O Homem À Beira-Mar. Jack Benton

O Homem À Beira-Mar - Jack Benton


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      Ele estava contando possíveis doses nos dedos quando percebeu que a maré ainda não estava baixa. Se algo realmente estivesse lá, as trilhas estariam visíveis na areia molhada.

      Slim passou por cima de uma barreira de metal enferrujado, correu pela margem rochosa e pela areia plana. Muito antes de chegar à beira da água, ele sabia que sua busca era inútil. A areia era lisa, pontuada apenas por linhas de ondulação deixadas pelo recuo da maré.

      Quando voltou ao carro, ele se convencera de que a figura que o observava da costa era fruto de sua imaginação.

      Afinal, o que mais poderia ser?

      9

      Na próxima sexta-feira, Ted repetiu seu ritual como sempre. Slim tinha considerado encontrar-se com Emma pela manhã e então trazê-la com ele para provar sua história, mas depois de uma noite perturbada por sonhos perversos de demônios marinhos e tempestades, ele mudou de ideia. Observando Ted do mesmo gramado que ele observara nas cinco semanas anteriores, ele se sentiu estranhamente redundante, como se tivesse batido forte em uma parede de tijolos e não tivesse para onde ir.

      Caminhando de volta para a praia depois que Ted fora embora, ele chutou os restos rosados de uma pá de plástico e decidiu que era hora de procurar mais um pouco.

      Ele imaginou que sábado e domingo fossem os dias em que a maioria das pessoas estaria em casa, então ele percorreu as ruas, batendo em portas e fazendo perguntas em seu novo disfarce familiar de documentarista falso. Poucas pessoas lhe cederiam algum tempo, e quando ele parou em três pubs de Carnwell para revisar o que havia aprendido até então, ele duvidou que estivesse no tipo de estado para fazer muito progresso.

      Ele estava cambaleando ao longo de uma última rua no extremo norte da cidade quando uma sirene deu um toque rápido para anunciar um carro da polícia parando atrás dele.

      Slim parou e se virou, apoiando-se em um poste de luz para recuperar o fôlego. Um policial abaixou a janela e acenou para Slim entrar.

      Com cinquenta e poucos anos, o homem tinha dez anos a mais que Slim, mas parecia em forma e saudável, o tipo de homem que comia cereais e suco de laranja no café da manhã e saía para correr na hora do almoço. Slim lembrou com carinho dos dias em que vira um homem assim olhando para ele, mas já fazia alguns anos desde que ele havia derrubado e quebrado o único espelho de seu apartamento, e ele nunca olhava muito para os reflexos, para evitar má sorte.

      O policial sorriu. "O que está acontecendo? Recebi três ligações hoje. O dobro da média semanal. Qual casa você está planejando roubar?"

      Slim suspirou. "Acho que, se tivesse que escolher, escolheria aquela verde da Billing Street. Número seis, eu acho? Marido no trabalho e ainda tem duas Mercedes na garagem? Você pode dizer só pelo som do ar-condicionado que a casa é um tesouro. Quero dizer, quem tem ar-condicionado no noroeste da Inglaterra? Eu já estaria lá, mas não gostaria de arriscar que o alarme logo atrás da porta tivesse uma ligação direta com a polícia."

      "E tem mesmo. Terry Easton é um advogado local."

      "Sanguessugas."

      "Você tem razão. Então, estou supondo, Sr..."

      "John Hardy. Me chame de Slim. É como todos me chamam."

      "Slim?"

      "Não pergunte. É uma longa história..."

      "Não seria apropriado. Então, suponho, Sr. Hardy, que você não está realmente interessado em mitos e lendas locais. O que você é, agente à paisana da Scotland Yard?"

      "Quem dera. Inteligência militar, dispensado. Ataquei um homem que não estava realmente transando com minha esposa. Cumpri minha pena, saí com um conjunto de habilidades pré-adquiridas e um problema com álcool esperando para acontecer."

      "E agora?"

