Vida De Aeromoça. Marina Iuvara
disso, sugeri que não tomassem nenhuma cafeína, lessem um bom livro ou fizessem uma palavra-cruzada para manter a mente ocupada.
Durante a decolagem, vi seus rostos empalidecerem, e a chamada de comissários acender sobre eles.
Depois de tirar o cinto de segurança, fui averiguar a situação.
A senhora começou a se soltar:
Desculpe se a incomodo - disse timidamente -, mas gostaria de informar que estou aterrorizada. Qualquer movimento que sinto, tenho a impressão de que meu estômago se parte em dois. O problema é que o poço de ar me provoca sensações desagradáveis. Preciso pegar o avião para encontrar com minha mãe, que já está muito velha, na Alemanha, então não posso evitar.
Vi que ela passou a mão pelos cabelos e começou a enrolar um cacho freneticamente.
O marido aproximou-se dela, como se quisesse confortá-la, um pouco duro e desajeitado, os lábios contraídos e as mãos suadas. Também dava sinais claros de desconforto.
Os temporais são perigosos? - perguntou baixo, engolindo pedaços das palavras e mexendo os músculos faciais continuamente.
O marido começou a tamborilar com os dedos na mesinha à frente.
Com o tom seguro e decidido, disse:
Não, tudo está sob controle, nós não teríamos partido se houvesse qualquer perigo. Tudo está sob controle – repeti. – A chuva não vai criar nenhum problema para nossa segurança. As sensações desagradáveis que os senhores sentirem será por causa do vento, que causa uma oscilação absolutamente normal.
Voltei ao galley para organizar o serviço com meus colegas.
A senhora me seguiu logo depois.
Por favor, me ajude. Estou com vontade de gritar e chorar. Todo voo é uma tragédia, e eu começo a ficar nervosa um mês antes da viagem, só de pensar em fazer a mala. Morro de vergonha disso, mas não sei o que fazer, gostaria de desaparecer! – ela implorou com fervor e humildade.
Fique tranquila, a senhora pode ter a impressão de que o avião dá solavancos, mas isso é só fricção.
Fui me aproximando lentamente, até que cheguei a seu lado, sem hesitar.
Falando baixo, de modo claro e escolhendo bem as palavras:
Não se preocupe, eu estou aqui – disse levemente recurvada, aproximando-me dela para tentar dar o apoio desejado e tentando diminuir seu embaraço e aquele nervosismo.
Eu respeitava aquele medo irracional e compreendia o desconforto.
Apertei seu braço com firmeza, segurando-a delicadamente com as duas mãos, e olhei em seus olhos para estabelecer um contato mais próximo.
Acompanhei-a de volta ao seu assento.
A senhora parecia minha mãe: mesma idade, muito educada, aparentemente frágil. Foi fácil entrar em sintonia com seus sentimentos.
Durante o voo, passei pela cabine diversas vezes, trocando olhares com ela para tranquilizá-la.
Ela me chamou de novo quando houve mais uma turbulência, e eu tentei sanar aquelas dúvidas e temores que persistiam e transpareciam na postura sempre rígida.
Disse que a segurança do avião é de altíssimo nível, que os controles técnicos e a manutenção são contínuos e que os pilotos são perfeitamente treinados.
Durante a preparação para a aterrissagem, ela me perguntou, com uma tranquilidade fingida:
São normais esses barulhos ou há algo de errado?
Expliquei a ela de onde vinham todos os barulhos que poderiam causar desconfiança: o posicionamento do trem de aterrissagem, a abertura das escotilhas, a aceleração e as variações dos motores, a abertura dos flaps e slats, o toque do nosso microtelefone, os avisos de chamada dos passageiros.
Senti que ela gostou de saber daquilo, mesmo continuando a roer as unhas inconscientemente.
Aconselhei que ela inspirasse e expirasse profunda e lentamente para oxigenar o corpo e relaxar os músculos, adicionando algumas técnicas de visualização positiva para auxiliar no relaxamento.
A senhora agora parecia sentar-se com mais conforto, mais à vontade, assim como o doutor Lucherini, embora em seu rosto ainda houvesse uma expressão incerta, um pouco de fingimento, com o lado direito do sorriso um pouco mais alto do que o esquerdo.
Você é nosso anjo dos céus – disse.
Na descida, houve apenas algumas leves turbulências devidas ao mau-tempo, e o voo terminou com uma aterrissagem macia.
Senhoras e senhores, bem-vindos. Desejamos uma estada agradável.
Chegamos no horário exato a Frankfurt.
Antes de sair, a senhora me deu um abraço discreto e elegante e me agradeceu.
Eu que estava grata por sua gentileza.
O marido apertou minha mão com vigor e a força recuperada, demonstrando a classe que eu reconheci desde o início.
Até logo!
Estas são as lembranças que nos vêm de súbito quando estamos tentando descansar em casa. De repente, ouvi a porta bater.
Eva havia saído.
Pus a coberta sobre o rosto para evitar a luz que entrava pela janela.
Chegara a hora de relaxar. Eu estava quase dormindo, perdida nos pensamentos, achando que voar, ficar preso dentro de um avião, pode não ser nada natural, portanto, desenvolver medos inconscientes é perfeitamente compreensível. Lembrei naquele momento histórias do meu passado. Compreendi como elas podem nos influenciar por praticamente toda a vida.
A adolescência
Desde jovem, ter pouco tempo disponível sempre foi motivo de sofrimento, porque me sentia prisioneira dos poucos espaços pessoais e dos breves momentos de liberdade, já que devia respeitar rigorosamente os horários impostos de forma atenta.
Eu não era dona do meu tempo.
Lembro que, até os 18 anos, precisava voltar para casa no máximo às 11 da noite, nos poucos sábados em que me permitiam sair.
Meus amigos se reuniam às nove para decidir onde comer, então nunca conseguíamos sentar à mesa antes das 10.
Eu sempre tinha pressa, ficava nervosa se o garçom demorava para chegar, não conseguia aproveitar a companhia dos outros porque sabia que precisaria voltar para casa logo.
Só me sobrava tempo para fazer o pedido, na esperança de que um atendimento rápido permitisse pelo menos que eu saboreasse aquela pizza, mesmo depois de perder o apetite, pois meu estômago começava a ficar tenso, e os sucos gástricos se misturavam com a agitação.
De qualquer forma, eu me levantava da mesa já atrasada para voltar para casa no horário estabelecido.
Era sempre difícil convencer alguém a interromper a janta para me acompanhar, mas o horário de retorno era inderrogável e categórico, e eu não tinha nenhum meio de transporte.
No trajeto para casa, eu implorava para que nenhum limite de velocidade fosse observado. Às vezes as luzes vermelhas do semáforo eram simplesmente ignoradas.
Eu morria de medo de correr no carro, e esse medo permanece comigo até hoje. Eu ó via as luzes noturnas passarem voando por mim; os faróis dos outros carros e os postes ficavam para trás muito rapidamente.
Era o preço a pagar para evitar as humilhações e repreensões na minha volta. Se eu saísse da linha, encontrava a porta da frente fechada por dentro e precisava inventar qualquer desculpa para não