Sangue Contaminado (Laços De Sangue Livro 7). Amy Blankenship
desta vez, ele não se desviou. Quando o demónio ficou ao alcance de um braço, o punho de Craven irrompeu, enterrando-se no peito do demónio.
Ambos ficaram ali, olhando-se fixamente, um deles com uma expressão de surpresa e o outro com uma expressão arrogante de triunfo. Craven retirou o punho do peito do demónio e recuou. Um buraco fora aberto, revelando o negro retinto dentro da fachada humana que o demónio adotara.
Um grito humano irrompeu de uma das mulheres, seguido pelo som de passos. Os humanos não conseguiam ver a verdadeira forma do mestre das sombras, nem conseguiam ver Craven como um demónio. Tudo o que viam eram dois homens brigando na rua e um deles abrindo um buraco no peito do outro.
Craven abriu um sorriso sardónico. “Perdeste.”
O mestre das sombras cambaleou para trás e olhou para o buraco que tinha no peito. Um gemido lento e profundo encheu o parque de estacionamento e o demónio olhou para cima, mesmo a tempo de ver a primeira alma voando para dentro do orifício. O seu corpo estremeceu num ângulo estranho antes de outra alma o invadir. Mais almas se seguiram, voando para dentro do corpo do demónio para atacar as trevas que aí existiam.
Craven suspirou, satisfeito, quando a última alma abriu caminho para o interior do demónio. Este ficou hirto, com os braços esticados. A sua pele começou a rasgar e feixes de fumo negro emergiam das fissuras, acompanhados por uma suave luz branca.
Voltando-se, o demónio tentou fugir, mas os seus movimentos estavam rígidos e espasmódicos, quase parecendo um zombie, o que, até certo ponto, divertiu Craven.
O mestre atirou a cabeça para trás e gritou, enquanto o seu corpo era totalmente rasgado a partir do interior. O grito cessou repentinamente e um fumo fino de cor preta acinzentada pairou por momentos, antes de se desvanecer no nevoeiro matinal e desaparecer completamente com um último silvo de desprezo.
Craven manteve os braços estendidos, como que pedindo para ser abraçado. As almas que se movimentavam em volta do parque de estacionamento viraram-se na sua direção e lançaram-se para dentro do seu corpo. Quando a última alma desapareceu desta dimensão, baixou os braços e aproximou-se do que restara das roupas do mestre das sombras.
Baixando-se, apanhou o medalhão e saiu do parque de estacionamento. Quando voltou para a calçada, olhou à volta e viu mais humanos meditando.
Nas sombras projetadas pelos edifícios circundantes, identificou alguns demónios das sombras esgueirando-se… Sem um mestre a quem seguir, eram inúteis. Normalmente, os demónios das sombras não constituíam uma grande ameaça quando o seu mestre era derrotado, por isso não se preocupou demasiado com o lugar para onde se dirigiam. Segurando o medalhão sob a ténue luz do sol que começava a dissipar a névoa, sorriu uma vez mais.
“Bom dia!”, disse em voz baixa, guardando depois o medalhão asteca no bolso, e dirigiu-se para casa. Talvez pudesse divertir-se um pouco com o medalhão do mestre das sombras.
Começou a atravessar a cidade tão depressa que, quando viu a criatura de asas prateadas, já se tinha transformado numa pós-imagem. Abrandando o passo, deu meia-volta e novamente contemplou a parte de dentro da cidade. Isto sim, era interessante… Ele pensara que todas as mulheres Caídas eram levadas deste mundo à nascença.
*****
Carley tinha seguido o índio que carregava Tiara pelo do povoado, até chegarem a uma mansão sombria situada nas colinas periféricas. Este lugar provocou-lhe arrepios… devido talvez às gárgulas e aos demónios que rastejavam por toda a área exterior. A parte interior não era muito melhor.
Uma vez mais, estava grata por a maioria dos monstros não a conseguir ver. Mesmo que conseguissem, não poderiam fazer-lhe mal, graças ao feitiço de Tiara. Isso não a impedira de estremecer no momento em que ouviu gritos vindos da cave… esperava que se tratasse da cave e não do chão.
Tentando bloquear os lamentos de agonia, correu atrás do índio que subia as escadas até ao segundo piso. Se ele estava a levar Tiara para uma sala de tortura, teria de agir rapidamente. Quando entrou na divisão atrás dele, Carley parou para ver o homem simplesmente fitando Tiara.
