Sobre(viventes). Susana Gaião Mota
que há coisas que a pessoa pensa, mas isso é do ser humano”.
Não gosta de apontar o dedo aos outros, prefere refletir no que faria diferente se pudesse voltar atrás, “porque enquanto adolescente também dei os meus passos errados, mas também não seria a pessoa que sou hoje, nem teria os filhos que tenho, se assim não fosse. Não me sentiria realizada e feliz como sou”.
Para a maioria poderia ser um grande desafio conseguir construir a própria família, mas Mimi acha que foi um processo natural: “As coisas aconteceram desde que aprendi a abrir o meu coração”.
O amor bateu-lhe à porta e Mimi soube retribuí-lo, primeiro construindo uma família com o marido, e depois com os filhos. A estes últimos, gosta de ver felizes, de lhes dar algo que não teve, especialmente a calma, que considera muito importante.
Os filhos também lhe devolvem muitas coisas, preenchem-na enquanto mãe.
Não se sente órfã, sabe que teve uma mãe.
Conhecer o pai não se revelou muito positivo — não que tivesse grandes expetativas, mas “custa não ter havido uma explicação para a falta de interesse em mim, nem mesmo uma tentativa de se redimir. Conheci-o aos 32 anos, o que posso esperar agora? Quem quis fazer parte da minha vida já o tinha demonstrado antes. Só fica na minha vida quem quer”.
Às vezes dizem que é fria “e é verdade, eu tenho essa grande capacidade de ser fria nos momentos mais sérios. Tive de ser assim, senão corria o risco de me perder” – reflete, analisando-se.
Se pudesse partilhar algumas das coisas que aprendeu, Mimi gostaria de dizer que acredita que a vida é muito mais do que viver um dia de cada vez. Que devemos sempre olhar em frente e dar-nos a oportunidade de ver o que está por vir. No fundo, precisamos de dar um crédito ao futuro.
Ressalva, no entanto, que não é preciso errar para aprender. Porque se pode olhar à volta e, com os exemplos dos outros, não se cair nos mesmos erros.
“Devemos dar-nos sempre a oportunidade de ser felizes. A disponibilidade para conhecer os outros e nos darmos a conhecer. Se tivermos a capacidade de esperar para ver, podem acontecer coisas muito boas”.
O segredo para tanto pensamento positivo foi sem dúvida nunca ter deixado de acreditar: “A pessoa deve sentir, e quando precisa de chorar, deve chorar, mas não é preciso entrar em depressão. Para quê alimentar os pensamentos negativos? Não se fechar, não se isolar, mas saber afastar-se quando é necessário. Eu tive de fazer isso, sei do que falo. Por conselho da diretora, a certa altura afastei-me um pouco da minha família e vivi a minha vida. Percebi que às vezes temos de nos fechar para não nos perdermos com eles”.
Há limites de sobrevivência que têm de ser assegurados para que a família seja uma dádiva, e não um veneno: “Nós podemos amar incondicionalmente a nossa família, que é do nosso sangue, mas a pessoa tem de se conhecer, senão vive em função do que os outros querem que ela seja, e não pode ser. Tu tens de ser o que tu queres ser”.
Além disso, conclui Mimi, “família não é só a biológica. Às vezes as pessoas que não são de sangue sobrepõem-se, se calhar é algo de vidas passadas. Mas aparecem pessoas que nos dão amor e atenção sem ter qualquer obrigação de o fazer. A doutora Cecília nunca desistiu de mim, e ela tinha lá tantas crianças para se preocupar…”.
Esperança, gratidão, perdão e amor são as molas impulsionadoras de Mimi.
São o que sempre a atirou para a vida.
Em 2003, iniciou um estágio profissional em Lisboa, no grupo Marriot, uma cadeia internacional de hotéis, ao abrigo de uma parceria com a Casa de Acolhimento onde morou. Um ano depois foi integrada no quadro permanente e, a convite do diretor-geral, foi realizar um estágio num hotel do grupo em Londres.
Tal oportunidade permitiu-lhe aperfeiçoar o inglês e viver mais uma experiência no estrangeiro.
Trabalha no mesmo hotel em Lisboa até hoje.
É casada e tem três filhos. A vida continua a pregar-lhe algumas partidas, como a doença do marido, que esteve quase a morrer — mas Mimi não saiu do lado dele e a situação foi ultrapassada.
Da vida não pede muito: se pudesse fazia mais algumas viagens, mas na verdade o que quer mesmo é calma, estabilidade e paz.
Criar os filhos com amor e felicidade e nunca perder de vista a família que tem e ama, apesar de tudo.
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