A Feiticeira de Olhos Azuis. Barbara Cartland
na escolha.
Apesar de ter dito a ela que não iria visitá-la depois da festa da Sra. Hayes, resolveu o contrário. Iria, sim.
Tocou a campainha chamando o mordomo.
—Peça uma carruagem ao Sr. Graham que vou para o campo amanhã bem cedo.
—Pois não, senhor. Ficará muito tempo?
—Não tenho a mínima ideia. Devo sair às sete horas.
Isto significava que os criados que já estavam na cama teriam que ser acordados às pressas para começar a fazer as malas do patrão. Que ele não viajaria só com sua carruagem, mas também com um coche para seus lacaios e a bagagem, seis batedores montados e seu cavalo favorito com um cavalariço.
Era uma viagem que normalmente precisava de muito planejamento. Para que nada fosse esquecido na correria de última hora, toda a criadagem de Berkley Square deveria ficar acordada à noite, tomando as providências.
Não passaria pela cabeça do Marquês que estivesse causando algum incômodo aos empregados. Era para isso que eram pagos e queria tudo perfeitamente organizado e suas instruções executadas com perfeição. Mesmo que fossem dadas no último momento.
Em cinco minutos, mostrando a organização perfeita dos estábulos, uma carruagem parou na porta. Quando o Marquês deu o endereço de Chelsea ao mordomo, ele o passou ao lacaio da carruagem que o passou ao cocheiro. Não havia em suas vozes nenhuma entonação diferente, nenhum indício de que fizessem a menor ideia do que significava aquela rua. Mas todos o sabiam.
O único sinal foi um sorrisinho no rosto no mordomo, ao entrar de volta no vestíbulo iluminado de Aldridge House para dar as ordens que poriam em movimento a máquina complicada que deveria começar a funcionar imediatamente, se o Marquês saísse na hora marcada.
—Filho de peixe, peixinho é— murmurou o empregado. E agora havia realmente um grande sorriso em seus lábios.
Todos os homens da casa tinham um orgulho secreto pelo fato de o patrão ser um farrista. Era da tradição dos Aldridge.
O Marquês chegou em Chelsea com grande rapidez, coisa que esperava de seus cavalos com os quais gastava fortunas.
Pararam fora da casa, em Royal Avenue, um lugar agradável com árvores frondosas, onde havia um pouco da privacidade que ele achava conveniente.
O lacaio desceu para tocar a campainha. Passaram-se alguns minutos, antes que a porta fosse aberta por uma empregada assustada, a touca meio torta na cabeça, o avental amarrado às pressas.
—O senhor Marquês!— anunciou o lacaio.
—Nós não o esperávamos hoje!
—Está aqui, não está?— respondeu ele por entre os dentes, para que o Marquês não escutasse.
Voltou para abrir a porta da carruagem e o patrão desceu, vagaroso, lânguido. Já começava a se arrepender do impulso de visitar Hester, em vez de ter ido se deitar.
Ao mesmo tempo, como ia partir, seria justo informá-la de que estaria ausente por algum tempo. Se não o fizesse, ficaria preocupada.
Entrou no pequeno e estreito vestíbulo e percebeu, com desgosto, um cheiro de comida.
—A madame chegou há pouco de teatro, senhor— disse a empregada—, está na sala de jantar.
Era uma salinha pequena no fundo da casa, onde o Marquês pouco entrava. Sempre que oferecia um jantar a Hester, era, invariavelmente, num dos alegres lugares de West End frequentados por atores. Ou iam a uma das inúmeras festas dadas por pessoas que gostavam de receber as mulheres conhecidas e endeusadas pelas luzes do teatro.
Atravessou o vestíbulo, e a empregada abriu a porta da sala de jantar. Hester estava sentada à mesa e, com ela, um conhecido ator que tinha sido visto várias vezes em sua companhia.
Sua cabeças estavam juntas quando entrou, o que o fez ter a nítida impressão de que era um intruso.
Olharam para ele, atônitos, e Hester deu um gritinho.
—Marquês! Não tinha a mínima ideia de que viria me visitar hoje à noite!
—Nem eu. Foi um impulso, depois daquela enfadonha festa.
—Eu avisei de que seria horrível.
Ela se levantou, assim como o homem a seu lado.
Aldridge cumprimentou-o, friamente:
—Boa noite, Merridon!
—Hester estava se sentindo tão sozinha, que me pediu para lhe fazer companhia. O senhor não tem objeção, pois não?
—Por que teria?
—Aceita um cálice de vinho?— ela perguntou, puxando uma cadeira para a mesinha redonda no centro da sala.
Como o vinho que estavam bebendo era do Marquês, ele se sentiu aborrecido por terem escolhido o mais caro, do qual só tinha um estoque. Foi bobagem mandar duas caixas para Chelsea, mas achara que as visitas a Hester seriam uma ótima ocasião para tomar um vinho que se tornava cada vez mais raro, desde que as hostilidades entre França e Inglaterra começaram a ficar sérias.
Havia só um pouquinho no fundo da garrafa e Hester fez sinal ao lacaio para abrir outra. O Marquês teve que morder o lábio para não sugerir um vinho de qualidade um pouquinho inferior que fosse.
—Gostaria de comer alguma coisa?— Hester perguntou, amável, percebendo que estava aborrecido.
—Já me regalei com um banquete gigantesco, uma mistura de comida inglesa e francesa, com predominância, infelizmente, da inglesa.
O ator riu.
—E como foi a representação, senhor?
—Amadora. Mas o que se podia esperar de virgens?
—Como se fossem virgens!— Hester comentou, sarcástica—, não confiaria um segundo em Charlotte Hayes. Ela está querendo competir com a Sra. Fanwkland, que abriu os Templos de Aurora, Flora e Mistério.
—Não experimentei nenhuma dessas exóticas maravilhas— comentou Merridon—, mas o Sr. Sheridan me disse que o Templo de Flora é interessantíssimo.
—É lá que ela deixa as moças mais velhas, experientes e bem-educadas... ou treinadas...— explicou Hester.
O Marquês não podia estar mais entediado. Já havia escutado dezenas de vezes seus amigos, no White’s, gabando as virtudes daqueles bordéis.
O Templo de Aurora oferecia quase meninas. O Flora, as mais velhas, e o Mistério era de mulheres exóticas, o que ele achava de mau gosto.
Era um lugar que nunca o interessaria. Mas como agora estava pensando em visitar o Castelo Ridge, lembrou-se de que alguém no clube havia dito que Caspar Trydell era sempre visto no Templo do Mistério.
Tomou seu vinho aos golinhos, apreciando. Mas era impossível, com aquele cheiro enjoativo de gordura. Olhou para a mesa; o casal comia pés de porco, um prato pelo qual sempre teve a maior aversão.
Como se lesse seu pensamento, Hester disse:
—Mil desculpas, senhor, se a escolha do menu não é do seu agrado, mas, Frank e eu descobrimos que temos esse gosto em comum, assim como adoramos sopa de enguia, que foi a entrada.
Era outro prato que detestava. Sempre via as enguias logo depois de serem pescadas no Tamisa, penduradas nas barracas nas margens do rio e perto das docas. Lembravam cobras e o medo que sentia delas na infância, quando um guarda-caça tinha sido mordido por uma.
Nunca esqueceu a dor do homem, que mais tarde se transformou em agonia; e depois, a semana em que sua vida ficou por um fio.
Cobras e enguias estavam ligadas em sua mente a tudo que era desagradável e que devia ser evitado. Resolveu não ficar mais um minuto com Hester.
Frank Merridon percebeu