Encontro apaixonado. Carol Marinelli
não devia estar ali.
– Achava que não vinhas hoje – comentou Cecelia.
– Porque achavas isso?
– Porque, ontem à noite, me enviaste uma mensagem para o telemóvel para me dizer que não vinhas.
– Ah, sim, é verdade. – Luka tirou-lhe o café da mão. – Obrigado.
– Não tem açúcar – avisou ela, enquanto se sentava atrás da sua secretária. – E, por favor, não me chames Cece. O meu nome é Cecelia.
– É um costume.
– É um costume que me tira do sério – insistiu Cecelia.
«Ainda bem», pensou Luka.
Gostava de lhe chamar Cece porque gostava de provocar aquela mulher.
– Como foi o fim de semana? – perguntou ela, educadamente, como se não soubesse de nada.
– Mais ou menos como o anterior – respondeu ele. E, aproximando-se da secretária dela, apoiou as nádegas ao lado do computador. – Tu nunca te aborreces?
– Não costuma acontecer – mentiu Cecelia, reconhecendo que, com Gordon, se aborrecera muito.
Gordon também trabalhara na cidade. Costumavam encontrar-se às quartas-feiras para beber uns copos e às sextas-feiras com os amigos. Os sábados eram reservados, em geral, para os dois. À noite, tinha algum orgasmo suave. Aos domingos, uma refeição aborrecida em algum pub fora de Londres e talvez também um encontro amoroso sem nada a destacar.
Não fora culpa de Gordon.
Cecelia inibia-se tanto no sexo como na vida.
De facto, a culpa era do homem que estava sentado na sua secretária, porque despertara sensações e desejos nela que, indubitavelmente, continuariam a causar-lhe uma frustração profunda.
– Como não te aborreces de fazer sempre o mesmo? – insistiu ele.
– Gosto de fazer o de sempre – respondeu ela.
Era impossível entender aquela mulher, pensou Luka. Não era como as outras. Há muito tempo que parara de a seduzir, pois o desagrado que Cecelia mostrara destruíra a diversão.
E por muito libertino que ele fosse, só brincava com quem queria brincar.
– Tens muito bom aspeto hoje – elogiou ele.
Em instantes, Luka recebeu um gesto arisco por se ter atrevido a fazer um comentário pessoal. Cecelia limitava-se a ter uma relação profissional com ele.
– Obrigada – agradeceu ela, educadamente.
– E é um vestido – continuou Luka, decidido a não deixar as coisas como estavam.
– És muito observador, Luka.
– Só o digo porque quase nunca te vi com um vestido.
– Está demasiado calor para um fato.
– Sim, claro, mas…
– Luka – interrompeu ela –, se te incomoda que use uma roupa menos formal do que de costume, diz-me e garanto-te que não voltará a acontecer.
– Não tenho nenhum problema com o vestido.
– Nesse caso, não há mais nada para dizer…
– Tens a certeza? – Não tivera a intenção de abordar o assunto, mas o momento apresentara-se.
– A roupa que uso…
– Tens outra consulta no dentista hoje, Cecelia? – perguntou ele, num tom incisivo e chamando-a pelo seu nome. – Uma última consulta talvez?
Estava quase certo de que Cecelia ia deixar o trabalho.
As assistentes pessoais iam e vinham. Estava habituado a isso. Ele era muito exigente e também tinha consciência de que muito poucas pessoas estavam dispostas a trabalhar tantas horas por dia durante muito tempo. E, regra geral, exigia à assistente pessoal que se ia embora que preparasse a próxima para o emprego.
Contudo, agora, o facto de Cecelia querer ir-se embora causava-lhe um desgosto surpreendente.
Gostava que aquela mulher fizesse parte da sua vida e não queria que se fosse embora.
– Não tens mesmo nada para me dizer? – perguntou ele.
– A verdade é que tenho. Podíamos falar no teu escritório, em privado?
– É claro. Vamos.
Luka decidiu que teria de a dissuadir de deixar o emprego.
E sabia como fazê-lo.
Capítulo 2
Enquanto Luka a conduzia ao seu escritório, Cecelia sentiu-se literalmente doente. Não sabia se a sua decisão era a acertada ou não.
Cecelia sentia consciência de que, profissionalmente, deixar aquele trabalho não era aconselhável. O império de Luka estava em expansão, a Kargas Holdings estava a negociar a abertura de hotéis em Nova Iorque e Singapura. Fazer parte disso seria extraordinário para o seu currículo.
No entanto, quando Luka abriu a porta do seu escritório e ela entrou, percebeu que não tinha outro remédio senão deixar a empresa.
Sentiu os olhos dele nas costas.
Na pele.
Cecelia tinha a roupa mais anódina que alguma vez vira. No entanto, Cecelia estava sempre arranjada e elegante. Era algo natural nela.
Mas, naquele dia, era diferente.
Exatamente no dia em que ia dizer-lhe que deixava a empresa, deixava-o ver, pela primeira vez, as suas costas.
As costas de Cecelia eram extremamente pálidas. E Luka pensou que devia faltar-lhe vitamina D. Tinha a certeza de que aquele corpo nunca apanhara sol.
Luka só a vira fora do trabalho uma vez, acidentalmente. Dessa vez, Cecelia usava a mesma roupa insossa com que ia trabalhar.
O encontro acontecera duas semanas depois de ela ter começado a trabalhar na sua empresa, numa exposição num museu, e não fora completamente acidental. Ouvira-a a falar com o ex-noivo sobre ir ver a exposição e ele quisera ver pessoalmente o objeto do desejo sexual de Cecelia.
Um inglês pálido de pernas magras.
Não iam de mão dada e, como dois desconhecidos, tinham parado para observar uma obra de arte incrivelmente erótica.
Ela assustara-se ao vê-lo e corara ao apresentar-lhe Gordon.
E o desejo de Luka de ir para a cama com ela aumentara.
– Senta-te, por favor – convidou Luka, no seu escritório.
Luka indicou-lhe uma cadeira e deu a volta à secretária enquanto ela se sentava.
E Cecelia, finalmente, encontrou-se cara a cara com ele.
Era um homem incrivelmente bonito. Olhos aveludados, maçãs do rosto proeminentes e uma boca voluptuosa.
Cecelia gostava de bocas.
A de Gordon era pequena. Mas ela só reparara nisso depois de ter visto Luka.
Até então, Gordon parecera-lhe um bom partido. No entanto, tudo mudara ao apertar a mão de Luka pela primeira vez.
Percebera que tinha de acabar o seu noivado com Gordon na noite depois da visita ao museu. Ao fazer amor com Gordon, imaginara que o fazia com Luka, e tivera o melhor orgasmo da sua vida.
Apesar de saber que ia acabar mal, aceitara aquele trabalho.
E estava ali agora.
Prestes a demitir-se.
– Querias