A herdeira e o amor. Lynne Graham
com as histórias lacrimogéneas.
Alissandru nunca fora tão tolo. Gostava de mulheres, mas elas amavam-no e perseguiam-no como uma raça rara porque era rico e solteiro. Quando era mais jovem, ouvira muitas histórias lacrimogéneas e, algumas vezes, levado pela inexperiência, caíra na armadilha, mas já há anos que não era tão ingénuo ou imprudente. Escolhia as suas amantes entre mulheres do seu estrato social. As mulheres com dinheiro próprio ou carreiras muito exigentes eram a melhor aposta para o tipo de aventuras passageiras em que se especializou. Compreendiam que não estava pronto para criar raízes e praticavam a mesma discrição que ele.
– Sabendo o que pensavas da Tania, não é de estranhar que o Paulu não te dissesse – comentou a mãe, com gentileza. – O que vais fazer?
– Comprar a casa do Paulu. Que outra coisa posso fazer? – perguntou Alissandru.
Encolheu os ombros com raiva devido à perspetiva de ter de enriquecer outra mulher Stewart. Quantas vezes pagara as dívidas de Tania para proteger o irmão das exigências insaciáveis da esposa? Mas que outra coisa podia fazer? Tania estava morta e enterrada e a irmã nem sequer se incomodara em ir ao funeral. Todas as tentativas de a contactar na sua última morada conhecida tinham sido infrutíferas. Isso já dizia tudo sobre o vínculo fraco que havia entre as irmãs, não era?
– Temos de encontrar a maninha da Tania – disse, num tom leve de ameaça.
Isla soprou para os dedos congelados. O vento arrefecia-lhe o rosto por baixo do gorro enquanto dava rapidamente de comer às galinhas e apanhava os ovos. Pensou, corajosa, que teria de fazer confeitaria para os gastar e, depois, sentiu-se culpada por pensar assim quando a única irmã e o cunhado estavam mortos.
E, pior ainda, ela não teria sabido o que acontecera se não fosse porque um vizinho amável fora à casa na semana anterior para lhe dar a trágica notícia pessoalmente. Os tios, os donos da quinta nas Terras Altas da Escócia em que Isla estava, tinham ido visitar a família da tia na Nova Zelândia, tinham lido na Internet a notícia das mortes de Tania e Paulu num acidente de helicóptero e tinham ligado imediatamente para os vizinhos para que perguntassem a Isla se queria que voltassem para casa para que ela pudesse viajar para Itália.
Porém, que sentido teria essa viagem se já perdera os funerais? Era muito triste nunca ter chegado a conhecer a própria irmã. Tinham sido criadas separadas e Tania era dez anos mais velha. Isla fora a filha não planeada e não muito bem-vinda, uma chegada tardia depois da morte prematura do pai. A mãe, Morag, que fazia o que podia para sobreviver, fora para Londres com Tania para procurar trabalho e deixara Isla ao cuidado da avó até que pudesse reunir-se com elas.
Infelizmente, essa reunião nunca acontecera. Isla crescera na mesma quinta das Terras Altas onde a mãe fora criada com os avós e estes tinham sido os seus verdadeiros pais para todos os efeitos. Morag ia lá de vez em quando no Natal e Isla tinha lembranças vagas de uma mulher de rosto suave e cabelo avermelhado encaracolado, como o dela, e de uma irmã loira muito mais alta que, já em adolescente, se transformara numa beleza clássica. Tania saíra de casa muito cedo para ser modelo e a mãe de Isla morrera não muito depois de uma doença renal de que padecia há muito tempo. De facto, a primeira vez que Isla comunicara diretamente com a irmã fora quando ligara para a quinta para a convidar para o seu casamento na Sicília.
A rapariga odiara que não convidasse também os seus avós, mas os idosos tinham insistido que fosse porque Tania se oferecia generosamente para lhe pagar a viagem. Como eram pessoas justas, também a tinham feito ver que Tania nunca tivera a oportunidade de conhecer nenhum deles e que, embora fossem parentes de sangue, na verdade, eram quase estranhos.
Isla ainda sentia vergonha ao recordar como se sentira deslocada naquele casamento luxuoso e cheio de convidados importantes e ricos e na experiência desagradável que tivera ao ver-se perseguida por um predador. Contudo, o pior de tudo fora que a ligação desejada com a única irmã não acontecera. Na verdade, a atitude que Tania tinha na vida escandalizara-a.
