A Bíblia Sagrada - Vol. I (Parte 2/2). Johannes Biermanski

A Bíblia Sagrada - Vol. I (Parte 2/2) - Johannes Biermanski


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isto ainda mais notório. Seu espírito era ativo e bem desenvolvido, a ardente sua sêde de saber. Conquanto não haurisse as vantagens de uma educação superior, seu amor ao estudo e o hábito de pensar cuidadosamente, bem como a aguda perspicácia, tornaram-no um homem de perfeito discernimento e largueza de vistas. Era dotado de irrepreensível caráter moral e nome invejável, sendo geralmente estimado por sua integridade, frugalidade e benevolência. À custa de energia e aplicação, adquiriu o necessário para viver, conservando, no entanto, seus hábitos de estudo. Ocupou com distinção vários cargos civis e militares, e as portas da riqueza e honra pareciam-lhe abertas de par em par.

      Sua mãe era mulher verdadeiramente piedosa, e na infância estivera êle sujeito às impressões religiosas. No entanto, ao atingir o limiar da idade adulta, foi levado a associar-se com deístas, cuja influência foi tanto mais acentuada pelo fato de serem na maioria bons cidadãos, e homens de disposições humanitárias e benevolentes. Vivendo, como viviam, no meio de instituições cristãs, seu caráter tinha sido até certo ponto moldado pelo ambiente. As boas qualidades que lhes conquistaram respeito e confiança, deviam-nas à Bíblia; e, contudo, êsses dons apreciáveis se haviam pervertido a ponto de exercer influência contra a Palavra de Deus [YAHWEH]. Pela associação com êsses homens, Miller foi levado a adotar seus sentimentos. As interpretações corretas das Escrituras apresentavam dificuldades que lhe pareciam insuperáveis; todavia, sua nova crença, conquanto pusesse de lado a Escritura Sagrada, nada oferecia de melhor para substituí-la, e longe estava êle de sentir-se satisfeito. Continuou, entretanto, a manter estas opiniões durante mais ou menos doze anos. Mas com a idade de trinta a quatro anos, o Espírito Santo/ santo (o Espírito de YAHWEH) impressionou-lhe o coração com a intuição de seu estado pecaminoso. Não encontrou em sua crença anterior certeza alguma de felicidade além-túmulo. O futuro era negro a tétrico. Referindo-se mais tarde aos seus sentimentos nesta época, disse êle:

      "O aniquilamento era um pensamento gélido a desalentador, e o fato de ter o homem de responder por seus atos significava destruição certa para todos. O céu era como bronze por sôbre a minha cabeça e a terra como ferro sob os meus pés. A eternidade, que era? E a morte, por que existia? Quanto mais raciocinava, mais longe me achava da evidência. Quanto mais pensava, mais contraditórias eram as minhas conclusões. Tentei deixar de pensar, mas meus pensamentos não podiam ser dominados. Era verdadeiramente infeliz, mas não compreendia a causa. Murmurava e queixava-me, sem saber de quem. Sabia que algo havia de errado, mas não sabia como ou onde encontrar o que era reto. Lamentava, mas sem esperança."

      Neste estado continuou durante alguns meses. "Sùbitamente," diz êle, "gravou-se-me ao vivo no espírito o caráter de um Salvador. Pareceu-me que bem poderia existir um ser tão bom e compassivo que por nossas transgressões fizesse expiação, livrando-nos, destarte, de sofrer a pena do pecado. Compreendi desde logo quão amável êsse Ente deveria ser, a imaginei poder lançar-me aos Seus braços, confiante em Sua misericórdia. Mas surgiu a questão: Como se pode provar a existência dêsse Ser? Afora a Bíblia, achei que não poderia obter prova da existência de semelhante Salvador, nem sequer de uma existência futura. ...

      "Vi que a Escritura Sagrada apresentava precisamente um Salvador como o que necessitava; a fiquei perplexo por ver como um livro não inspirado desenvolvia princípios tão perfeitamente adaptados às necessidades de um mundo decaído. Fui constrangido a admitir que as Escrituras devem ser uma revelação de Deus. Tornaram-se elas o meu deleite; a em Yahshua encontrei um amigo. O Salvador tornou-Se para mim o primeiro entre dez mil; e as Escrituras, que antes eram obscuras a contraditórias, tornaram-se agora a lâmpada para os meu(s) pés e luz para o meu caminho. Meu espírito tranqüilizou-se e ficou satisfeito. Achei que YAHWEH Elohim (Deus) é uma Rocha em meio do oceano da vida. A Bíblia tornou-se então o meu estudo principal e, posso em verdade dizer, pesquisava-a com grande deleite. Vi que a metade nunca se me havia dito. Admirava-me de que me não tivesse apercebido antes, de sua beleza e glória; e maravilhava-me de que já a pudesse haver rejeitado. Tudo que o coração poderia desejar, encontrei revelado, como um remédio para tôda enfermidade da alma. Perdi todo o gôsto para outra leitura, e apliquei o coração a obter a sabedoria de Deus." - Memórias de Guilherme Miller, S. Bliss.

