A amante do italiano. Diana Hamilton

A amante do italiano - Diana Hamilton


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misteriosos e de cinzento ardósia, rodeados de pestanas escuras. Os pómulos orgulhosos e o distinto nariz, não muito em conformidade com a erotismo selvagem da sua boca, tornavam-no tão atraente que o coração de Bianca estremeceu.

      A afirmação de Cesare, de que podia resolver sem esforço os problemas dos simples mortais, provocou em Bianca uma reacção quase histérica, acentuando o nó que tinha na garganta. Não se tratava do seu dinheiro ou posição, mas sim da sua virilidade absoluta, do dinamismo da sua personalidade.

      – Não posso – conseguiu responder Bianda. Sentia os lábios secos e os olhos ainda presos no encanto do seu olhar.

      – Porquê? Pensei que estava tudo resolvido – acariciou-lhe o queixo com ternura. Inclinando ligeiramente a cabeça.

      O prelúdio de um beijo? Não estava disposta a correr esse risco.

      Retirou a cabeça, respirando angustiada. Não podia negar que desejava ficar, ele atraía-a como a chama atrai as borboletas, que apesar de sentirem o calor nas antenas, não compreendem o perigo até ser demasiado tarde.

      Cravando as unhas na pele suave da sua mala, organizou a frase que, uma vez pronunciada, seria definitiva.

      Ele aceitaria as suas palavras com um certo ar de cortesia, porque era demasiado orgulhoso para lhe pedir para reconsiderar e quando falasse tudo estaria terminado, não haveria retorno.

      Bianca inspirou para acalmar, endireitou os ombros e humedeceu ligeiramente os lábios, que estavam frios e secos.

      – Acabou, Cesare, não quero que nos vejamos mais e é tudo – esta frase concisa, permitia-lhe conservar algum amor próprio, e evitava que terminasse com o coração despedaçado mas precisou de toda a sua determinação para a pronunciar. Foi como se lhe tivessem arrancado as palavras, que caíram como pedras, num ambiente ainda mais carregado.

      Agora, a tensão provinha dele. O seu queixo robusto endureceu subtilmente e algo tremeu na profundidade dos seus enigmáticos olhos. Levantou a cabeça, acentuando o seu poderoso metro e noventa e Bianca não conseguiu evitar um ligeiro calafrio.

      Cesare cerrou os dentes, tentando deter o violento enjoo que o destroçava por dentro. Precisou de toda a sua força para não a abraçar e beijar até ela retirar as suas palavras.

      Não o podia abandonar. Ele não a deixaria fazê-lo!

      Respirou profundamente. Fechou os olhos um instante antes de se absorver no rosto dela. Linda, tudo nela tinha um toque exótico: a pele suave, o cabelo sedoso, boca suculenta e enormes olhos cor de âmbar…. e aquele corpo esbelto de curvas perfeitas, que se desenhavam por baixo da seda dourada.

      Bianca não conseguia esconder o tremor dos seus lábios, mas nos seus olhos brilhava a determinação. Cesare podia beijar e acariciar os seus ombros, os seus redondos e tentadores seios… acender uma paixão inevitável, mas não havia nada que a fizesse mudar de ideias.

      Durante as últimas semanas, teve uma estranha sensação de intranquilidade, pelo rumo que a relação deles estava a tomar. Bianca recusava mudar-se e ir para junto dele, recusava com um olhar ferido os presentes que lhe deveriam proporcionar prazer, não o convidou para ir a casa dela uma só vez, e respondia com evasivas quando lhe fazia perguntas sobre a família, a infância ou sobre os seus planos de futuro.

      Conhecia-a tão pouco como no primeiro dia em que a viu ou quando soube, com uma urgência avassaladora, de que a queria ter na sua cama.

      Contrariamente ao que as pessoas murmuravam, não tivera tantas amantes como lhe atribuíam, e quando o inevitável momento da separação chegava, tudo se passava sem rancor nem dor para ambos.

      – Era o seu mistério que a tornava diferente? Não sabia, apenas sabia que nunca antes se sentira assim, inseguro, indeciso e invadido por um doloroso desejo.