– Não, podes agradecer o convite ao Paulu – declarara Tania. – Disse que tinha de haver algum membro da minha família presente e pensei que uma adolescente era muito melhor do que os velhos aborrecidos da quinta de quem a mãe falava. Este casamento significa uma promoção social para mim e não quero que parentes pobres com sotaque escocês do campo diminuam o meu estatuto à frente dos nossos convidados.
Isla tentara não a julgar e decidira que a irmã se mostrava tão franca porque tivera uma educação liberal e muito menos antiquada do que a dela.
– Essa rapariga era desenfreada – dissera a avó, uma vez. – A tua mãe não conseguia controlá-la nem nunca era capaz de lhe dar tudo o que queria.
– Mas o que é que a Tania queria? – perguntara Isla, dececionada porque, depois do casamento, não houvera nenhuma menção de as irmãs voltarem a encontrar-se.
– O único sonho que teve foi ser rica e famosa. – A avó rira-se. – E, a julgar pelo casamento que descreveste, parece que essa carinha bonita lhe conseguiu o que queria.
No entanto, aquilo não era verdade. Isla recordou o seu encontro seguinte com a irmã vários anos depois, quando ela também se mudara para Londres. Os avós tinham morrido com poucas semanas de diferença e o tio encarregara-se da quinta. Pedira-lhe que ficasse com eles, mas, depois de ter passado meses a ajudar a avó a cuidar do avô doente e ainda muito triste com a perda de ambos, Isla considerara que tinha de sair da sua zona de conforto na quinta e procurar independência.
– O Paulu enganou-me – insistira Tania, com desdém, depois de anunciar que abandonara o marido e o lar conjugal. – Não pode dar-me o que prometeu. Não tem dinheiro suficiente.
E, pouco depois disso, Paulu fora visitar Isla no seu quarto humilde para lhe pedir conselho sobre a irmã irascível. Parecera-lhe um homem encantador, muito apaixonado por Tania e desesperado por fazer o que fosse preciso para a recuperar. Os olhos encheram-se de lágrimas ao pensar que, pelo menos, Paulu conseguira voltar para o amor da sua vida antes da morte de ambos. Recuperara essa felicidade antes de o destino ceifar brutalmente as suas vidas antes de tempo. Gostava de Paulu. De facto, começara a conhecê-lo muito melhor do que conhecia a própria irmã.
Seguira o seu conselho sobre como recuperar o interesse de Tania? Nunca saberia.
Alimentou o fogo que havia na cozinha confortável da quinta e tirou a roupa da rua com alívio. Adorava estar na quinta, mas sentia a falta da vida social com os seus amigos da cidade. Viver onde crescera significava que até ir ao cinema em Oban exigia planeamento e um percurso longo de automóvel. Contudo, dentro de mais algumas semanas, voltaria ao sul depois de cumprir a promessa feita aos seus tios. Eram encantadores, mas não tinham filhos e só podiam recorrer a ela para que tomasse conta da quinta. Há mais de vinte anos que a tia não ia à Nova Zelândia e Isla alegrara-se por a ajudar a realizar esse sonho, sobretudo, porque o pedido chegara no momento em que fechava o café onde trabalhava como empregada de mesa e a renda do seu quarto aumentava.
As ovelhas e galinhas dos tios não podiam cuidar delas próprias e muito menos no inverno ou quando se esperava mau tempo. Com nervosismo, olhou para o céu cinzento: Tinham anunciado nevadas fortes.
Sorriu quando viu o Puggle, o seu cão, a acomodar ousadamente o corpo pequeno ao lado do Shep, o pastor escocês velho e cada vez mais surdo do tio que o ajudara com as ovelhas. O Puggle adorava o calor, mas o bichinho era a aquisição menos prática que Isla alguma vez fizera. Certamente, tinham-no abandonado numa estrada próxima, pois aparecera a tremer e faminto na semana da chegada de Isla e ela não sabia como ia poder ficar com ele quando voltasse para Londres. Porém, com a sua forma de abanar a cauda, os seus olhos enormes e as suas orelhas ridiculamente grandes, já conseguira encontrar um espaço no seu coração. Tinha uma mistura de raças, com um toque de chihuahua e caniche porque tinha um pelo muito encaracolado atrás das orelhas, mas também tinha patas muito curtas e umas manchas irregulares, estranhas, brancas e pretas. Infelizmente, parecia que ninguém o procurava, porque avisara as autoridades e não tivera notícias.
Franziu o sobrolho ao ouvir o som forte de um helicóptero,