Duelo De Corações. Barbara Cartland

Duelo De Corações - Barbara Cartland


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fresco da noite iria clarear-lhe a mente. Seu coche foi trazido e saímos para dar uma volta. A certa altura essa lady pediu-me o espelho de mão que eu trazia na bolsa. Quando lhe entreguei o espelho ela o deixou cair, devido ao tremor das mãos, ocasionado pelo excesso de brandy. Furiosa, ela acusou-me de trazer-lhe azar. Obrigou-me a descer do coche e atirou sobre mim o dinheiro correspondente ao meu salário.

      —Uma atitude monstruosa!— lorde Brecon indignou-se—, mulheres assim não deviam existir!

      —Quando me vi assim sozinha numa estrada sem movimento, achei mais conveniente atravessar o bosque, e sair na estrada principal, que com certeza me levaria a Sevenoaks.

      —Sim… mas você teria de andar quase duas milhas. Agora posso deixá-la em Sevenoaks. Chegando lá, o que pretende fazer?

      —Pensei em alugar uma carruagem e ir para Londres.

      —Então você mora em Londres?

      De repente Caroline teve um desejo imenso de estar em casa, no campo, sob a proteção dos pais. Se voltasse a Londres precisaria ter uma boa desculpa para apresentar à madrinha e à prima, lady Edgmont. Também não estava disposta a ver sir Montagu. O que ele seria capaz de inventar quando retomasse à cidade?

      Tudo era assustador e Caroline, impetuosa como sempre, tomou a resolução de voltar para o campo. Contaria aos pais o que acontecera e pediria o perdão de ambos por sua imprudência. Toda vez que cometia uma falta ela assumia a responsabilidade e acabava sendo perdoada.

      —Não, milorde— respondeu por fim—, moro perto de Dover, e pensando bem, será mais prudente eu voltar para casa. Depois arranjarei outro emprego.

      —Nesse caso devemos ir até Dover e quanto antes chegarmos lá, melhor. Suportará a viagem se formos mais depressa? Neste passo levaremos metade da noite para chegar até meus amigos.

      —Pode ir a pleno galope, milorde— consentiu Caroline, agarrando-se com mais força à cintura do cavaleiro.

      A partir daí sua única preocupação foi manter-se na garupa e abaixar a cabeça para o chapéu não voar. Este, felizmente, estava amarrado ao queixo com uma fita.

      Depois de algum tempo lorde Brecon exclamou:

      —Veja ali adiante! Eles estão onde eu previa.

      Olhando para a frente Caroline avistou luzes, os contornos de tetos recurvados e pequenas chaminés. Nada do que viu lembrava casas.

      Só então compreendeu que em um terreno estavam estacionadas vários carroções fechados, desses que ciganos e artistas circenses usam como casa.

      —Ciganos!— exclamou, surpresa.

      —Não é um grupo de ciganos— contrapôs lorde Brecon—, meu amigo é dono

      de um pequeno circo de animais amestrados e os exibe em diversas cidades.

      —Um circo itinerante de animais! Já vi apresentação de animais amestrados na feira de São Bartolomeu.

      —Acredito que meu amigo Grimbaldi pretende terminar sua excursão nessa feira.

      Eles se aproximaram do acampamento e um rapazinho de uns quinze anos de idade, moreno, de cabelos longos e negros, com aparência de cigano, saiu das sombras e os deteve.

      —Ei, senhor! O espetáculo terminou. Vocês não podem entrar.

      Uma mulher igualmente morena, carregando uma criança no colo apareceu logo atrás do rapazinho.

      —Vim falar com o Sr. Grimbaldi— lorde Brecon explicou—, leve-me até ele.

      —Quer falar com o patrão?— o adolescente assumiu uma expressão de dúvida—, o Sr. Grimbaldi não disse que esperava visitantes.

      —Vejo que são pessoas de respeito, filho— disse à mulher ao rapazinho—, faça o que o cavalheiro está dizendo.

