Encontro apaixonado. Carol Marinelli
emprego.
O salário era incrível e as viagens eram maravilhosas, embora cansativas, mas, depois de onze meses a trabalhar para Luka, alcançara o seu limite.
Luka era um mulherengo empedernido. E não era uma opinião pessoal, era um facto.
Sabia muito bem, ela era a sua assistente pessoal!
Já não aguentava mais. Por isso, na sexta-feira, depois de Luka ter ido para o terraço para entrar no seu helicóptero com o fim de passar um fim de semana de libertinagem em França, Cecelia agarrara no telefone e aceitara um contrato de seis meses para trabalhar como assistente pessoal de um diplomata estrangeiro, idoso e respeitável.
Embora o salário fosse mais baixo e o emprego tivesse menos vantagens, ia estar muito mais tranquila e assentada.
Agarrou no telemóvel para ver as horas quando percebeu que era o seu aniversário. Não importava, nunca tinham dado importância aos aniversários na sua vida familiar. Os tios tinham-na criado desde os oito anos e nunca tinham celebrado os aniversários e a mãe, antes de morrer, também não.
Então, viu a mensagem que Luka lhe enviara durante a noite:
«Não vou ao escritório hoje, Cece. Cancela todas as minhas reuniões. Ligo-te depois.»
Cecelia cerrou os dentes, Luka tinha a mania de lhe chamar «Cece», algo que não suportava. Mas também franziu o sobrolho porque, nos onze meses que passara a trabalhar como assistente pessoal de Luka, era a primeira vez que ele tirava o dia. E exatamente no dia em que ela precisava de falar com ele!
Devido à ausência do patrão, seria um dia de muito trabalho, um dia complicado. Assim, fez um esforço e levantou-se da cama.
Cecelia tomou banho rapidamente e seguiu a sua rotina habitual. Estivesse onde estivesse, fazia sempre o mesmo: À noite, preparava a roupa que ia vestir no dia seguinte, fazia o mesmo com o pequeno-almoço, que tomava antes de se pentear.
A rotina era algo essencial na sua vida, precisava dela para se sentir bem. Talvez fosse uma forma de compensar o caos que a rodeara até aos oito anos, os oito anos que vivera com a mãe.
Tinha o cabelo loiro-avermelhado, mas pintara-o para o tornar um loiro neutro. Penteou os caracóis suaves e apanhou o cabelo num rabo de cavalo.
Depois, enquanto se maquilhava, os seus olhos verdes esbugalharam-se ao ouvir o que alguém estava a dizer na rádio:
– «O que raios é que essa mulher esperava depois de se envolver com o Luka Kargas?»
Não a surpreendeu que alguém mencionasse o patrão, mas irritou-a. Nem às sete da manhã, no seu quarto, conseguia fugir dele.
Luka era um homem muito conhecido e, embora fosse nomeado nas secções financeiras dos jornais, também se falava dele nas revistas cor-de-rosa.
Aparentemente, houvera uma festa louca no seu iate na sexta-feira anterior, em Nice.
Cecelia cerrou os dentes enquanto ouvia que, depois da festa no iate, Luka e alguns dos convidados tinham visitado uns casinos em Paris. E agora, uma supermodelo, depois de uma noite de paixão, chorava porque as suas esperanças de prolongar a relação com Luka se tinham visto frustradas.
Uma parva por se deixar enganar, pensou Cecelia. Todos sabiam como Luka era com as mulheres.
Contudo, as pessoas não conheciam realmente Luka. Ele era extremamente reservado a respeito de certos aspetos da sua vida privada, a que ninguém, absolutamente ninguém, tinha acesso e muito menos a assistente pessoal.
A julgar pelo que conseguira deduzir, Luka sempre tivera uma vida privilegiada. O pai era o dono de um complexo turístico luxuoso em Xanero com um restaurante conhecido em todo o mundo e outros restaurantes em diferentes países. Enquanto isso, Luka encarregava-se mais dos hotéis e tinha uma vida muito agitada. As suas conquistas eram inumeráveis e, com frequência, ela tinha de secar as lágrimas das amantes magoadas do patrão.
