Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro. Margaret Moore

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uma peça de roupa, e por isso recusara a oferta de Alda para a ajudar. Dali em diante, daria mais valor ao trabalho das criadas. Não obstante, recebera aquela incumbência, e realizá-la-ia com a mesma perfeição com que o barão administrava a sua propriedade.

      De facto, Gabriella aguardara com ansiedade o momento de lavar a vestimenta. Durante toda a noite, aquela túnica ficara ao pé da sua cama, um lembrete constante do seu confronto com o barão e do momento assustador em que ele a tirara. Quanto mais cedo ela a lavasse e a devolvesse, melhor.

      Segurando a túnica com firmeza, Gabriella apertou os lábios enquanto torcia uma outra parte com toda a força. Durante um momento, imaginou como seria gratificante se tivesse entre as mãos o pescoço do barão, em vez da roupa dele.

      – Milady!

      Gabriella olhou para trás para se deparar com Chalfront. Ele esfregava o rosto nervosamente com uma mão, e olhava ao redor como se esperasse um desastre iminente. Tal expressão, no entanto, era comum no meirinho, e por isso Gabriella voltou a atenção para a sua tarefa.

      – O que é que queres, Robert?

      – Eu... queria dizer-lhe que... estou contente por ele não a ter maltratado.

      – Está bem. Já disseste, portanto podes-te ir embora.

      – Gabriella! – protestou Chalfront, agachando-se ao lado dela.

      Como Gabriella gostaria de dizer ao meirinho que ele não tinha o direito de chamá-la pelo primeiro nome! O problema era que, agora, ela era uma serva, e ele encontrava-se em posição superior. A consciência desse facto era quase tão perturbadora quanto qualquer coisa que o barão dissera ou fizera.

      – Preciso de falar contigo – disse Chalfront. – Estou à tua procura desde cedo. Quero ter a certeza de que o barão não... te tratará mal.

      – E o que é que farias, se ele me tratasse mal?

      – Eu defender-te-ia, é claro!

      – Como fizeste ontem à noite, quando ele me mandou subir para o quarto? – investiu Gabriella, sarcástica. – Ele não me fez nada. Só me entregou isto para lavar. E é o que estou a fazer. Agora, vai-te embora, Robert, e deixa-me concluir o meu trabalho. O barão não precisa que lá vás limpar os lábios dele, ou puxares-lhe a cadeira para ele se sentar?

      Robert Chalfront segurou o braço de Gabriella e pôs-se de pé, puxando-a consigo.

      – Tu precisas, e vais ouvir-me! – gritou, irritado.

      – Tira as tuas mãos de cima de mim – ordenou ela.

      – Tu já não és a senhora do castelo, Gabriella, e vais ouvir o que tenho para te dizer – insistiu ele, apertando-lhe o braço com mais força. – Quero que me prestes atenção. A mim! Pelo menos, uma vez na vida, Gabriella!

      Gabriella nunca vira Robert tão zangado e, por um momento, sentiu medo dele.

      – Tu estás a magoar-me.

      Chalfront mostrou-se imediatamente consternado.

      – Por que é que não te casas comigo? – perguntou, com os olhos semicerrados. – Eu poderia pagar a tua dívida, e nunca mais terias de lavar nada.

      – Eu não te amo, Robert. Jamais te poderia amar – declarou Gabriella, com firmeza. Custava-lhe acreditar que ele não entendesse. A persistência de Robert era enervante. Ela deixara claros os seus sentimentos, ou melhor, a ausência deles, na primeira vez em que ele lhe fizera aquela proposta, e na segunda, e na terceira, e em todas as outras.

      – Mas porquê?

      Gabriella segurou a túnica com as duas mãos contra o peito.

      – Pela última vez, Robert, eu não me vou casar contigo. Eu preferiria casar-me com o barão DeGuerre! – investiu, citando o exemplo mais ultrajante que lhe veio à mente.

