O Homem À Beira-Mar. Jack Benton
melhor quando o cliente contava tudo antes dele pedir. Fazia a língua, frequentemente uma fera tão arredia, se tornar uma companheira voluntária.
"Lhe ofereceram um trabalho, ele disse. Eu estava feliz em Leeds. Eu tinha meu trabalho de meio expediente, amigos, meus clubes. Não sei porque ele quis voltar. Quero dizer, seus pais já se foram e sua irmã mora em Londres-não que ele ligue para ela -então não é como se ele tivesse algum laço aqui. Quer dizer, nós fomos casados vinte e sete anos, e ele só me trouxe a este lugar algumas vezes, a caminho de outro lugar mais interessante. Tá, teve aquela vez que paramos para comer chips, mas eles realmente não eram bons; secos demais..."
"E seu marido, trabalha em um banco?"
"Já lhe contei isso antes. Investimento. Ele passa o tempo todo afundado no dinheiro dos outros. Quer dizer, é uma existência enfadonha, não é? Mas nem sempre dá pra ganhar a vida fazendo o que queremos não é, Sr. Hardy?"
"Verdade."
"Quer dizer, se desse, eu seria paga para beber vinho do Porto no almoço."
Slim sorriu. Talvez tivesse encontrado uma alma gêmea afinal de contas. Emma Douglas era pelo menos dez anos mais velha do que ele, mas ela tinha se cuidado de tal forma que mulheres com cartão de membro de academia e tempo livre em excesso não conseguiam. No interesse de fechar o caso, ele percebeu que, com uma bebida ou duas, ele faria o que fosse necessário para manter as línguas soltas.
E pro inferno com a moral.
"E o histórico do seu marido… ele sempre trabalhou com finanças?"
Emma deu uma bufada. "Oh, Deus, não. Ele tentou de tudo, eu acho, depois de se formar. Mas não se ganha muito com besteiras como poesia, não é?"
Slim levantou uma sobrancelha "Seu marido era poeta?"
Emma fez um gesto desdenhoso. "Oh, ele gostava dessas coisas. Ele estudou os clássicos. Sabe, Shakespeare?"
Slim permitiu-se não se ofender. "Conheço alguns títulos," ele disse, escondendo um sorriso.
"Sim, Ted amava esse tipo de coisa. Era um verdadeiro hippie no final da década de setenta. Tentou poesia, teatro, esse tipo de coisa. Ele se formou em 82, e trabalhou por um tempo como professor de inglês substituto. Não é algo que paga as contas, é? É legal quando você é jovem se dedicar a isso tudo, mas não é algo para fazer a longo-prazo. Um amigo arrumou-lhe um trabalho no banco logo depois que nos casamos, e eu acho que ele achou a renda bem viciante, como se esperaria."
Slim assentiu lentamente. Ele estava traçando um perfil de Emma tanto quanto de Ted. O romântico reprimido, preso em uma vida baseada no dinheiro, com uma esposa troféu materialista colada em seu braço, sonhando com os velhos tempos, de poesia, liberdade, e talvez praias e antigas amantes.
"Ted fala muito sobre os velhos tempos? Digo, antes de vocês se casarem?
Emma deu de ombros. "Ele falava, às vezes. Quer dizer, eu nunca quis ouvir sobre velhas amantes ou algo assim, mas ele falava sobre sua infância de vez em quando. Menos conforme os anos passaram. Quer dizer, nenhum casamento fica como era, não é? As pessoas não conversam como antes. Não foi assim com você?"
"Comigo?"
"Você me disse que foi casado, não disse?"
Às vezes, pintar-se como vítima fazia as pessoas se abrirem, e ele precisava que Emma sentisse algum companheirismo antes de perguntar as próximas perguntas, mais difíceis.
"Nove anos," ele disse. "Nos encontramos quando eu estava de licença depois da primeira guerra do Golfo. Eu estive nas barracas a maior parte do tempo durante nosso casamento. Charlotte se juntou a mim nas primeiras bases, quando eu estava na Alemanha. Mas ela não curtiu o Egito, ou mais tarde, o Iêmen. Ela preferiu ficar na Inglaterra e "cuidar da casa", como ela disse."