      Lorde Brecon atirou uma moeda de prata no ar e o adolescente a apanhou com agilidade.

      —Por aqui, senhor— ele disse em outro tom e saiu correndo adiante do cavalo.

      Uma grande carroça estava um pouco separada das outras e era também a mais vistosa, pintada de vermelho e prata. Pelas janelas e pela porta, todas abertas, via-se parte do interior iluminado do carroção.

      —Patrão! Sr. Grimbaldi!— gritou o rapazinho subindo os poucos degraus do carroção e detendo-se à porta—, um cavalheiro quer falar com o senhor.

      Da garupa Caroline olhou ao redor e viu diversos carroções iluminados. As jaulas com os animais estavam cobertas. Várias pessoas, homens e mulheres, com certeza os treinadores e empregados que cuidavam dos animais, estavam sentados ao redor de uma fogueira.

      Nesse instante um homem alto e musculoso atendeu ao chamado. Ele teve de se abaixar para não bater na trave da porta.

      —Lorde Brecon! Que surpresa agradável!— exclamou ao ver o amigo.

      —Podemos entrar, Adam?— lorde Brecon perguntou—, trouxe uma amiga comigo.

      O rapazinho correu para segurar o cavalo. Lorde Brecon desmontou, tirou Caroline da garupa e ficou por um momento fi- tando-a, fazendo-a sentir o coração bater com mais força.

      —Deixe-me ajudá-la— ele acrescentou, dando-lhe a mão para que ela subisse os degraus do carroção.

      —Seja bem-vinda, milady— disse o Sr. Grimbaldi.

      —Obrigada.

      —Adam Grimbaldi é um grande e velho amigo, Srta. Fry. Apesar do

      sobrenome estranho, ele tem sangue inglês— expôs lorde Brecon.

      —É verdade. Mas não só o sangue. Meu coração também é inglês. É bom estar

      de volta ao meu país.

      —Sei que ama a Inglaterra, Adam, embora você tenha feito o maior sucesso na França.

      No interior do carroção Caroline ficou atônita ao ver uma mulher, trajada de modo estranho, levantar-se de um divã onde estava repousando.

      Era pequenina e delicada, bonita, os cabelos pareciam uma nuvem dourada e chegavam à altura dos joelhos. Suas roupas constavam de calças em estilo turco, de tecido muito fino, e um top bordado com pedras preciosas.

      —Bonsoir, madame— a pequenina mulher cumprimentou Caroline. Então viu lorde Brecon e exclamou—, senhor Conde! Que bom revê-lo. Pensei que tivesse esquecido Zara.

      Zara correu para lorde Brecon com os braços abertos. Ele abraçou-a e beijou-lhe o rosto. Os olhos de Caroline se arregalaram diante da cena.

      —Está gostando da Inglaterra, Zara?— lorde Brecon perguntou, olhando para a pequenina mulher com surpreendente afeição.

      —Estou detestando. Aqui faz muito frio e o público não é entusiasmado para aplaudir. Os ingleses não são calorosos como os franceses nem barulhentos e alegres como os alemães.

      —Já disse a Zara que somos um povo reservado— esclareceu o Sr. Grimbaldi, sorrindo—, com o tempo ela se acostuma conosco.

      —E seus tigres? O que eles acham dos ingleses?— lorde Brecon perguntou em tom brincalhão.

      —Eles são como eu. Se não ouvem muitos aplausos ficam tristes, acham que não fazem sucesso e tomam-se indóceis, dando-me grande trabalho para controlá-los.

      —Oh, minha pobre Zara—, lorde Brecon olhou para Caroline— Srta. Fry, quero apresentá-la a madame Zara, a maior e provavelmente a única domadora de tigres do mundo. Ela obteve um sucesso fenomenal no Continente e agora nos sentimos honrados em recebê-la na Inglaterra.

      —Espero ter o grande prazer vê-la apresentar-se com seus tigres, madame Zara— disse Caroline


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