A herdeira e o amor. Lynne Graham

A herdeira e o amor - Lynne Graham


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preparava uma chávena de chá, assustou-a que o Puggle começasse a ladrar, segundos antes de alguém bater com força na porta de madeira maciça da casa.

      Presumiu que seria o vizinho mais próximo do tio que, amavelmente, tentava tomar conta dela. Foi abrir a porta, mas chegou-se para trás, surpreendida.

      Era Alissandru, o irmão gémeo de Paulu, o homem incrivelmente sensual e atraente que a deixara sem palavras da primeira vez que o vira quando era uma adolescente ingénua. Era inconcebível que estivesse à porta da quinta, com o cabelo preto despenteado pelo vento e os seus olhos escuros a iluminar uns traços clássicos e bronzeados por um clima mais quente. Já no casamento, Isla pensara que era um homem incrivelmente bonito, quando se mexia por lá como um vulcão prestes a rebentar, emanando uma emoção intensa e extraordinária. Recordou que Tania o odiava e que o culpava por tudo o que estava mal no seu casamento com Paulu.

      Alissandru olhou para Isla, surpreendentemente vestida com calças de fato de treino e uma camisola larga e com os pés descalços, e decidiu imediatamente que era uma mulher que tinha problemas. Se não fosse assim, porque haveria de estar de volta à casa familiar no meio do nada? Uma explosão de caracóis ruivos caía-lhe pelos ombros e os seus olhos de um azul-violeta pareciam enormes por cima da porcelana perfeita da sua pele. Os seus lábios grossos e cor-de-rosa continuavam abertos de surpresa. Pensou que era outra beleza como a sua irmã diabólica e recusou-se a reagir ao impulso súbito de desejo que sentiu. Era um homem com as suas fraquezas físicas e responder a um rosto atraente e um cabelo bonito só provava que tinha uma libido saudável. Não tinha de se incomodar com isso.

      – Alissandru? – perguntou ela, incrédula, duvidando de si própria devido à surpresa da chegada.

      Nunca falara com ele, pois ignorara-a completamente no casamento.

      – Posso entrar? – perguntou ele, imperioso, reprimindo um calafrio, apesar de usar um casaco preto de caxemira por cima do fato.

      Isla recordou as suas maneiras e recuou.

      – É claro. Claro que sim. Está muito frio, não está?

      Alissandru olhou para o interior humilde, pouco impressionado com a divisão ampla que servia de cozinha, sala de jantar e sala de estar. Sim, definitivamente, não fora feita para viver num lugar assim. Certamente, algum homem enfeitiçara-a e afastara-a do seu lado sem hesitar. Tinha a certeza de que a notícia da herança a faria feliz e irritava-o ter de ser ele a contar-lhe.

      – Ia fazer chá. Queres uma chávena? – perguntou ela, duvidosa.

      Alissandru deitou a cabeça atraente para trás, o que tornou a sua altura ainda mais evidente, dado que o teto era muito baixo. Os seus olhos, aparentemente escuros, adquiriram um brilho dourado intenso com as luzes com que Isla combatia a escuridão invernal que, ali tão a norte, chegava tão cedo. Incapaz de resistir, olhou fixamente para ele, enfeitiçada por aqueles olhos incríveis, gloriosamente ladeados e acentuados por pestanas pretas. Virou rapidamente a atenção para a preparação do chá e, quando percebeu que ainda não lhe dera os pêsames, pensou que o aparecimento dele lhe paralisara os neurónios.

      – Lamento muito a tua perda – murmurou, incomodada. – O Paulu era uma pessoa muito especial e gostava muito dele.

      – Ah, sim? – Alissandru observou-a com atenção, com uns olhos que brilhavam como o sol no seu rosto moreno e atraente. Na sua posição e no seu tom, havia algo estranho. – Diz-me, quando começaste a ir para a cama com ele?

      Isla ficou paralisada com a pergunta ofensiva.

      – Como? – murmurou, fazendo o chá de costas para ele. Pensou que, certamente, ouvira mal.

      – Perguntei-te quando começaste a ir para a cama com o meu irmão. Sinto muita curiosidade porque a culpa explicaria muitas coisas – repetiu Alissandru. Queria que ela se virasse porque desejava ver-lhe a cara.

