Castrado. Paulo Nunes
e abraçou-nos, primeiro a mim e, depois, a ela, falando em espanhol conosco:
— Que bom que chegaram! — disse ela, beijando-nos o rosto.
— Olá, carinho! — e retribuí o beijo, envolvendo-a com meu abraço.
— Posso confessar um segredo a vocês? — perguntou ela, quase sussurrando.
— Claro que pode, meu amor — respondi no mesmo tom de voz.
— Não gosto muito de James. Ele é muito chato — e torceu os lábios, cruzando os braços, enquanto reclamava das aulas de seu professor.
— Meu amor, é importante que você aprenda inglês. Não pode ficar falando somente em espanhol aqui. Não é Alyce? Terá que ir para a escola em breve. Por favor, esforce-se. É importante para mim. Sei que ele pode parecer exigente, mas saiba que é para o seu bem. Por favor, dedique-se a aprender. Posso esperar que fará isso? — perguntei à Juanita, tentando conscientizá-la, chamando Alyce com os olhos para ela me ajudar.
— Juanita, já conversamos sobre isso várias vezes. Eu também tive dificuldade com o inglês, mas minha tia me ajudou. Sei que vai conseguir, pois é uma menina muito inteligente — disse Alyce a ela, incentivando-a.
Juanita abriu um leve sorriso e respondeu, olhando para mim:
— Você prometeu me levar a Disney. Isso ainda não aconteceu.
— Prometo a você que levarei, sim. Mas precisa aprender logo o inglês e ajudar sua mãe, pois sei que ela deve estar detestando essa ideia. Assim que aprenderem, prometo que iremos todos a Disney, até mesmo Alexander. Não é mesmo, doutor? — e beijei Juanita, apontando para a mesa onde Rosa e James estavam, deixando claro que ela deveria voltar para a aula.
Depois, caminhei para onde Alexander estava sentado, cercado de papéis em sua mesa.
— Espero conseguir tempo para cuidar dos seus negócios e ir à Expedition everest — comentou o advogado, tentando parecer engraçado para mim.
Ora! Ele gosta de aventura! Bom saber, pois teremos fortes emoções pela frente. Pensei, enquanto tentava rir da sua piada sem graça, virando meu pescoço e perguntando à Alyce:
— Quer beber alguma coisa? — e a vi acenar discretamente para Rosa, que respondeu a ela somente com um balançar de cabeça, certamente, indignada por causa das aulas de inglês.
— Estou bem. Obrigada — respondeu Alyce.
— Você já conhece Alexander, não? — perguntei a Alyce e fiz sinal a Rosa para que me trouxesse uma taça de vinho.
— Sim. Vemo-nos sempre na House’s Barrys. Não sabia que também trabalhava particularmente para Gaius. Como vai, Senhor Walker? — perguntou ela.
— Por favor, chame-me de Alexander. Eu cuido de assuntos mais particulares para ele, sim. Espero estar correspondendo às expectativas que Gaius depositou em mim — e olhou-me como se pedisse um elogio em público.
— Estamos indo bem, Alexander. Você quadruplicou minha fortuna nestes quase sete anos que trabalha para mim. Fez um bom trabalho, mas sei que podemos conseguir um pouco mais, não é? — respondi, recebendo a taça de vinho das mãos de Rosa e provocando meu advogado a trabalhar mais para me deixar mais rico do que já era.
Enquanto me entregava a taça, Rosa comentou com a voz baixa:
— Arthur não queria almoçar. Ficou olhando as fotos do pai. Chorou e depois dormiu.
Nisso, virei minha cabeça para minha cama e vi meu sobrinho dormindo de bruços. Ele era tão miúdo para a idade que tinha. Parecia tão sereno ao dormir. Cheguei a pensar que estivesse morto em minha cama. Por um instante, fixei meu olhar nele e tive compaixão.
— Acha que devemos ir para o outro quarto, Rosa? — perguntei, baixando o volume da voz.
— Não precisa. Ele sempre teve um sono muito leve, mas dorme melhor com pessoas por perto. Seus pesadelos são sempre nas madrugadas, quando sabe que está sozinho. Agora, basta não falar alto.
