O Duque e a Corista. Barbara Cartland
o Dr. Medwin tem a dizer.
Voltou a ler o jornal e, na tentativa de obrigar Kate, a não se preocupar consigo mesma, pediu:
—Fale-me a respeito do Duque. Nunca perguntei exatamente o que foi que ele lhe fez.
—O que você acha? Que homem sem caráter! Fico doente só de pensar nele!
—Devia ser muito jovem quando o conheceu. Estamos juntos há quatro anos.
—Foi há seis anos, quando cheguei a Londres. Estava felicíssima por ter conseguido trabalho no Olympic Music Hall. Inicialmente fazia parte das coristas, mas, graças a meu cabelo, ganhei um número todo meu.
—Como assim?
—Aconteceu durante um ensaio. Estava dançando com as demais coristas, pondo todo o meu empenho na coisa, quando meus grampos caíram e meu penteado desmanchou-se. Fiquei encabulada, mas continuei dançando. Quando o ensaio terminou, comecei a catar os grampos, mas o diretor de cena disse-me:
—Você aí! Deixe seu cabelo como está e dance sozinha.
—Você bem pode imaginar o entusiasmo com que me entreguei à dança! Então, todas as noites, começava a dançar com o cabelo muito bem composto, e quando ele caía a platéia, vibrava!
Por um momento, Kate mergulhou no passado e, sem que Harry dissesse nada, prosseguiu:
—Fazia aquele número havia três semanas, quando uma de minhas colegas disse-me:
“Hoje à noite vai aparecer gente muito importante no camarote ao lado do palco…”
Assim que entrei em cena, olhei com curiosidade e fiquei decepcionada.
—Imagino que era o Duque.
—Inicialmente não sabia, até ele enviar seu cartão, convidando-me para jantar.
—E você aceitou?
—Claro que sim! As garotas ficaram morrendo de inveja, ao saberem que eu ia jantar com um Duque de verdade!
—Não sei por que ele haveria de lhe fazer semelhante convite!— comentou a atriz principal, toda despeitada, e as demais repetiram quase as mesmas palavras.
—Não fico nem um pouco surpreendido!
—Quando saí pela porta de trás do teatro, não fiquei lá muito bem impressionada. Ele parecia muito velho e havia algo em sua pessoa de que não gostei. No momento em que nos afastávamos de carruagem, sabia que entrava em um mundo de cuja existência sequer havia suspeitado.
—Quantos anos você tinha?
—Dezessete, e desconhecia tudo a respeito de pessoas como ele. E por que haveria de conhecer? Você é um cavalheiro e sabe como se comportam as pessoas que se assemelham ao Duque. Para mim, tudo aquilo era novo: uma carruagem puxada por dois cavalos, um lacaio na boleia, o dono do restaurante dobrando-se quase até o chão, a melhor mesa, um bouquet de orquídeas para mim, caviar e champanhe, que nunca havia experimentado.
—É impossível que você não conhecesse champanhe!
—Mas não tão requintado! E a comida! Algo fantástico!
—E o que aconteceu em seguida?
—Naquela noite, nada, e nem mesmo durante algumas semanas. Sou uma moça direita, senhor Duque, disse-lhe, quando ele comunicou-me o que queria.
—E o que foi que lhe respondeu?
—Ele tentou me convencer, dizendo-me: “Posso torná-la muito feliz, proporcionando-lhe um conforto de que jamais gozou.”
—Mas você se mostrou firme para com ele.
—É verdade, se está querendo dizer que não permiti que ele me tocasse. Aliás, nem queria que isto acontecesse. Ele me parecia velho e pouco atraente, mas eu gostava das flores e dos presentes que me dava.
—Belos presentes?
—Naquela época achei que sim, mas quando tive de vendê-los descobri que o Duque não tinha sido tão generoso assim. Como poderia julgar, quando, antes dele, ninguém me dera nada, a não ser um copo de bebida a mais?
—Prossiga.
—Bem, o Duque continuava me convidando para sair com ele umas três vezes por semana. Cada vez tornava-se mais persuasivo e insistente, até eu me convencer de que teria de fazer o que ele queria, o que, aliás, não era minha intenção.
—E que atitude tomou?
—Estava procurando chegar a uma resolução, mas era difícil, pois as outras garotas mostravam-se invejosas, aconselhando-me a enganá-lo. A essa altura dos acontecimentos, já sabia de sua péssima reputação.
—Posso imaginar o que você ouviu…
—Sei o que está pensando, mas, quando somos jovem, temos confiança na nossa capacidade de lidar com qualquer pessoa. Não o temia verdadeiramente, apesar de ele ter investido sobre mim uma ou duas vezes, na carruagem.
—Ele não sugeriu levá-la a algum outro lugar?
—Claro que sim! Costumava dizer: “Se você jantar a sós comigo, ninguém virá nos perturbar ” … e eu respondia: “ Não, Excelência. Quero que todos me vejam jantando com alguém de sua importância”. Felizmente, todos os reservados nos restaurantes aonde ele me levava ficavam no andar de cima e eu me recusava a pôr o pé no primeiro degrau. O Duque mostrava-se furioso e frustrado, mas que atitude podia tomar?
—E então, o que aconteceu?
—Sabia que não poderia afastá-lo de mim por muito tempo mais. Era uma noite de sábado e a semana fora. muito cansativa. Naquele dia houvera sessão à tarde e eu me encontrava realmente fatigada. O Duque brindou-me com champanhe. Sentia que não conseguia me dominar como das outras vezes. O maitre veio até nossa mesa e disse:
—Lady Constance, manda-me cumprimentá-lo. Ficaria encantada, se o senhor Duque e a jovem que o acompanha, fossem a seu encontro, no reservado. Lady Constance, tem certeza de que o senhor se divertirá e vários artistas de teatro, muito famosos, estão presentes. O Duque voltou-se para mim e disse: “ Será agradável e não precisaremos ficar muito tempo. Quem sabe significará um avanço em sua carreira?”. “Gostaria de ir?”.
—E você foi?
—Claro que sim! Pois o Duque respondeu: “Agradeça a lady Constante e diga-lhe que a Srta. King e eu iremos assim que acabarmos de jantar.”
“Muito bem, senhor Duque”, respondeu o maitre, afastando-se, e não me passou pela cabeça que aquilo não pudesse ser outra coisa que não um amável convite.
—Está insinuando que foi este o modo pelo qual o Duque a persuadiu, a entrar em um reservado?
—Exatamente. Uns dez minutos mais tarde, subimos as escadas e o garçon nos levou por um corredor escuro. Conseguia ouvir as pessoas conversar e rir por detrás das portas. Finalmente chegamos. Entrei em uma sala onde havia pouca luz e vi que estava vazia! Inocente e um pouco tonta com a bebida, olhei à minha volta e pensei que aquilo devia ser a ante-sala do lugar onde se desenrolava a reunião. Voltei-me, e vi o Duque fechando a porta e enfiando a chave no bolso. Então certifiquei-me de que tinha sido enganada!
—E não podia tomar nenhuma atitude?
—Gritei e ele bateu em mim. Quanto mais eu lutava, mais prazer ele parecia sentir. O Duque era muito forte e, como sou covarde, não ofereci muita resistência, após os primeiros esforços desesperados, quando tentei escapar.
—Pobre Katie!
—Soube mais tarde que metade das garotas do teatro tinham a mesma história a contar. Nunca confie em um admirador e nunca beba, se quiser aproveitar-se dele! É meu conselho para toda garota do interior que entra para o teatro!
—Sempre ouvi dizer que o Duque era um devasso! O que foi que ele lhe deu?