      – Culpa? – Ainda sem saber o que poderia ter trazido Alissandru Rossetti ali para a insultar daquele modo, Isla parou de fazer o chá e virou-se. – Pode saber-se do que falas? Como podes perguntar-me isso sobre o homem que estava casado com a minha irmã? – replicou, com o rosto vermelho de fúria e de vergonha.

      Alissandru encolheu os ombros ao tirar o casaco pesado, que pendurou nas costas de uma cadeira na mesa da cozinha.

      – Foi uma pergunta sincera. Naturalmente, sinto curiosidade e não posso perguntar ao Paulu.

      Um tremor leve na sua voz revelou a Isla que realmente sofrera muito a perda do irmão gémeo, muito mais do que ela sofrera a de uma irmã que só vira um punhado de vezes. Alissandru Rossetti sofria e isso fez diminuir um pouco a fúria dela.

      – Não sei porque pensas em fazer uma pergunta assim – admitiu, com mais calma, observando-o como se fosse um fogo de artifício sem explodir que ainda borbulhava perigosamente.

      Paulu dissera-lhe, uma vez, que o irmão não conseguia compreender o seu amor por Tania porque nunca estivera apaixonado e carecia de profundidade emocional para se apaixonar, mas Isla não estava de acordo com isso. Via um homem muito volátil que fervia de emoção e cada faísca dos seus olhos extraordinários transmitia claramente essa realidade.

      Estava ali de pé, por baixo da lâmpada nua do teto, com o cabelo preto azulado a brilhar como seda cara, os traços duros da sua cara da cor do bronze e sem fazer nada para esconder a força do seu queixo ou o ângulo do seu nariz aristocrático e arrogante e o indício de barba que escurecia a pele em redor da sua boca só servia para realçar ainda mais a sensualidade dos seus lábios cinzelados. Isla sentiu um calor novo, o que aumentou o seu desconforto.

      Queria fazê-lo acreditar que não sabia nada do testamento? Achava que era tolo?

      Alissandru ficou tenso. Odiava o papel em que as circunstâncias o tinham posto e endireitou os ombros com um desgosto instintivo.

      – Fiz-te essa pergunta porque o Paulu deixou-te todas as suas posses no testamento.

      Isla abriu a boca com incredulidade e olhou para ele durante vários segundos em silêncio até ser capaz de falar.

      – Não, isso não é possível – gaguejou. – Porque haveria de fazer isso? Isso seria uma loucura.

      Alissandru arqueou uma sobrancelha cor de ébano.

      – Continuas a dizer que não foste para a cama com ele quando ia visitar-te quando estava separado da Tania? Só um puritano te condenaria por tirares as cuecas naquele ponto, quando ele era quase um homem livre legalmente.

      Isla reagiu finalmente com aquelas palavras profundamente ofensivas. Aproximou-se da porta e abriu-a, o que causou a entrada de uma rajada de ar gelado que fez Alissandru Rossetti tremer.

      – Fora! – gritou, com ferocidade. – Vai-te embora daqui e não voltes a aproximar-te de mim!

      Alissandru desatou a rir-se.

      – Isso, vamos tirar as luvas e ver a verdadeira Isla Stewart.

      O Puggle resmungava num tom baixo e dava voltas aos pés de Alissandru, que não lhe fazia caso.

      – Fora! – repetiu Isla, com energia e com os seus olhos azuis cheios de fúria.

      Ele, sem se mexer, observava-a com um regozijo cínico, como se visse uma peça de teatro entretida. Enlouquecida pela sua falta de reação, Isla agarrou no casaco elegante e atirou-o pela porta para o chão congelado da rua.

      – Vai-te embora! – repetiu, com teimosia.

      Alissandru encolheu os ombros com indiferença.

      – Não tenho para onde ir até o helicóptero vir buscar-me dentro de uma hora – informou.

      – Nesse caso, devias ter-te esforçado para ser um visitante educado. Já tive o suficiente por hoje – declarou ela, com energia. – És o homem mais odioso do mundo e, finalmente, começo a entender porque a minha irmã te odiava.

      – Temos de envolver essa ordinária na conversa? – perguntou


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