O Treinador De Futebol. Marco Bruno

O Treinador De Futebol - Marco Bruno


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acontece que nas fases imediatamente sucessivas ao esforço, as estruturas orgânicas e musculares solicitadas para produzi-lo e para suportá-lo, não se limitam em superar a situação da fadiga com um retorno às condições de normalidade, mas têm uma reacção reconstrutiva que as leva para superar a situação precedente a estimulação.

      Estes momentos de super – compensação têm uma limitada duração e progressivamente volta-se à situação de normalidade. Torna-se necessário provocar outras situações de super – compensação antes que estejam completamente esgotadas às precedentes, provocar isto é um “somatório da acção treinada”

      (Matwejew, 1972).

      O repetir-se destas situações stressantes vai provocar a gradual adequação das capacidades atléticas, colocando o organismo em condições de superar cargas de trabalho com menores acumulações de fadiga, ou então de exprimir prestações cada vez mais elevadas. A super – compensação não deve ser entendida como um ponto de vista fisiológico mas apenas como melhoramento de acumulações de glicogénio.

      Mais grandes são os depósitos de glicose (reservas de glicogénio) no músculo do jogador, mais tarde lhe causará cansaço e mais demoradamente vai manter a capacidade de realizar um trabalho com altíssima intensidade. (Cogan Coyle, 1989).

      O elemento basilar da prestação futebolística no que diz respeito ao uso e ao consumo de energia, é a acção da corrida.

      Os especialistas preocupam-se de relevar “como” corre o jogador amador durante uma partida; em linhas gerais verificou-se que a tal corrida equivale cerca de 8.000 metros.

      Isto não representaria tão-pouco uma prestação atlética de nível médio, se referida exclusivamente ao tempo total do jogo (90ˈ).

      Uma análise cuidada da carga de trabalho, mostra que no âmbito desta distância são efectuados:

      – Arranques;

      – Paragens e travagens;

      – Mudanças de direcção;

      – Controles da bola;

      – Disputa com os adversários.

      Em outras palavras, a partida de futebol é um suceder-se de prestações diferentes para tipo de intensidade segundo o desenrolar do jogo e se verificam dentro dum determinado período de tempo. Qualquer combinação da prestação futebolística com aquelas de outras modalidades (ex: atletismo) é verdadeiramente arbitrário e errado. O jogador de futebol do ponto de vista atlético é para considerar-se apenas um jogador e basta. Os 8.000 metros de corrida do jogador estão assim repartidos:

      – Caminhada cerca de 20% .....................................(~1.600 metros);

      – Corrida lenta cerca de 35% .................................. (~2.800 metros);

      – Passada cerca de 25% ......................................... (~2.000 metros);

      – Sprint cerca de 15% ……………………………………………… (~1.200 metros);

      – Marcha atrás cerca de 5% ……………………………………… (~400 metros).

      Os médios normalmente percorrem distâncias superiores em relação aos defensores e atacantes. As qualidades de corrida e o tipo de passo varia muito de papel a papel e no mesmo papel em relação às características físico – atléticas e sobretudo naturais do jogador.

      As distâncias percorridas na máxima velocidade variam de ¾ metros até 25/30 metros, aquelas mais frequentes resultam ser de 10/15 metros e são repetidas 50/60 vezes.

      Considero interessante apresentar também os resultados de um estudo sobre as frequências cardíacas manifestadas pelos jogadores durante uma partia. Os valores registados demonstram que o jogador não é sujeito a tensões muito elevadas.

      Durante todo tempo duma partida foram relevadas as seguintes frequências de pulsação:

      Tais cifras induzem algumas considerações de carácter geral:

      1. Existem diferenças significativas entre as prestações médias dos vários jogadores;

      2. Com a excepção do defensor central todos os outros jogadores são submetidos à uma vasta gama de estímulos;

      3. Nos defensores e médios é prevalente o período de intensidade mínima, mas também o mais longo de intensidade máxima.

      Procuramos agora analisar como o movimento e o treino possam produzir mudanças no nosso corpo. Por cortesia descreverei separadamente os efeitos do movimento produzidos nos músculos, nas articulações, nos ossos, nos órgãos internos, na mente e também nas relações com os outros, mas é necessário ter presente que muitas vezes tais efeitos manifestam-se simultaneamente.

      EFEITOS NOS MÚSCULOS

      Os músculos são órgãos activos do movimento, são efectivamente constituídos por fibras que na presença de impulsos (comandos nervosos) contraem-se. O movimento produz nos músculos as seguintes transformações:

      1. Aumento do volume: o musculo, se deixado trabalhar intensamente para carregar pesos ou para vencer uma resistência, torna-se mais grosso e simultaneamente aumenta a sua força.

      2. Aumento da largura: o músculo mantém ou aumenta a sua largura por meio do trabalho contínuo a que é submetido, o alongamento muscular permite explorar em pleno a extensão articular.

      3. Aumento dos capilares: o musculo, empenhado num trabalho de moderada intensidade, mas de longa duração, aumenta a sua capilaridade ou melhor o numero de pequenos canais que fazem chegar o oxigénio (trazido pelo sangue) às fibras musculares. Consegue uma melhorada capacidade de fornecer outra vez de oxigénio: condição que permite ao musculo de resistir mais tempo à fadiga.

      4. Aumento das substâncias energéticas: o movimento permite o aumento das substâncias energéticas (glicogénio) necessário para a contracção muscular.

      5. Melhoramento da transmissão dos estímulos nervosos: o treino fica mais veloz e precisa da transmissão dos estímulos nervosos a partir do cérebro até aos músculos, melhorando desta forma a velocidade e a coordenação dos movimentos.

      EFEITOS NAS ARTICULAÇÕES

      As articulações constituem o sistema de “junção” do nosso corpo. Permitem o movimento de vários segmentos corporais. A articulação é constituída pela união de dois ossos cuja extremidade são chamadas cápsulas articulares. O movimento produz nas articulações as seguintes transformações:

      1. Manutenção da mobilidade fisiológica: a articulação para manter a sua mobilidade normal deve ser usada no máximo das suas possibilidades de movimentos.

      2. Aumento e recuperação da mobilidade: para que seja possível recuperar a mobilidade perdida e aumentar aquela possuída, é necessário utilizar formas particulares do treino e movimento.

      3. Fortalecimento das cápsulas articulares: a cápsula articular, formada por ligamentos e músculos, tem a tarefa de manter firmemente ligados as extremidades articulares e de impedir que as articulações fiquem fora do lugar e aconteçam distorções ou deslocações.

      EFEITOS NOS OSSOS

      Os ossos constituem a armação do nosso corpo, cumprem a tarefa de protecção (o crânio protege o cérebro, a coluna vertebral protege a medula) e contribuem, como órgãos passivos ao movimento, às deslocações do corpo e dos seus membros. O movimento produz nos ossos as seguintes transformações:

      1. Melhor nutrição: a aumentada circulação sanguínea, provocada pelo exercício físico, nutre melhor


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