Emma colocou a mão no joelho dele. "Mas o que ela estava realmente fazendo era assumir o controle de suas finanças e levar outros homens para sua cama?"
Se a escolha das palavras fosse dele, Slim, que assistia muito menos novelas do que era claro que Emma fazia, teria dito de forma diferente, mas ela não estava totalmente errada.
"Foi mais ou menos por aí," disse ele. "Ela estava feliz até que um ferimento caçando piratas no Golfo Persa me fez ser transferido à inteligência militar no Reino Unido. Então eu poderia ir para casa nos fins de semana. Passou um mês até que ela fugiu."
"Com o açougueiro?"
Slim sorriu. "Eu lhe contei sobre isso? Sim, com o açougueiro. Sr. Staples. Eu nunca soube seu primeiro nome. Eu só descobri mais tarde. Ela flertava com um colega que avisou que se mudaria para Sheffield. Eu juntei as peças e me ferrei."
"Coitado." Emma deu um tapinha no joelho dele, e depois deu um leve aperto. Slim tentou ignorá-la.
"As coisas são como são. Não sinto falta do exército nem um pouco. A vida é muito mais interessante como investigador particular, sobrevivendo de pagamento em pagamento.
"Bem, fico feliz," disse Emma, sem perceber a dose pesada de sarcasmo de Slim.
"As coisas pioraram," continuou Slim, indo para o golpe final que os selaria na posição de amigos de piedade para sempre. "Ela mexeu alguns pauzinhos, legalmente falando, quando eu estava servindo. Ela pediu o divórcio e eu descobri que a casa que eu estava pagando agora estava apenas no nome dela. Ela alegou que era uma propriedade pré-existente que ela já tinha antes do nosso casamento. Ela arrumou alguém para ajustar algumas datas em documentos legais e eu perdi tudo. E ela estava grávida, o que lhe dava vantagem. Isso depois de abortar nosso primeiro filho enquanto eu estava na ativa, porque ela não queria que o bebê crescesse sem pai.
"O segundo filho era seu?"
Slim riu. "Claro que não. Não estivemos próximos em anos. Eu presumo que fosse do açougueiro, como o resto da minha vida."
"Oh, isso é horrível." Emma estava acariciando a coxa de Slim, mas ele, com as mãos ainda enfiadas nos bolsos, ignorou. Em vez disso, ele encolheu os ombros. "Uma dessas coisas," disse ele.
"Deve ter sido de partir o coração."
Slim fechou os olhos por um momento, lembrando de um par de botas na areia. "Já vi piores," disse ele.
Emma ficou em silêncio por um momento, franzindo a testa enquanto olhava para a estrada, a mão ainda subindo e descendo pela coxa de Slim como se tentasse aquecê-lo contra o frio.
"Posso te fazer uma pergunta pessoal?" Slim disse.
"Quão pessoal?"
"Este seria o primeiro caso de Ted?"
Emma retirou a mão e pareceu surpresa. "Hum, bem, eu acredito que sim. Quer dizer, eu não tenho certeza, mas ele sempre foi um bom marido."
"E você?"
"O quê?"
"Eu sinto muito por lhe perguntar isso, Sra. Douglas, mas já teve algum caso?"
Emma se afastou dele. O espaço vazio entre eles no banco olhava para Slim como uma criança de olhos arregalados.
"O que isso tem a ver?" Emma levantou-se e recuou. "Olha, Sr. Hardy, acho que está na hora de rescindir nosso contrato. Você não me deu nada de útil e agora está me fazendo perguntas assim. Eu não sou uma esposa solitária que você pode simplesmente -"
"Ted alguma vez mostrou algum interesse no oculto?" Slim interrompeu.
Emma olhou para ele, de boca aberta, em seguida, balançou a cabeça. "Eu nunca deveria ter contratado você," ela surtou. "Eu vou descobrir o que está acontecendo sozinha."
Sem mais uma palavra, ela foi embora, deixando Slim sentado sozinho no banco, com os dedos acariciando o lugar quente que sua mão havia deixado em sua coxa.
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