      O estratagema surtiu efeito. O brilho de esperança desapareceu dos olhos de Chalfront e, embora Gabriella não ficasse feliz com a desilusão dele, não podia deixar de se sentir aliviada.

      O meirinho suspirou.

      – Tu não precisavas de me teres colocado em risco, com as tuas acusações falsas.

      – Acusações falsas?

      – O barão não confia em mim, e não há razão para isso.

      – Tu levaste o meu pai à ruína e ao túmulo!

      – Ainda acreditas nisso, Gabriella? – indagou Chalfront, inconformado. – Eu fiz tudo o que podia para o ajudar! Mas ele não me ouvia! Até usei o meu próprio dinheiro para tentar pagar as últimas dívidas dele!

      Chalfront já lhe dissera aquilo, na primeira vez em que abordara o assunto do casamento. Na ocasião, ela pensara que ele só estava a querer persuadi-la a aceitar a proposta. No entanto, agora, quando ele parecia finalmente compreender que não tinha mais nada a ganhar, ainda mantinha o que, para ela, parecia impossível, embora houvesse nas palavras dele um cunho de verdade difícil de negar.

      – Por que é que tu farias isso? – perguntou Gabriella, notando que as mulheres os observavam atentamente.

      – Por ti – murmurou Robert, suavemente, olhando para ela com os olhos tristes e suplicantes como os de um cão. – Pela alegria de saber que, com isso, eu te estaria a ajudar, e para ouvir uma palavra gentil dos teus lábios.

      – Tu... devias ter pedido ao meu pai que aumentasse as rendas.

      – Eu amo-te, Gabriella. Eu faria qualquer coisa por ti, nem que fosse apenas para ouvir uma palavra gentil... Eu tinha esperança que tu te sentisses grata...

      – Ora, ora, ora, que cena tão comovente é esta?

      Gabriella e Robert olharam abruptamente para trás para ver Philippe de Varenne a aproximar-se. Com o cabelo negro lustroso, as vestes pretas e os olhos estreitos, ele fazia lembrar a Gabriella um falcão pronto para atacar a sua presa. Ela abraçou a túnica com mais força, contra o peito. Chalfront, pálido e ofegante, parecia seriamente decidido a sair a correr.

      – Que história é esta de abordar as criadas, Chalfront? – exigiu Varenne, arrogante.

      – Sir, eu... eu... – Chalfront começou a gaguejar.

      – Não há nenhuma outra intenção, penso eu, além de tentares seduzi-la, não é?

      Gabriella nunca sentira tanta vontade de esbofetear o rosto de um homem, em toda a sua vida. Nem o do barão, pois ele não olhara para ela com aquela lascívia e impertinência, mesmo quando a segurara nos braços.

      – Mi... lorde! Sir! Não é nada disso...

      – Ele não estava a tentar seduzir-me – interveio Gabriella.

      – Não? Pois a mim pareceu-me bastante determinado. Sugiro que saias daqui, Chalfront. Acho que o barão anda à tua procura.

      Chalfront olhou de Philippe de Varenne para Gabriella, e novamente para Philippe, antes de inclinar a cabeça e de se afastar, apressado.

      – Se ele a importunar, avise-me – murmurou Philippe, com um ar condescendente.

      Gabriella tinha vontade de dizer a Philippe que ele a importunava muito mais do que Chalfront.

      – Se me dá licença, sir, preciso de trabalhar.

      – Posso ver que sim – retorquiu Philippe, tirando-lhe a túnica das mãos e segurando-a com o braço esticado. – Tu agora és lavadeira?

      Gabriella não respondeu, enquanto tremia de frio por causa do vestido molhado.

      Philippe olhou para ela de cima a baixo, e, subitamente, Gabriella deu-se conta de que as suas roupas molhadas estavam coladas ao corpo, delineando-lhe curvas e detalhes que ela preferia esconder. Ela cruzou os braços sobre o peito, para se abrigar do frio e do olhar repulsivo de Philippe.

      – Com licença,


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