Sim, Luka era um mulherengo empedernido.
E isso perturbava-a. Talvez porque espiara esse tipo de vida. A forma como Harriet, a mãe, morrera, tal como vivera, com as cuecas no chão e pó branco no nariz, envergonhara toda a família. E deixara uma filha por quem ninguém queria responsabilizar-se. O pai não aparecia na certidão de nascimento e só o vira uma vez.
E não queria voltar a vê-lo.
O tio e a tia, no fim, tinham-se encarregado da pequena Cecelia que, com caracóis loiros-avermelhados e olhos verdes brilhantes, era uma réplica da mãe, mas só fisicamente.
Depois de uma vida pouco convencional durante a infância, Cecelia tinha uma vida convencional, prática e ordenada. Apesar de viajar por todo o mundo devido à natureza do seu trabalho, costumava deitar-se às dez durante os dias de trabalho e às onze aos fins de semana.
Cecelia tinha amigos normais e agradáveis, embora nenhum suficientemente íntimo para a felicitar pelo seu aniversário. E, no ano anterior, estivera noiva.
O único problema que causara aos seus tios fora o fim da relação com Gordon. Os tios não compreendiam porque deixara Gordon, um homem tão decente.
E o maldito Luka tinha a culpa!
Embora, é claro, não tivesse contado isso a Gordon.
Mas era melhor não continuar a pensar nessas coisas, pensou, enquanto vestia a roupa interior, cor de carne. Depois, aproximou-se da janela. Ao ver o céu tão azul, decidiu não usar o fato azul-marinho de linho que preparara na noite anterior.
Já que Luka não ia ao escritório naquele dia e, portanto, ela não teria de ir a nenhuma reunião, dirigiu-se para o armário.
Aí estava o vestido que comprara para o casamento de uma amiga que se casara recentemente. O vestido era creme e tinha decote halter. E, como era o seu aniversário, decidiu usá-lo.
Já que os ombros e as costas ficavam a descoberto, também vestiu uma camisola de lã cor de limão. A saia do vestido chegava até metade da perna, portanto, não se incomodou em usar collants. E, para acabar, calçou umas alpargatas.
Sim, agora que sabia que ia deixar a Kargas Holdings, começava a relaxar.
Teve de tirar a camisola de lã ao entrar no metro. Estava muito calor no vagão e, agarrada a uma das barras, viu que as escapadas de Luka no fim de semana tinham conseguido aparecer na primeira página do jornal que um dos passageiros lia.
Reparou na fotografia que havia por baixo dos títulos. Nela, via-se Luka na coberta do barco, junto de uma beleza morena sofisticada. O peito nu dele jorrava água e, embora os corpos da rapariga e de Luka não se tocassem, era uma fotografia extremamente íntima.
Cecelia desviou o olhar da fotografia, mas não pôde apagar a imagem de Luka da sua mente.
Ao entrar no edifício dos escritórios da Kargas Holdings, sorriu para o segurança, dirigiu-se para os elevadores e foi para o quadragésimo andar, propriedade exclusiva de Luka.
Nesse andar, não só havia escritórios e salas de reuniões, também havia um ginásio e uma piscina, embora ela nunca os tivesse usado. Também contava com uma suíte, tão luxuosa como a de qualquer hotel de cinco estrelas. Quando estava em Londres e ficava a trabalhar até tarde ou tinha de apanhar um voo muito cedo de manhã, Luka costumava dormir na suíte.
Ainda não eram oito e, aparentemente, chegara antes de Bridgette, a rececionista. Havia algumas pessoas a limpar as janelas e a aspirar, também chegara a florista que se encarregava dos arranjos florais todas as manhãs.
Cecelia fez um café antes de ir para a sua mesa de trabalho, numa zona ampla com uma porta que dava para o escritório de Luka.
Pendurou a camisola de lã num cabide e ia sentar-se quando a voz dele a apanhou completamente de surpresa.
– Esse café é para mim, Cece?
Cecelia virou-se no momento em que Luka saía do seu escritório. Para além