Aquilo irritou Ofélia:
–Isto não está certo! Ela não pode ser culpada pelo que a mãe faz!
–Mamãe disse que quem brinca com fogo acaba se queimando!– foi a resposta.
Ofélia achou que era verdade. Ao mesmo tempo, sabendo o quanto o Conde gastava com cavalos, parecia incrível que fosse tão mesquinho para com um homem incapaz de continuar trabalhando por causa de um acidente do qual era culpado.
Jem lhe contou o que havia acontecido.
Ele estava treinando um cavalo muito arisco, para que saltasse os obstáculos que o Conde tinha erguido na fazenda.
Eu ia pular com ele, como sempre, senhorita, mas um passarinho voou exatamente naquele momento, atrapalhou o salto e fomos os dois para o chão. Ele caiu por cima de mim.
–Oh, que horror!
–Era um ótimo cavalo e eu gostava muito de montá-lo. Foi só má sorte.
Ficou comovida com o homem que não culpava o cavalo. Ao voltar para casa, com Emily, estava convencida de que o Conde, era a pessoa mais cruel do mundo.
Na verdade, nunca esperou encontrá-lo frente a frente.
A madrasta estava recebendo vários outros homens, nenhum dos quais merecia tantas flores. Quando, inesperadamente, naquela manhã, Ofélia foi chamada, subiu apreensiva, imaginando o que teria feito de errado.
Para sua surpresa, encontrou Circe sentada na cama e de incrível bom humor. Era uma agonia vê-la ali, onde tantas vezes tinha visto sua mãe, pela manhã. Entretanto, tinha que admitir; a madrasta era muito bonita.
O longo cabelo vermelho, que chegava quase até a cintura, estava solto, sobre os ombros. Ainda não tinha passado os numerosos cosméticos que ficavam nos vidros sobre a penteadeira. A pele era branca e macia e os olhos, mesmo sem pintura, pareciam misteriosos e brilhantes.
–Mandei comprar algumas flores, Ofélia, e quero que as arrume melhor do que na semana passada.
Não respondeu. Sabia que tinha feito lindos arranjos, porque a mãe lhe ensinara. Mas a madrasta nunca ficava contente com nada que fizesse.
–Quero lírios, palmas e rosas no boudoir. Coloque um vaso na lareira, pois agora está quente demais e não precisamos de fogo, e arrume bem os vasos das mesas, principalmente ao lado do sofá.
–Farei isso, senhora.
–Espero que faça!– Circe Langstone disse, com a voz endurecida–, você quase não faz nada, não tem utilidade. Para que queremos uma garota vadia pela casa?
Ofélia não respondeu e a madrasta continuou:
–O resto das flores deve ir para o salão. Tente usar a imaginação. Na última vez em que você enfeitou a lareira, o fundo da parede ficou visível e eu não gosto disso.
–É que… não havia flores suficientes– murmurou.
–Desculpas! Sempre desculpas!– gritou com fúria repentina–, pelo amor de Deus, saia daqui! Estou cansada de vê-la aí parada;
Ofélia sabia da verdade: a madrasta não estava cansada de vê-la parada. Estava apenas com ciúme. Desde que Circe Drayton se casou com seu pai, soube que aquela mulher sentia ciúme de tudo, principalmente da primeira esposa dele, com a qual estivera casado e feliz durante dezoito anos. Tentou afastar da casa tudo o que pertencia à primeira Lady Langstone; sem que o marido percebesse, é claro. Era muito esperta.
Seus comentários maldosos e o riso sarcástico, assim como a crítica incessante sobre sua mãe, faziam com que Ofélia fechasse os punhos c precisasse de toda sua força de vontade para não responder mal.
No começo, havia sido estúpida o suficiente para fazer isso. A madrasta não apenas a esbofeteara no rosto, mas havia também lhe dado uma surra com o chicote do marido Depois, queixou-se a ele, dizendo que a enteada era rude demais.
–Claro que compreendo, querido; todas as menininhas têm ciúme do pai. Só que o antagonismo dela me deixa infeliz e sei que você não gosta disso.
Lord Langstone resolveu ter uma conversa em particular com a filha.
–Sei que sente muita falta de sua mãe, Ofélia, e eu também. Mas Circe agora é minha esposa e precisa tratá-la com respeito.
–Eu tentei, papai.
–Então, tente um pouco mais. Quero que Circe seja feliz. Ela me disse que você tem sido muito teimosa e rude.
Era impossível explicar ao pai que havia, simplesmente, defendido a memória da mãe, aquela que ambos amavam tanto.
Ofélia aprendeu rapidamente a esconder seus sentimentos e controlar melhor as palavras. Entretanto, era uma agonia ter que ouvir as coisas mais disparatadas que a madrasta dizia, só para irritá-la.
O retrato de sua mãe foi colocado no sótão. Ofélia teria compreendido, se fosse no sótão da casa, mas era no sótão do alojamento dos criados.
–Quem escolheu esta cor ridícula para as cortinas?– Lady Langstone perguntou um dia–, que mau gosto, se é que podemos chamar isso de gosto!
À noite, Ofélia chorava amargurada e planejava fugir de casa, pedir para morar com uma das primas de sua mãe, mas sabia que o pai ficaria magoado, se dissesse que não queria mais morar com ele. Tinha também a intuição de que a madrasta, para puni-la, logo a traria de volta.
Começou a realizar seus afazeres na casa; arrumava as flores, costurava e ia à biblioteca trocar livros. Não que a madrasta lesse muito. Ela procurava apenas saber o que estava na moda, no momento: poemas de Lord Byron e novelas de sir Walter Scott.
Folheava rapidamente os livros e entregava-os a Ofélia para que os devolvesse. A menina, antes de devolver, lia-os. Mesmo tendo suas ocupações, havia longas horas a passar sozinha, em que podia ler.
A madrasta havia deixado bem claro que não queria que Ofélia encontrasse seus amigos, e que ninguém soubesse quem ela era ou se estava em casa.
–Sou muito jovem para servir de acompanhante a uma garota como você– disse, com firmeza–, e ninguém