A meio da noite - Segura nos seus braços. Margaret Way
dinamismo, uma luz inteligente nos olhos que o mantinha constantemente em alerta.
– Eu conduzirei o próximo trajecto. Tens seguro?
– Sou eu, claro que tenho seguro, Nick. Contra todos os riscos… inundações, incêndios, actos de Deus, combustão espontânea… Tudo bem, faz uma piada.
Ele apertou-lhe a mão. Sempre adorara os seus dedos longos e finos. De facto, sentira a falta deles.
– Vai andando para o carro. Eu tenho de comprar algumas coisas.
Viu-a afastar-se devagar. Caminhava sempre tão direita, tão orgulhosa.
Não sabia como ia derrubar aquelas barreiras. Contudo, uma coisa tinha clara, queria recuperar a sua esposa e ia fazer tudo o que estivesse ao seu alcance durante o fim-de-semana para lhe recordar o quanto ela também o desejava.
Ainda guardava alguns ases na manga.
Adele chegou à conclusão de que fingir estar a dormir podia ser cansativo. Levantou uma pálpebra e olhou de soslaio para Nick. Cantarolava algo para si mesmo e agia como se nada no mundo o preocupasse.
Voltou a fechar o olho.
Não era uma pessoa vingativa, porém, uma parte dela estava realmente incomodada por ele não estar mais incomodado. Decidir abandonar o casamento fora a decisão mais difícil da sua vida. Queria que Nick pelo menos parecesse um pouco perturbado.
Quando tinham proferido os seus votos na igreja, pensara que duraria para sempre. Deixara-se arrastar pela química intensa que existia entre eles e nem sequer parara para questionar se havia alguma coisa suficiente para manter aquela relação durante cinquenta anos. Acreditara que todos os ingredientes certos estavam presentes e não se incomodara em aprofundar mais.
Ele fizera com que acreditasse que eram duas metades de um todo. Doce e amargo. Luz e escuridão. Porém, no final, eram demasiado diferentes. Mais como o azeite e a água.
Uma voz que começava a odiar, quebrou o silêncio:
– Dentro de quinhentos metros, saia na próxima saída.
Abriu os olhos e endireitou-se. Já iam deixar a auto-estrada? Dormira a viagem quase toda?
Chovia, contudo, em vez das colinas e os pinhais que esperara ver, havia campos extensos de cogumelos. A paisagem era deprimentemente plana. Era tudo demasiado inglês.
– Porque saímos da auto-estrada, Nick? Onde estamos?
– Em alguma parte dos subúrbios de Stafford. Vamos parar para pôr gasolina – acrescentou em jeito de explicação.
Apesar da sensação de vazio do seu estômago, sentiu que as suas papilas gustativas se rebelavam diante da ideia de mais comida de plástico numa estação de serviço.
– Não tenho a certeza de que… Porque deixámos a estrada?
A voz metálica impediu-o de responder.
– Saia na próxima saída e vire à esquerda.
Estava demasiado cansada para perguntar novamente. Nick ia fazer o que queria, independentemente da sua opinião, portanto, o melhor seria poupar o seu fôlego.
Quinze minutos mais tarde, subiram por uma entrada de veículos e parou o carro. Tinham estacionado à entrada de uma cabana de fantasia: janelas com vidraças, telhado de duas águas e uma bonita cerca à volta de um jardim que parecia espectacular, inclusive naquela época do ano.
Nick fez soar a buzina e Adele fez uma careta. Segundos mais tarde, um homem de trinta e tantos anos saiu da cabana e sorriu a Nick enquanto ele saía do carro.
– Nick! Fico contente por teres conseguido vir. Trouxeste o motor de máquina de lavar roupa que me prometeste?
– Certamente. Está no carro, mas antes de to dar tens de cumprir a tua parte do acordo… um almoço suculento para dois viajantes esgotados.
O homem sorriu.
– Phoebe preparou uma das suas deliciosas sopas. Se não tiveres cuidado, far-te-á beber um recipiente térmico inteiro antes de te permitir continuar com a viagem. Mulheres, eh?
