Pacto de paixão - Inocente no paraíso. Maureen Child
Importas-te de baixar a voz? – Sean esfregou a testa, sabendo que não serviria de nada. Por fim, conseguiu abrir as aspirinas e tomou duas.
– Muito bem, vou-me acalmar – disse Rafe. – Mas conta-me o que raio se passa.
– É uma longa história e prefiro contá-la só uma vez. O Lucas está no escritório?
– Isso não soa bem… espera aí – o seu irmão pulsou o intercomunicador.
– Marie, diz ao Lucas que chegue aqui.
– Marie? Secretária nova?
– Sim – admitiu Rafe. – A Katie fez questão de que contratasse mais alguém porque me quer em casa à hora de jantar.
Poderia parecer que se estava a queixar, mas Sean sabia que Rafe estava louco pela mulher. E era compreensível. A sua mulher era um encanto e fazia as melhores bolachas do universo.
– Como está a Katie?
– Genial – respondeu Rafe, com um sorriso radiante. Espantoso o que Katie tinha feito pelo carrancudo Rafe King. – Guardou-te um tabuleiro de bolachas de chocolate com pistachos.
Sean fez uma careta. Em circunstâncias normais teria sido uma agradável surpresa, mas naquele momento a ideia de comer algo revolvia-lhe o estômago.
– Agradece-lhe da minha parte.
Rafe voltou-se e fez um gesto a Lucas para que se sentasse ao seu lado.
– Que má cara! – exclamou o seu outro meio-irmão.
Sean suspirou.
– Parece que há consenso sobre isso. Como está o menino?
– O Danny está ótimo – respondeu Lucas, com um sorriso de orelha a orelha. – Juraria que esta manhã disse «papá».
Lucas estava convencido de que o seu filho era um génio… e quem era ele para discutir?
– Estás aí na farra com alguma loira quando devias estar a fechar o acordo com Stanford?
– Porque as loiras podem esperar até termos isso assinado – acrescentou Lucas.
– O que tem que fazer é esquecer as loiras de momento.
– Pois é isso mesmo que eu digo…
Sean esboçou um sorriso. O seu pai, Ben King, nunca se tinha casado, mas todos os verões reunia os seus filhos no seu rancho da Califórnia. Durante três meses por ano, os King eram mesmo irmãos e tinham forjado um laço que se tornava mais forte com o passar dos anos.
Mas o sorriso desapareceu ao pensar na sua mãe, demasiado frágil para lidar com os obstáculos que a vida punha no seu caminho. Demasiado frágil para deixar o homem com o qual se casou, inclusive quando começou a maltratá-la…
– Sean!
Ele levantou a cabeça e pigarreou.
– Não há nenhuma loira.
– Então o que se passa?
– É morena.
Ainda que isso também não descrevesse o cabelo de Melinda, que era mais da cor da noite, quando os sonhos e as fantasias de um homem pareciam reais…
Sean abanou a cabeça. Iam ser dois meses muito longos, pensou. Não a poder tocar seria um inferno porque, ainda que a tivesse conhecido vinte e quatro horas antes, desejava-a como nunca tinha desejado ninguém.
– Eu bem sabia que havia uma mulher ao barulho – queixou-se Lucas.
– Deixa-o falar – disse a voz da razão, Rafe.
– Não sei por onde começar – admitiu Sean. Tinham sido vinte e quatro horas muito estranhas e nem ele próprio acreditava no que se tinha passado.
– Começa pelo lote – animou-o Lucas. – Temo-lo ou não?
– Tenho boas e más notícias – começou a dizer Sean.
– Ótimo – murmurou Rafe.
– Começa pela boa – sugeriu Lucas. – Assim terei forças para a má.
– A boa notícia é que temos o lote.
Os seus meios-irmãos soltaram uma exclamação de alegria.
– Porque não disseste antes? – perguntou Rafe.
– Eu sabia que conseguirias! – exclamou Lucas. – Ontem à noite disse à Rose que ninguém é capaz de te negar nada quando te armas em encantador.
– Sim, bom… – ele teria estado de acordo uns dias antes, mas desde que conheceu Melinda Stanford devia admitir que o seu encanto tinha limites.
– Bom, dá-nos a má notícia – disse Rafe. – Na realidade, não acho que seja tão má. Temos o lote e podemos começar a construir…
– Deixa-o acabar, Lucas.
Sean suspirou.
– Bom, o questão é que… me vou casar.
Silêncio. Os seus irmãos olhavam-no, perplexos.
– Casar-te? – repetiu Rafe.
– Estás louco? – acusou Lucas. – Com a morena?
– Ela própria, Melinda Stanford.
– A neta do Walter?
– Conheceste-a, apaixonaste-te e pediste-lhe a mão em vinte e quatro horas? – exclamou Rafe.
– Quem falou de amor?
– Então porque te vais casar?
– Fiz um acordo com a Melinda: caso-me com ela e conseguimos o lote.
– Isso é levar as coisas demasiado longe – opinou Lucas.
– Já está feito. Chegámos a um acordo e penso cumprir a minha parte.
– Porquê?
– Porque não havia outra maneira de conseguir o lote.
– Estás louco.
– Não, não estou – replicou Sean, irritado. – Será um casamento temporário e em dois meses divorciar-nos-emos, mas continuaremos a ter o lote.
Lucas abanou a cabeça, como se não soubesse o que dizer, mas Rafe não tinha esse problema.
– Não podes fazer isso, Sean. Casar desse modo não é…
– Não é o quê?
– Não é o que queremos para ti – respondeu o seu irmão mais velho. – Quando te casares, deverias fazê-lo com alguém com quem queiras passar o resto da vida.
Sean cerrou os dentes para não dizer que casar não significava isso para toda a gente, que ele já tinha tentado e não estava interessado em repetir o erro, que a única razão pela qual aceitara aquela farsa era para que a sua família conseguisse o que queria… e porque tinha uma cláusula de escape.
Os seus irmãos eram felizmente casados com mulheres que os amavam de todo o coração, de maneira que nunca entenderiam o seu ponto de vista. Além do mais, eles não sabiam que Sean já tinha sido casado. De facto, ninguém sabia.
Os King cometiam erros, naturalmente, mas não falavam deles e não partilhavam os seus sentimentos com ninguém. Esse casamento fora um erro e ele solucionara-o sem dizer uma palavra.
– Não o vejam como um casamento, vejam-no antes como um acordo de negócios.
– Uma maneira muito estranha de fazer negócios – insistiu Lucas.
– Estranha ou não, vamos conseguir o que queremos – disse Sean. Construir aquele hotel com o primo Rico seria muito importante para a construtora