      Miller professou pùblicamente sua fé na religião que antes desprezara. Seus companheiros incrédulos, entretanto, não tardaram em reproduzir todos os argumentos com que êle próprio insistira contra a autoridade divina das Escrituras. Não estava então preparado para responder a êles, mas raciocinava que, se a Bíblia é a revelação de Deus, deve ser coerente consigo mesma; a que, como foi dada para a instrução do homem, deve adaptar-se à sua compreensão. Decidiu-se a estudar as Escrituras por si mesmo, e verificar se as aparentes contradições não se poderiam harmonizar.

      Esforçando-se por deixar de lado tôdas as opiniões preconcebidas, dispensando comentários, comparou passagem com passagem, com o auxilio das referências à margem e da concordância. Prosseguiu no estudo de modo sistemático a metódico; começando com Gênesis, a lendo versículo, por versículo, não ia (is) mais depressa do que se lhe desvendava o sentido dais várias passagens, de modo a deixá-lo livre de tôda dificuldade. Quando encontrava algum ponto obscuro, tinha por costume compará-lo com todos os outros textos que pareciam ter qualquer referência ao assunto em consideração. Permitia que cada palavra tivesse a relação própria com o assunto do texto e, quando harmonizava seu ponto-de-vista acêrca dessa passagem com tôdas as referências da mesma, deixava de ser uma dificuldade. Assim, quando quer que encontrasse passagem difícil de entender, achava explicação em alguma outra parte das Escrituras. Estudando com fervorosa oração para obter esclarecimentos da parte de Deus, o que antes parecia obscuro à compreensão agora se fizera claro. Experimentou a verdade das palavras do salmista: "A exposição das Tuas palavras dá luz; dá entendimento aos símplices." Salmo 119:130.

      Com intenso interêsse estudou os livros de Daniel a Apocalipse, empregando os mesmos princípios de interpretação que para as demais partes das Escrituras; e descobriu, para sua grande alegria, que os símbolos proféticos podiam ser compreendidos. Viu que as profecias já cumpridas tiveram cumprimento literal; que tôdas as várias figuras, metáforas, parábolas, símiles etc., ou eram explicados em seu contexto, ou os têrmos em que eram expressos se achavam entendidos literalmente. "Estava satisfeito," diz êle, "por ser a Escritura Sagrada um conjunto de verdades reveladas, tão clara e simplesmente apresentadas que o viandante, ainda que seja um louco, não precisa errar." - Bliss. Elo após elo da cadeia da verdade recompensava seus esforços, enquanto passo a passo divisava as grandes linhas proféticas. Anjos celestiais estavam a guiar-lhe o espírito e a abrir as Escrituras à sua compreensão.

      Tomando a maneira por que as profecias se tinham cumprido no passado como critério pelo qual julgar do cumprimento das que ainda estavam no futuro, chegou à conclusão de que o conceito popular acêrca do reino espiritual do Messias - o milênio temporal antes do fim do mundo - não é apoiado pela Palavra de Deus [YAHWEH]. Essa doutrina, falando em mil anos de justiça e paz antes da vinda pessoal do Senhor, afasta para longe os terrores do dia de Deus [YAHWEH]. Mas, por agradável que seja, é contrária aos ensinos do Messias a Seus apóstolos, que declaravam que o trigo e o joio devem crescer juntos até à ceifa, o fim do mundo (S. Mateus 13:30, 38-41); que "os homens maus a enganadores irão de mal para pior;" que "nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos" (II Timóteo 3:13 e 1); e que o reino das trevas continuará até o advento do Senhor, sendo consumido pelo espírito de Sua bôca a destruído com o resplendor de Sua vinda. (II Tessalonicenses 2:8.)

      A doutrina da conversão do mundo e do reino espiritual do Messias não era mantida pela igreja apostólica. Não foi geralmente aceita pelos cristãos antes do comêço do século dezoito, aproximadamente. Como todos os outros erros, seus resultados foram maus. Ensinava os homens a afastarem para um longínquo futuro a vinda do Senhor, e os impedia de prestar atenção aos sinais que anunciavam Sua aproximação. Infundia um sentimento de confiança a segurança que não era bem fundado, levando muitos a negligenciarem o necessário preparo a fim de se encontrar com seu Senhor.

      Miller achou que a vinda do Messias, literal, pessoal, é plenamente ensinada nas Escrituras. Diz S. Paulo: "O mesmo Senhor descerá do céu com alarido, a com voz de Arcanjo, a com trombeta de YAHWEH." I Tessalonicenses


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