Adele abriu a porta e esticou as suas pernas, dormentes devido à viagem.
– E, por falar em mulheres, esta deve ser a tua esposa.
E, antes que ela pudesse cumprimentá-lo e oferecer-lhe a mão, ele deu-lhe um abraço. Adele olhou para Nick com uma expressão de súplica por cima do ombro do homem, mas só recebeu um sorriso.
– Adele, apresento-te Andy… Trabalhamos em alguns projectos juntos.
Andy finalmente soltou-a e dedicou-lhe um sorriso trémulo.
– Prazer em conhecer-te, Adele, ouvi falar muito sobre ti. Nick não pára de falar da sua bonita e triunfadora mulher. Acho que, secretamente, está à espera de poder abandonar a indústria do cinema para que tu o sustentes com o estilo de vida ao qual gostaria de se habituar.
– Oh!
«Eloquente, Adele. Impressionante. É uma bonita maneira de estar à altura da imagem que Nick deu de ti».
Contudo, Andy não pareceu reparar, pois estava demasiado ocupado a conversar com Nick enquanto os conduzia para a cabana. Rendida, ela suspirou e seguiu-os. Passou a mão pelo cabelo. Graças aos exageros de Nick, a Super Adele ia ter de ficar para o almoço. E, naquele momento, os superpoderes do seu alter-ego estavam manifestamente ausentes.
Entraram numa sala acolhedora com uma lareira. Pouco depois, ouviu passos no corredor e virou-se a tempo de ver entrar uma mulher. Imediatamente, Nick levantou-se e deu-lhe um abraço forte… parecido com o que Andy lhe dera a ela.
– Phoebe! É óptimo voltar a ver-te. Como está tudo?
Phoebe riu-se quando Nick a abraçou ainda com mais força, abanando-a de um lado para o outro até que ela começou a perder o equilíbrio. Uma sensação aguda no estômago surpreendeu Adele. Não desapareceu nem sequer quando a mulher deu um beliscão no braço de Nick para que a soltasse.
Afastou-se dele e virou-se para olhar para ela, ainda com um sorriso radiante.
– Tu deves ser a famosa Adele.
Adele levantou-se do sofá onde se sentara e sentiu os braços e as pernas subitamente rígidos. Estendeu uma mão. Phoebe arqueou levemente o sobrolho, mas apertou-a.
As palavras de saudação não conseguiram ordenar-se na sua cabeça. O que podia dizer? Aquelas pessoas pareciam saber tudo sobre ela, porém, até há cinco minutos, Adele desconhecia a sua existência. Porquê? Realmente ignorara Nick cada vez que ele lhe dera detalhes pormenorizados do trabalho que realizava? Estivera assim tão absorta?
– Olá! – cumprimentou, tentando sorrir.
Phoebe devolveu-lhe o sorriso. Um sorriso verdadeiro. Era evidente que decidira conceder o benefício da dúvida à sua convidada. Adele sentiu-se como se tivesse encolhido alguns centímetros.
– Vem comigo ao celeiro, Nick. Quero a tua opinião sobre uma coisa que estou a construir. É suposto eu fabricar uma máquina de ténis enlouquecida para um anúncio, mas ela recusa-se a ser tão diabólica como quero.
– Se queres algo diabólico, eu sou o teu homem – afirmou Nick, dirigindo-se para a porta.
Phoebe abanou a cabeça.
– A comida estará pronta dentro de vinte minutos. Não me obriguem a ir buscar-vos, está bem? – piscou um olho a Adele. – Os rapazes e os seus brinquedos, não é verdade? Suspeito de que os nossos são piores do que a maioria. Porque não vens para a cozinha para conversarmos enquanto eles desmontam a máquina?
– Claro.
Queria ser brilhante, engenhosa e encantadora, a Super Adele, porém, os seus superpoderes pareciam enterrados debaixo de um monte de sucata. Fora de