A meio da noite - Segura nos seus braços. Margaret Way
ao aparelho, ouvi-la-ia a fazer o telefonema.
Espreitou por trás da poltrona precisamente quando a porta da sala se abriu. Uma sombra mexeu-se na sua direcção e ficou paralisada.
Capítulo 3
O ladrão tocou nas costas da poltrona, à procura de alguma coisa. Estava tão perto que o seu fôlego aqueceu o ar perto dela. Não encontrou o que procurava e deslizou o braço para procurar no lado onde Adele se escondia.
Ela fez a única coisa que lhe ocorreu. Ele não tinha luvas e tinha a mão a centímetros da sua cara, portanto, cravou-lhe os dentes na pele exposta do pulso.
Ele soltou um grito de dor e recuou com um salto, tropeçando com os seus próprios pés ao fazê-lo.
– O que raios…?
Adele estava preparada para arranhar, morder e pontapear, para fazer o que fosse necessário com o objectivo de sair dali a salvo.
Então, arrepiou-se. Aquela voz…
– Nick?
Ele levantou-se.
– Obrigado por uma recepção tão quente!
– O que estás a…? O que achas que…? – a adrenalina não demorou a transformar o medo em fúria. Fechou os olhos, respirou fundo e voltou a tentar: – O que raios estás a fazer a entrar às escondidas na minha casa a meio da noite?
– Na nossa casa.
– Deixa de te concentrares em detalhes estúpidos! Pregaste-me um susto de morte!
– Estava à procura… – inclinou-se e acendeu o candeeiro da mesinha.
Estendeu a mão e apanhou uma carteira de pele que havia no chão.
– E disto.
A poucos centímetros, havia um telemóvel. Adele olhou para ele. Não era o que costumava ter. Por alguma estranha razão, a descoberta deixou-a triste.
– Tirei-os do bolso. Descobri que era muito difícil conseguir um lugar onde ficar sem ter nenhum dos números de telefone dos meus amigos nem dinheiro para um hotel.
Estava tão aturdida que não sabia o que dizer. Há um minuto, desejara que estivesse em casa e, agora que o desejo lhe fora concedido, estava pronta para o expulsar outra vez. Todo o seu aborrecimento se evaporou numa nuvem de confusão.
– Como entraste? – perguntou-lhe, ainda a olhar para o telefone.
Nick pôs a mão no bolso traseiro e tirou um porta-chaves que fez oscilar num dedo. Depois, encolheu os ombros.
– Pensei que estarias deitada. Planeava entrar em silêncio, pegar nas minhas coisas e voltar a desaparecer. Nunca terias sabido que tinha estado aqui.
– Tens chaves? – não soube porquê, mas, de repente, custava-lhe entender os conceitos mais básicos.
– Sim.
Franziu o sobrolho.
– Então, se ainda tens as chaves, porque não as usaste quando apareceste?
– Não sei. Suponho que tentava ser cortês.
Nick? Cortês? Não encaixou na sua mente.
Fez a única coisa que conseguiu: deixou-se cair na poltrona e desatou a rir-se. Pouco depois, percebeu que não era capaz de parar e as lágrimas deslizavam pelas suas faces.
Só Nick era capaz de lhe provocar aquele ataque de riso. O homem era impossível, intolerável, e ainda mais impossível.
Por uma vez, Nick não tinha um sorriso preparado. Não deixou de olhar para ela e de pestanejar. Parecia tão perdido que, quando fazia aquela expressão, era impossível de resistir.
Abanou a cabeça.
– Nunca encontrarás onde ficar a estas horas. É melhor ires buscar as tuas coisas e pô-las no quarto livre. Depois falaremos.
Quando entrou na cozinha às seis e meia da manhã, encontrou Nick à espera sentado à mesa. Inclinou a cabeça.
– Levantaste-te cedo – três horas demasiado cedo para o que era habitual nele.
– Disseste que íamos falar.
Levantou o punho engomado da blusa e olhou para as horas.
– Hoje não tenciono faltar ao trabalho, Nick. Tenho uma vida e não a vou interromper por ti.
– Como se eu não o soubesse.
– O que queres dizer com isso?
Ele esfregou os olhos.
– Ignora-me. Estou cansado e resmungão. Nós, os restantes mortais, não nos levantamos da cama antes do amanhecer sem um cabelo fora do lugar como tu.
Talvez ele não estivesse vestido, porém, parecia-lhe muito mais atraente do que um mero mortal com o pijama mal abotoado.
Um momento. Desde quando Nick usava pijama?
Certamente, o pijama era melhor para a sua pressão arterial do que a alternativa.
Voltara a fazê-lo. De algum modo, só precisava de estar na mesma divisão que ela para lhe transtornar todos os pensamentos. Ao descer as escadas, sentira-se segura, eficiente, preparada para enfrentar o mundo. E, naquele momento, sentia-se… demasiado vestida.
– Acabei de me levantar e estou pronta para ir trabalhar, é só isso. Alguns de nós não podemos passar o tempo no alpendre até às três da manhã e chamar-lhe trabalho, sabes?
Nick bocejou e tapou a boca com a mão.
– Estou demasiado cansado para ter outra vez esta discussão. Podemos dar por concluído que eu me comporto como um pirralho e que tu és a adulta? Assim poderemos saltar todos os gritos.
Quis dizer-lhe que não, mas isso transformá-la-ia na criança de três anos, portanto, mordeu a língua e aproximou-se da cafeteira. Para sua surpresa, o café estava preparado e quente.
Nick levantou-se e entregou-lhe uma chávena.
– O escritório só abre às nove da manhã. Temos tempo para falar.
Ela assentiu. No entanto, assim que se sentaram um à frente do outro, reinou o silêncio.
No final, Adele já não conseguiu suportá-lo.
– Porque não me disseste que a tua mãe estava doente?
– Como descobriste?
– Debbie deixou-te uma mensagem no atendedor de chamadas. Suponho que a tua mãe não é a única que desconhece que vivemos separados há quase um ano.
– Sabes como elas são unidas. Se alguma delas soubesse, contaria à minha mãe e eu não queria acrescentar outra preocupação à sua vida.
– Devias ter-me contado.
Nick olhou para ela com a cabeça inclinada.
– Parece-me recordar uma linha ocupada nas conversas telefónicas mantidas contigo.
– Não estou a falar dessa altura. Agora. Porque não me disseste nada ontem?
– Seria demasiado parecido com chantagem emocional.
Ela bebeu um gole de café.
– Na verdade, eu considerá-lo-ia ser sincero.
– Estás a dizer-me que sabê-lo não te teria obrigado a realizar a viagem, mesmo que fosse a última coisa que desejasses fazer?
Ela desceu o olhar. Nick tinha razão. Se tivesse conhecido a verdade, teria ido à festa, sem se importar com os seus desejos pessoais. Porém, por outro lado, conhecer a verdade devolvia-lhe o controlo.
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