      "Investigador particular. Trabalho principalmente nos arredores de Manchester. A fome me trouxe tão ao norte." Ele deu um tapinha no estômago. "Não se deixe enganar. É só cerveja e água."

      Como se não tivesse certeza de onde Slim separava a verdade do humor, o homem deu um meio sorriso. "Bom, Hardy, meu nome é Arthur Davis. Sou o inspetor-chefe da nossa pequena polícia aqui em Carnwell, embora com o tamanho da nossa força eu mal mereça o título. Acredito que tentou me contatar sobre um caso arquivado. Joanna Bramwell?"

      "É assim que você costuma retornar chamadas?"

      Arthur riu, um barítono que fez os ouvidos de Slim tremerem. "Eu estava indo para casa. Pensei em procurar por você. Agora, você quer dizer do que se trata? Ben Orland é um velho amigo, que é a única razão pela qual eu considerei falar com você. Há casos arquivados, e há o caso de Joanna Bramwell. É um que esta comunidade sempre esteve feliz em manter enterrado."

      "Algum motivo especial?"

      "O que você quer saber?"

      Sem perguntar, Arthur tinha entrado em um Drive-through do McDonald's e presenteou Slim com uma xícara fumegante de café preto.

      "Eu tomo com três açúcares," disse Arthur, rasgando um sachê. "E você?"

      Slim deu-lhe um sorriso cansado. "Uma dose de Bells se eu tivesse uma a mão," disse ele. "Mas vou tomar puro. Fica mais forte."

      Arthur parou em uma vaga de estacionamento livre e desligou o motor. Sob a luz do poste mais próximo, o rosto do chefe de polícia era como a superfície da lua, uma série de crateras sombreadas.

      "Eu vou te dizer diretamente que você deve esquecer esse caso," disse Arthur, tomando seu café, olhando em frente para as grades que os separavam de uma rotatória. "O caso Joanna Bramwell destruiu um dos melhores policiais que Carnwell já teve. Mick Temple foi meu primeiro mentor. Ele liderou o caso, mas se aposentou logo depois, com apenas 53 anos. Enforcou-se um ano depois."

      Slim franziu a testa. "Tudo por causa de uma garota morta na praia?"

      "Você é um militar," disse Arthur. Slim assentiu com a cabeça. "Eu acho que você já viu coisas sobre as quais não gosta de falar muito. A menos que você tenha bebido, e nesse caso você não fala sobre outra coisa?"

      Slim olhou as luzes embaçadas dos carros passando pela estrada. "Uma explosão," ele murmurou. "Um par de botas e um chapéu jogados na poeira. Todo o resto... desaparecido."

      Arthur ficou em silêncio por alguns segundos como se digerisse essa informação e lhe desse um período de respeito habitual. Slim não falava de seu antigo líder de pelotão há 20 anos. Bill Allen não tinha desaparecido completamente, é claro. Encontraram pedaços dele mais tarde.

      "Mick sempre disse que ela voltava," disse Arthur. "Eles a encontraram deitada no alto da costa, como se levada para lá por uma onda estranha. Você esteve na Enseada Cramer, eu suponho? Ela estava 30 metros acima da linha da maré de primavera. Não tinha como Joanna ter chegado lá a menos que alguém tivesse arrastado ela.

      "Ou ela rastejou até lá."

      Arthur colocou a mão na cabeça como se tentasse expulsar o pensamento de sua mente.

      "O relatório oficial afirmou que os dois passeadores de cães que a encontraram deviam tê-la movido, para mantê-la longe da maré, mas ambos eram moradores locais. Eles saberiam que a maré estava diminuindo."

      "Mas ela estava morta?"

      "Sim. Com exame do legista e tudo mais. Oficialmente, ela se afogou. Eles a colocaram no necrotério e depois a enterraram."

      "Só isso? Não teve investigação?"

      "Nós não tínhamos nada para investigar. Nenhum indício que fosse outra coisa além de um acidente. Sem testemunhas, nada circunstancial. Foi um acidente, isso era tudo."

      Slim sorriu. "Então por que você chamou de caso


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