— Vamos falar mais baixo, pois Arthur está dormindo — pedi, olhando para Alyce e Alexander.
— O que faz aqui, Senhorita Stein? — perguntou Alexander à Alyce, enquanto Rosa voltava para a mesa onde estava estudando.
— A partir de hoje, Alyce é minha assistente pessoal, Alexander. E trabalhará diretamente com você. Ela está ciente do que faremos — respondi antes que ela falasse e dei um gole no vinho, contemplando o sorriso dele ao saber que teria mais contato com ela por causa do trabalho.
Alyce sorriu meigamente e completou:
— Por favor, chame-me de Alyce, Alexander. Gaius me pegou de surpresa, mas conseguimos nos entender. Acredito que compreendi o que ele espera de mim — respondeu ela.
Nisso, aproximei-me dela e comentei:
— Tenho certeza de que você e Alexander, juntos, poderão me ajudar a conseguir o que quero mais rapidamente — e sorri para ela, beijando seu rosto.
— Espero que sim — comentou ela.
— Alyce, vou deixar você conversando com Alexander, a fim de ele explicar em que momento estamos do nosso plano. Fique à vontade — e afastei-me deles.
Acenei para James, cumprimentando-o, enquanto acendi um cigarro e caminhava para a varanda da suíte. Lá, dei um trago, um gole no vinho e observei Rosa e Juanita, aprendendo inglês com o professor em uma mesa, Arthur, que dormia em minha cama, e Alexander e Alyce, conversando em outra mesa. Com o olhar fixo neles, tive a impressão de que o advogado flertava com minha assistente, sorrindo demais para ela. Alyce parecia não perceber o que acontecia. Por isso, talvez, naquele momento, tornou-se mais atraente para ele. Alexander tinha pouco mais de quarenta e cinco anos, era baixo e não tinha tempo para exercícios físicos, o que lhe proporcionava um abdome flácido. Era magro, mas não conseguia esconder um pequeno excesso de gordura na barriga ao vestir-se formalmente com sua camisa social branca por dentro de sua calça azul-marinho. Ao sentar-se, era impossível, a qualquer pessoa, não observar aquela gordura abdominal, que tentava escapar do tecido, derramando-se para frente. O grisalho de seus cabelos e a pele do rosto manchada por falta de cuidados externavam o quanto ele trabalhava por dia, inclusive aos fins de semana. Sua barba estava feita todos os dias, religiosamente. Certamente, uma tentativa de parecer mais jovem do que era de fato, visto que, até aquele momento, ainda não havia casado. Alexander era branco, nascido em Detroit, Michigan, e morava em Nova Iorque desde que se formou como advogado, aos vinte e poucos anos. Alyce exibia sua negritude com orgulho. Seu cabelo black power, visivelmente hidratado e bem cuidado, era a prova disso. Ela era alta, esguia, e sua boca carnuda não passava despercebida em lugar algum. Sua beleza resplandecia ao sorrir, com a boca e com os olhos. A harmonia de seu rosto e corpo coadunava-se bem com sua simpatia, simplicidade e felicidade, quase escondendo que ela tinha trinta anos, fazendo-a parecer ter menos. Alyce era bela, nascida em Gramado, Brasil, e morava em Manhattan desde a sua adolescência, quando foi levada por sua tia viúva, de origem alemã, para lhe fazer companhia. À época, reconheceu naquilo uma oportunidade para alcançar seus objetivos profissionais. Então, aceitou, visto que sempre foi ambiciosa. Observando-os juntos, conversando e entendendo-se, mais Rosa e Juanita, estudando inglês, tive a sensação de que o meu plano estava, de fato, começando a acontecer. Instantes depois, olhando para o cigarro em meus dedos, que chegava ao fim, meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Alyce, que caminhava em minha direção calmamente.
— Ele me explicou algumas coisas — e foi entrando na varanda, apreciando a vista comigo.
— Acredito que vocês se darão bem. É importante que estejam alinhados em todos os detalhes — respondi, deixando claro que precisava de sincronia entre eles, enquanto acendi outro cigarro.
Alyce balançou a cabeça, afirmando que entendeu o que falei e perguntou:
— Muito bem, Gaius. Estou aqui. O que precisa que eu faça?
—