Nighthawk franziu o sobrolho, querendo sentir alguma coisa… até mesmo uma faísca, enquanto contemplava a bela rapariga. Ela tinha feito com que algo despertasse dentro de si quando a conhecera pela primeira vez, mas fora tão breve que agora se perguntava se tinha sido apenas uma ilusão. O seu olhar foi atraído para a terra de cemitério que lhe sujava o rosto e o corpo.
Carley entrou em pânico quando o índio começou a despir Tiara.
“Para!”, gritou, deslizando para o meio dos dois, e Nighthawk atingiu-a sem pestanejar. “Raios, onde estão os cowboys quando são precisos?” reclamou Carley, e fez um turbilhão de movimentos para tentar que Nighthawk desviasse a atenção de Tiara e se focasse nela. Carley parou por fim, já que parecia ser inútil.
Ela tinha de regressar ao PIT e informar Jason e Guy sobre o paradeiro de Tiara, mas era incapaz de se ir embora até ter a certeza de que a amiga ainda estaria viva quando viessem resgatá-la.
Nighthawk pôs-se de pé e despiu-se até ficar de tanga, voltando depois a tomar a rapariga nos braços. Dirigindo-se à casa de banho, entrou numa banheira grande e ajoelhou-se, esperando pacientemente que se enchesse de água quente para poder lavá-la. Tampouco lhe agradou o cheiro do mestre Spinnan na pele dela.
Relaxando o corpo, Nighthawk deixou a mente divagar enquanto a água aquecida subia. Desprezava necromantes porque eles tinham-no transformado naquilo que era agora… Tinha de se concentrar até num sentimento como esse para conseguir sentir uma pontada que fosse. Esta necromante era diferente dos outros… Ela não queria controlar… queria libertar.
Olhando para a mulher nos seus braços, não precisou de questionar o porquê de o corpo dela não surtir efeito em si. A alma dele estava aprisionada na sepultura, e com ela… a maior parte das suas emoções. Não sentia necessidade de ser amado ou odiado… e muito menos de desejar alguém.
Pegando no champô da prateleira ao canto, Nighthawk ensaboou delicadamente o longo cabelo prateado dela, os fios deslizando suavemente pelos seus dedos. Não vendo razão para se apressar, lavou-a demoradamente. Muito tempo se tinha passado desde que tocara em alguém sem ter a intenção de lhe fazer mal.
Quando ficou satisfeito com o odor dela, passou a espuma por água e esvaziou a banheira. Enrolando algumas toalhas à volta dela, voltou para o quarto e pousou-a na cama. Tinha feito o que pudera por ela. Dado que a água não a despertara, sabia que estava num estado de sono muito profundo e era provável que não acordasse durante algum tempo. Sem a proteção adequada, esta guerra seria o fim dela.
Retirando a tolha do cabelo da rapariga, Nighthawk levantou delicadamente o tronco dela e tocou com os dedos na ferida que ela tinha atrás da cabeça. Sentira-a enquanto lhe lavava o cabelo. Na sua primeira vida tinha sido uma espécie de curandeiro… um xamã… por isso sabia que esta ferida não era fatal.
Deixou a mente penetrar fundo nela, tentando saber se havia outra razão para querer manter-se adormecida… abandonando este mundo por breves momentos. Nighthawk jamais rompera o vínculo que ela estabelecera consigo no cemitério mais pequeno e isto permitiu-lhe voltar a ativar nela a ligação mental. No passado, quando um necromante se conectava consigo, sentia-se como se estivesse a ser asfixiado. A sensação que tinha com ela era o equivalente a dar as mãos.
Mesmo adormecida, conseguia sentir a sua fome queimando… o lado dela que não pertencia à linhagem de Craven. Ela estava a manter esse lado enterrado bem fundo dento de si… escondendo o seu chamamento. A fome estava a oferecer a possibilidade de acelerar as suas habilidades de cura naturais. Esta era a única coisa que Nighthawk não podia fazer por ela… a energia de que ela precisava vinha da alma e, até ao momento… ele não tinha uma. Por enquanto, era bom que ela dormisse, mesmo sendo uma forma mais lenta de cura.
Nighthawk passou-lhe os nós dos dedos pelo rosto suave, no lugar onde Nile a golpeara e deixara uma pisadura. Craven tinha dito que o carinho de um companheiro podia curá-la. Era mesmo necessário ter uma alma para conseguir amar? Supunha que sim, já que não sentia essa emoção desde a sua morte efetiva décadas