O Duque e a Corista. Barbara Cartland

O Duque e a Corista - Barbara Cartland


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médico saudou-o e caminhou para outro setor do bairro, onde as casas eram um pouco melhores do que aquela em que Katie King morava.

      Harry subiu muito lentamente as escadas, em direção ao segundo andar. Ao chegar à porta de Katie, fez uma pausa, antes de abri-la, e exercendo um esforço considerável, forçou um sorriso.

      —O que foi que ele disse? Não quis que eu tomasse conhecimento de nada…

      Estava apoiada nos travesseiros e seus formosos cabelos dourados caíam até a cintura. Irradiava tamanha beleza que durante um momento Harry não conseguiu deixar de olhá-la, não conseguindo acreditar que acabara de ouvir sua Conde nação à morte.

      —O médico foi muito animador. As coisas não se apresentam tão ruins como ele imaginava, e ele voltará novamente dentro de alguns dias. Disse que até lá você, com toda a certeza, estará se sentindo melhor.

      —Ele disse isto de verdade?

      Harry sentou-se na cama e abraçou-a.

      —Você então acha que eu lhe mentiria? Tem que ficar boa, querida, e bem depressa, caso contrário os dois acabaremos passando fome!

      —Oh, Harry, quando eu voltar para o palco trabalharei tanto que em breve teremos uma vida luxuosa e você poderá comprar aquele terno que tanto lhe agradou.

      Katie não conseguiu prosseguir, pois Harry a beijava. Sentiu que ela se tornava tensa e percebeu té-la excitado.

      —Não quero fatigá-la, querida. Sinto-me feliz em simplesmente olhar para você. O médico comentou comigo o quanto você estava bonita.

      —Todos voltarão a me aplaudir, quando eu voltar para o palco, com meus cabelos soltos!

      —O médico disse que era uma cor absolutamente excepcional e que só a vira em outra garota, que mora aqui no bairro.

      —Não acredito! Ela deve tingir os cabelos.

      —Não é o que o médico diz.

      —Vou arrancar-lhe os olhos, se seus cabelos forem mais bonitos do que os meus!

      —Não se preocupe, meu amor! Não há ninguém que tenha os cabelos iguais aos seus.

      —É o que aquele Duque devasso dizia! Chamava-me de “feiticeira”. Costumava enviar-me cartões, juntamente com as flores, nos quais escrevia: “À feiticeira, cujos cabelos dourados me fascinam!” E sabe o que ele me disse certa ocasião?

      —O que foi/?— perguntou Harry, sem demonstrar maior interesse.

      — Ele me disse: “Tive três esposas e sobrevivi a todas elas. Daria metade de minha fortuna a uma mulher que me fizesse pai, além de torná-la minha Duquesa.”

      —Três esposas! Do modo como ele vivia, não merecia propagar a espécie! Já lhe ocorreu que poderia ter tido um filho dele? Se você tivesse tido uma criança, poderia ser Duquesa!

      —Prefiro você, seu bobo! Você merece uma recompensa, meu Harry, por tudo o que estamos passando, e garanto que a terá, mesmo que seja a última coisa que eu tenha a fazer! Hoje é nosso dia de sorte. Quem sabe? Talvez, quando aquele demónio morrer, recebamos a notícia de que ele me contemplou em seu testamento.

      Harry riu, mas subitamente tornou-se tenso e Katie sentiu seus dedos enrijecerem.

      —O que foi?

      —Tive uma ideia ! Dir-lhe-ei mais tarde, mas penso existir algo que nos trará a sorte de que sempre necessitamos.

      —Oh, diga-me de que se trata, Harry!

      —Não, preciso pensar melhor no assunto.

      —Morrerei de curiosidade!

      Passou pela mente de Harry que ela morreria de câncer, a menos que a ideia que tivera fosse prática. Levantou-se.

      —Vou sair, mas não demoro.

      —Já lhe tinha dito para ir respirar um pouco de ar. Enquanto isto, vou cochilar.

      Harry inclinou-se e beijou-a no rosto.

      —Você é tão bom para mim, Harry. Não sei o que faria sem você. Voltará, não é mesmo?

      —Recuso-me a responder a uma pergunta tão ridícula, e vou comprar algo bem gostoso para o jantar.

      —Ouça, por que não põe meu casaco no prego? Quando sarar, não terei mais necessidade dele e aquele velho avarento há de dar pelo menos uma libra por ele.

      —Está bem. Como você está dizendo, o clima estará mais quente no próximo mês. Quando se sentir suficientemente bem para voltar para o teatro, poderá pedir um adiantamento de salário, não é mesmo?

      —Mas é claro! O casaco está no armário. Antes de sair, quer me dar um lenço? Acho que existe um na gaveta de cima da cômoda.

      Ao abrir a gaveta, Harry notou que estava cheia de fitas, lenços, flores artificiais e outras miudezas.

      —O Duque… acaso lhe escreveu?

      —Sempre me enviava cartões, comunicando a que hora viria para fne levar para jantar. Era mais uma ordem do que propriamente um convite. Não lhe passava pela cabeça que uma garota recusasse a companhia de um homem tão importante quanto ele.

      —E você guardou esses cartões?

      —Creio que sim. Guardo tudo.

      —E onde estão?

      —Na gaveta de baixo, com os programas dos espetáculos em que trabalhei, e as críticas dos jornais.

      —Tem certeza de que existem cartas do Duque?

      Penso que sim, e lá estão os cartões que costumava me envia com as flores, nos quais escrevia: “À minha Feiticeira!” Se eu soubesse como ele era realmente, teria queimado tudo!

      —E não queimou?— perguntou Harry, ansioso.

      —Não, era preguiçosa demais. Além do mais, quando me tornasse famosa, escreveria o seguinte título para minha autobiografia: “Seduzida por um Duque”. Até parece o título de um folhetim, não acha?

      Harry abriu o armário e pegou o casaco. Tinha uma gola de pele barata e parecia bem diferente de quando Katie, o usava.

      —Até logo, meu bem! Não demore!

      —Voltarei tão logo possa. Durma. Isto é uma ordem, mesmo que não parta de um Duque!

      Ouviu-a rir, enquanto fechava a porta.

      —Larentia!

      —Estou indo, papai!

      Larentia Braintree encheu uma xícara com o café que estivera preparando na cozinha e subiu as escadas, em direção ao quarto de seu pai.

      Era um aposento agradável, com duas janelas que davam para a rua.

      —Preparei-lhe um pouco de café, papai.

      —Derrubei um de meus papéis no chão. Sinto muito fazê-la subir, meu bem, mas preciso dele.

      —Gostaria que parasse de trabalhar, papai, e descansasse.

      Enquanto falava, pensava, angustiada, que agora já não importava muito se ele trabalhasse ou não. O Dr. Medwin lhe dissera:

      —Não lhe conte a verdade. Deixe-o acreditar que está melhorando, até que a verdade se imponha a ele.

      —E ele… sofrerá muito?

      —Tentarei impedir as dores mais intensas, mas você sabe que as drogas terão de ser cada vez mais fortes, até que se tornará impossível para ele pensar, ou até mesmo reconhecê-la.

      Larentia tornou-se muito pálida, mas não se lamentou, e o médico admirou seu autocontrole.

      —O senhor deve fazer o que for melhor para papai. Não existe nenhum outro modo de… salvá-lo?

      —Há


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