A Vida No Norte. Tao Wong

A Vida No Norte - Tao Wong


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      ***

      Com a faca empunhada à minha frente, salto e atiro-me para baixo. O MFQ desativa-se no último segundo, quando enfio a faca na cabeça da lebre americana. Espero ter acertado em algo importante, visto que a lebre é do tamanho de um cavalo, mas muito mais larga. Ela vira a cabeça e é apenas um bocado de pelo que agarrei à pressa que me mantém em cima dele, enquanto lhe espeto a faca repetidamente na parte de trás da cabeça e do pescoço.

      Um minuto depois, tinha feito estragos suficientes para a lebre cair, morta. Há alguns momentos, ela tinha finalmente conseguido tirar-me de cima dela, esmagando-me contra um pinheiro, partindo-me o ombro e fazendo-me soltá-la. Deitado no chão, cheio de dores, não consigo deixar de pensar porque teria o Ali insistido tanto para eu lutar contra a lebre. Dou voz aos meus pensamentos, enquanto os ossos regeneram e voltam ao sítio. Ao forçar-me a sentar debaixo de uma árvore e ao tirar outra barra de chocolate da mochila, sinto-me feliz por trazer sempre demasiado chocolate comigo.

      — Lebre? Achava que era um coelho — o Ali olha com desagrado, flutuando por cima da criatura. — Bolas! E eu que queria dizer: “Não se passa nada, meu”.

      ***

      — Baixa-te!

      Deito-me no chão e sou atirado para o lado, quando a criatura vai contra a minha mochila. Estamos a descer a montanha a um bom ritmo, com o Ali a avisar-me da chegada de monstros. Rebolo, ficando frente a frente com uma bola de pelo raivosa com demasiados dentes. Enfio o bastão de caminhada na barriga dele e a criatura começa automaticamente a morder a vara de metal. Estou a fazer força, pregando a criatura ao chão, quando esta começa a sufocar.

      — Mexe-te!

      Salto, soltando o bastão, quando outro monstro felpudo me ataca do outro lado. Estava demasiado focado em matar o primeiro. Ataco com a minha faca, cortando o pelo áspero e afasto-me aos tropeções, a agitar a arma desesperadamente.

      — À tua direita — o Ali avisa e olho para a direita, usando as costas da mão para atacar o terceiro monstro Tribble. O golpe acerta-lhe e ele vai a rebolar pela colina. O segundo monstro aproveita a minha breve distração como um sinal para me morder a perna e eu grito de dor, espetando-o com a minha faca uma e outra vez, até ele me libertar.

      Afasto-me, coxeando para onde o primeiro monstro felpudo continua a asfixiar e a tossir e mato-o, pisando a criatura repetidamente, até esta parar de respirar.

      — Atrás de ti outra vez — avisa o Ali, já aborrecido.

      Viro-me, levantando o braço a tempo de o deixar morder o meu antebraço, em vez da minha cara, e depois começo a esfaqueá-lo até à morte.

      — Bem, essa é uma forma de matar monstros. Tenta não os deixar morder tanto, na próxima luta — o Ali salienta, prestavelmente, e eu olho furioso para ele, enquanto saqueio as bolas de pelo. A sério, cotão? É esse o meu saque? Cotão? Mas o que esperava de bolas de pelo? Atiro-as para o inventário com uma careta e começo a coxear em direção a um riacho que me lembro de ser aqui perto.

      Lavo a minha roupa o melhor que consigo no riacho, com o Ali a vigiar, por cima de mim. Trabalho depressa, livrando-me da maior quantidade de sangue possível, sem encharcar demasiado a roupa. Quer seja de lã ou não, não deixa de estar molhada e o início de abril em Kluane significa que as temperaturas vão rondar os 6ºC à sombra. Enquanto me limpo, pergunto ao Ali algo que me tem incomodado. — Ali, porque é que os monstros nunca te atacam?

      — Eles não me conseguem ver — responde o Ali.

      Franzo as sobrancelhas.

      — Mas naquela primeira vez...

      — Eu consigo tornar-me visível com algum esforço, mas não o consigo fazer durante muito tempo, pelo menos, ainda não — o Ali faz uma pausa, virando-se para Este antes de falar. — Está na altura de irmos, jeitoso. Vamos ter companhia.

      Levanto-me depressa, sacudindo a água das minhas mãos e correndo devagar para Sudoeste, dando o meu melhor para ser o mais silencioso possível.

      ***

      O sol já quase se pôs quando finalmente chego ao parque de estacionamento. O que deveria ter sido uma caminhada de meio dia transformou-se num tormento de dois dias. Não me surpreendo ao ver o que sobra do meu veículo queimado, apesar de o sibilo da palavra “salamandra” me dar uma ideia do que possa ter causado o problema. Ou daria, se eu soubesse o que é uma salamandra.

      — Um lagarto gigante com uma afinidade superior a magia de fogo. Respira mesmo fogo. Há quem julgue que são um tipo mais fraco de dragão — explica o Ali. — São boas e más notícias.

      — Explica — murmuro, à procura de monstros na clareira.

      — Más notícias: vai em direção a Haines Junction — o Ali aponta para o rasto bastante óbvio. Ao ver que não quebro o silêncio, suspira e explica as boas notícias. — É provável que a presença dela afaste a maioria dos monstros do seu caminho. É mais seguro se a seguirmos. Isto, se ela não voltar para trás.

      Fantástico. É mesmo fantástico. Vou estar a seguir um lagarto gigante que cospe fogo no seu percurso para a civilização mais próxima que conheço e esperar que não repare em mim. Pelo menos, não se chama Godzilla.

      ***

      Não sou lá grande jogador, mas a minha ex era e apanhei termos suficientes para saber o que é “roubar mortes”. Quase me sentiria culpado ao tirar a vida a estes alces relâmpago e ao ganhar uma quantidade minúscula de experiência com isso, mas, tendo em conta que eles estão esmagados ou a sofrer com queimaduras significantes, vou chamar a isto serviço humanitário. Além desses atos de misericórdia, ignorei com determinação os corpos queimados e meio comidos que constituem a maioria da manada e que foram a refeição mais recente da salamandra.

      Passaste de Nível!

      Chegaste ao Nível 3 de Guarda de Honra de Erethran. Os Pontos foram distribuídos automaticamente. Tens 3 atributos livres por distribuir. As Habilidades de Classe estão bloqueadas.

      As habilidades bloqueadas levam-me a fazer uma careta, mas considerando o aumento ridículo das estatísticas, posso viver com isso. Como tenho um breve momento, invoco o quadro de estatísticas, para o rever.

Quadro de Estatísticas
Nome John Lee Classe Guarda de Honra de Erethran
Raça Humano (Masculino) Nível 3
Títulos
Nenhum
Vida 190 Resistência 190
Mana 220
Estado
Normal
Atributos
Força 15 (50) Agilidade 18 (70)
Constituição 19 (75) Perceção 12
Inteligência 22 (60) Determinação 24 (60)
Carisma 8 (16)
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