Pacto de paixão - Inocente no paraíso. Maureen Child
Não vai acontecer nada – insistiu Melinda, ainda que ver a preocupação da amiga lhe aumentasse a ansiedade. Era natural que Kathy reagisse assim. Tom e ela adoravam-se, de modo que um casamento de conveniência devia-lhe parecer uma loucura.
– Sean King é um homem famoso que anda com montes de mulheres.
– Sim, mas…
– É rico, giríssimo e provavelmente arrogante. A maioria dos homens como ele é…
– E dizes isso porque tu conheces muitos homens como Sean King?
– Não tenho de os conhecer pessoalmente para saber que são assim.
Melinda pestanejou.
– Sim, bom, tens razão.
Kathy tomou um gole de café, pensativa.
– Só digo que poderias estar a ponto de te meter em algo para o qual não estás preparada.
Danielle começou a remexer-se e Melinda pô-la no chão para que fosse brincar com os seus brinquedos. Kathy e ela eram amigas desde que a sua família se mudou para a ilha quinze anos atrás. Kathy tinha-se casado com um homem natural de Tesouro e Melinda era a madrinha dos seus dois filhos. A casa era um caos, totalmente diferente da elegante suite na qual ela vivia, mas aquela casinha sempre lhe parecera muito acolhedora e repleta de amor. Uma vez, ela tinha sonhado com ter um lugar assim, uma vida assim, com um marido e uns filhos. Mas esse sonho morreu com Steven um ano antes e Melinda tinha-o enterrado juntamente com o noivo.
Naquele momento, o único que queria era a sua independência e a oportunidade de viver a vida que sempre tinha desejado sem ter de dar explicações ao avô. Walter Stanford adorava-a, mas tinha por costume imiscuir-se na sua vida.
– Eu sei o que estou a fazer, Kathy.
– É o que espero – a amiga suspirou. – Bom, quando é o casamento?
– No próximo sábado. E tu serás a dama de honor.
– No próximo sábado? – repetiu Kathy, com cara de susto. – Não posso perder cinco quilos numa semana!
Sorrindo, Melinda ouviu a sua amiga falar de manicuras, vestidos e amas para esse dia.
Preocupada ou não, Kathy estaria ao seu lado, mas as advertências da amiga fizeram com que se perguntasse se estava tão certa do que ia fazer como aparentava.
Os dias seguintes passaram a toda a velocidade.
Ou pelo menos fora isso que parecera a Sean. Não viu muito Melinda, mas porque haveria de o fazer? Aquilo era só um acordo entre os dois e dedicou-se a explorar a ilha para esquecer que estava a ponto de se casar.
A construtora Stanford era pequena, mas pareciam sérios e responsáveis. Além do mais, contratar gente da ilha faria com que a invasão dos King fosse melhor vista pelos locais.
Conduziu pelas estradas da ilha, comprovando que algumas zonas de Tesouro eram ermas enquanto a maioria estava coberta de mato, flores e cascatas. Não havia aeroporto, mas Sean sabia que os seus irmãos quereriam construir uma pista de aterragem para as suas avionetas e havia uma clareira perto do hotel que serviria… se pudesse convencer Walter.
De outro modo, a única forma de chegar à ilha era ir de avioneta até St. Thomas e depois apanhar uma lancha. Se pudessem construir uma pista de aterragem, tudo seria mais fácil para os ricos clientes que pensavam atrair ao hotel.
Mas de momento, contentou-se com explorar o povoado. Tesouro era uma das ilhas privadas maiores das Caraíbas, uns três mil acres de lindas praias, flores e matas.
E o povoado era tão pitoresco que mais parecia que andava a passear por um postal. Cada loja estava pintada de uma cor diferente: azul, rosa, verde…
Havia uma imensos vasos com flores flanqueando os passeios e a vista de cima devia ser como um arco íris.