      Venceu a tentação de se aproximar dela e de lhe tocar, de evocar a magia que tornaria a fazê-la sua uma vez mais e, enfiando as mãos nos bolsos das estreitas calças pretas, disse num impulso:

      – Casa comigo, Bianca.

      Capítulo 2

      Casar com ele!

      Bianca ficara petrificada pela emoção, apenas sentia o frenético bater do coração a golpear-lhe as costelas. O aparecimento de Denton, o mordomo de Cesare, conseguiu despertá-la do seu sonho de uma vida inteira com Cesare, e trazendo-a de volta à dura realidade

      – O seu táxi chegou, menina Jay.

      Estas cinco palavras com sotaque meridional, bastaram para a desoprimir e fortalecer a sua determinação, conseguindo superar a sensação de inércia. Virou a sua atenção para o rosto familiar e impassível de Denton, forçou um pálido sorriso e uma palavra de agradecimento, e virando-se para Cesare, sem o olhar nos olhos, pronunciou uma única palavra: «adeus».

      Saiu da sala com o coração angustiado, deixando para trás o homem que amava apaixonada e irracionalmente. Foi-se embora, ignorando a proposta de casamento, como se nem sequer merecesse a sua consideração, como se fosse o insulto que punha o ponto final.

      O taxi avançava lentamente até Hampstead, no meio do tráfego do fim de tarde. Bianca cobriu os olhos com as mãos, tentando acalmar a sensação de ardor. Não ia chorar, não se daria a esse luxo e, pensar na surpreendente proposta de casamento, também não era boa ideia, apenas conseguiria piorar as coisas.

      A última coisa que Cesare queria era uma relação estável, tinha-o deixado bem explícito, não?

      Então, a que propósito vinha a disparatada proposta?

      Tremendo e sentindo-se enjoada, obrigou-se a analisar os factos, a encontrar uma resposta a essa pergunta. Ainda não estava farto das noites de paixão ardente, considerou. Cesare desejava-a fisicamente, embora talvez porque foram poucos os momentos de intimidade, por um lado, as suas viagens ao estrangeiro, por outro, porque ela se recusara a mudar-se para casa dele e, quando passavam a noite juntos, ela saía sozinha ao amanhecer, para voltar à casa que partilhava com a sua mãe.

      Por essa razão, não podiam partilhar o tempo que desejavam e, inevitavelmente, tiveram de renunciar aos melhores momentos. Na relação deles não existia nada rotineiro nem previsível, por isso Cesare não se cansara dela.

      Esta devia ser a explicação de tão surpreendente proposta. Queria prendê-la legalmente, até se cansar dela. Era habitual nos sofisticados círculos em que ele se movia e o resultado era sempre desolador, como Bianca sabia.

      «Acabou», repreendeu-se categórica, quando o taxi entrou na sua rua. Fizera o que era correcto e sensato. Tinha de esquecer Cesare Andriotti, esquecer o breve romance que começara a significar demasiado para ela e concentrar-se nos problemas do seu futuro imediato.

      Bianca pagou ao taxista e continuou, por mais um instante, na noite morna de finais de Maio, preparando-se para entrar em casa.

      Devia deixar a sua angústia de lado, armar-se com o amor que devia à mãe. Agradeceu mentalmente a colaboração que lhe dera a tia Janne, pois sem a sua ajuda não podia ter estado presente no jantar de aniversário de Claudia, no qual tomara a decisão definitiva de pôr fim ao seu romance com Cesare. Mais a mais, se Jeanne não se tivesse oferecido para cuidar da irmã, a mãe de Bianca, ela teria de pedir à sua chefe uma licença por tempo indeterminado, até os problemas da mãe se resolverem.

      Com um suspiro, voltou-se para a casa que teriam de abandonar dentro de pouco tempo.

      Uma escadaria levava até à senhorial porta branca, os vasos vazios, que devia ter plantado há semanas, não ofuscavam os cortinados elegantes das janelas. A elegante fachada dava uma imagem de decoro, mas não escondia precisamente isso.

      Como para reforçar os seus irónicos pensamentos, a porta abriu-se rapidamente e um jovem moreno, apenas vestindo uns boxers e uma camisola interior, caiu ou tropeçou pelas escadas, seguido de diversas peças de roupa e das imprecações da sua mãe.

      –


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