Para um homem acostumado a viver no sul da Califórnia, um lugar cheio de ruído e de gente, era como estar em Brigadoon.
Sean sorriu para si mesmo. Não conheceria esse filme se não fosse pela mulher de Lucas, que o estava a ver uma tarde, quando foi jantar a sua casa. Em troca do jantar, Rose tinha-o obrigado a ver o filme com ela.
De modo que aquele povoado mágico na Escócia, onde todos eram felizes, parecia-lhe uma comparação apropriada.
Sean deteve-se para contemplar aquela povoação tão tranquila e sentiu um arrepio ao imaginar hordas de turistas com câmaras ao ombro…
Não, era melhor assim, pensou, desfrutando do silêncio e da brisa. O vento quase constante de Tesouro evitava o calor e os insetos. E isso faria com que os seus clientes se sentissem muito felizes ali.
Sean passeou pelas ruas, vendo montras e tirando fotografias com o smartphone para enviar aos irmãos. Rafe e Lucas já tinham estado ali, mas as reuniões com Walter tinham terminado tão rápido que não tiveram tempo de visitar Tesouro. Fora Rico quem tinha estado na ilha anos antes e desde então sempre quisera voltar.
E ele não tinha entendido a fascinação do primo até então. Havia algo em Tesouro que relaxava a tensão; uma tensão da qual Sean não se apercebera até àquele dia.
Sean abanou a cabeça, dizendo-se que esses pensamentos tão estranhos se deveriam aos nervos do casamento. Ele tinha mais razões para estar nervoso do que a maioria dos noivos. Afinal, não se ia casar pelas razões habituais.
Dois meninos chocaram com ele e Sean sorriu de novo. Inclusive os postais vivos tinham alguns problemas e isso fazia com que o lugar lhe parecesse mais real.
Deteve-se em frente a uma ourivesaria para olhar para a montra. Havia diamantes, rubis e outras pedras preciosas. Mas também essas pedras de um azul-esverdeado que Melinda tinha usado na noite em que jantaram juntos e selaram o acordo.
– Não há casamento sem anel – murmurou.
Falso casamento ou não, tinham de fazer com que parecesse real, de maneira que empurrou a porta do local. Sem prestar atenção às pulseiras de ouro e aos colares de pérolas, foi diretamente ao balcão onde guardavam as pedras azuis-esverdeadas.
Um homem idoso de cabelo grisalho e olhos permanentemente semicerrados, talvez por anos a fio de uso da lupa, chegou-se a ele com um sorriso nos lábios.
– Você deve ser Sean King.
– Vejo que as notícias correm como a pólvora em Tesouro.
– É uma ilha pequena e o casamento de Melinda Stanford é uma grande notícia.
– Sim, imagino.
Ali não havia paparazzi, mas os mexericos passavam de boca em boca. E era normal. Todos em Tesouro conheciam Melinda e era lógico que estivessem interessados no seu surpreendente casamento.
– É um prazer conhecê-lo – disse Sean, oferecendo-lhe a mão.
– Igualmente, senhor King. Sou James Noble e esta é a minha ourivesaria.
– Tem algumas coisas muito bonitas. E como sabe que me vou casar com a Melinda, saberá também que preciso de um anel.
– Naturalmente. Está à procura de algo especial?
– Pois… – Sean assinalou uma bandeja sob o vidro do balcão. – Aquelas pedras são muito originais.
E já sabia que ficariam lindamente a Melinda. Claro que tudo lhe ficava lindamente. Melinda Stanford era linda e elegante. Quando caminhava, Sean ficava hipnotizado pelo movimento das suas ancas. Quando sorria, só podia pensar em beijá-la. De facto, ocupava grande parte dos seus pensamentos.
– Claro que sim – estava a dizer James. – O topázio de Tesouro só se encontra nesta ilha e nós somos os únicos que o vendemos.
– O topázio de Tesouro? – repetiu Sean.
–