A Posse De Um Guardião. Amy Blankenship
Kyoko olhou para Hiroki e Hiraru nervosamente. – Nós deveríamos estar aqui?
Eles sorriram, saltando de entusiasmo. – Queríamos que Kyoko viesse connosco como a mamã costumava fazer! – Com isso... os gémeos começaram a se despir e a correr para a água, rindo de alegria.
O queixo de Kyoko caiu. – Como a mamã costumava fazer? Ela piscou várias vezes se perguntando como duas crianças tão doces e inocentes tinham sobrevivido sem a sua mãe e como era que acabaram vivendo com o príncipe de gelo.
*****
Kyou andou para frente e para trás dentro das paredes do seu quarto se perguntando o que ele faria com Kyoko. Ele não estava preocupado com Toya e os outros, mas o fato de Hyakuhei ter ficado tão perto dela não o deixou feliz. Se ele não tivesse chegado primeiro, o que teria acontecido?
Balançando a cabeça, ele rosnou com a pergunta. Ele sabia exatamente o que teria acontecido. Hyakuhei a teria seduzido e então a usado para reunir o talismã e abrir um portal para o seu mundo. Ele ainda conseguia se lembrar da suavidade na sua voz quando ela disse o nome de Hyakuhei no seu sono. Esse pensamento por si só foi o suficiente para fazê-lo querer explodir com raiva. O seu tio não merecia tocar... NUNCA tocaria no que era dele.
Ele parou de andar e olhou para o espaço. Ele, ele gostava daquele som. O único problema que enfrentou no momento foi ganhar mais confiança dela e fazê-la ver que ele era o único que teria a capacidade de protegê-la da maneira que ela deveria ser protegida. Para que pudesse fazer isso, precisava mantê-la ao lado dele e se certificar de que ela permanecesse assim.
Ele sabia que poderia forçá-la a ficar, mas também percebeu que isso só faria com que ela o odiasse. Ele tinha trabalhado a maior parte da sua vida mantendo os humanos à distância, mas Kyoko... ele não a queria distante. Se ela nunca deixou o castelo, então o mal nunca poderia alcançá-la. Ele queria que ela quisesse ficar de boa vontade, como os gémeos.
Um breve sorriso enfeitou os seus lábios pensando nas crianças humanas que ele acomodou na sua casa. A expressão desapareceu quando a sua mente voltou ao passado... manter os gémeos tinha sido um acidente.
Os humanos que ficaram presos neste mundo, milénios atrás, tiveram que lutar contra os demónios deste mundo para sobreviver. Mas muitas vezes eles foram mortos em idades precoces por causa da sua fraqueza, então a população não tinha crescido muito. Aqueles que sobreviveram até a idade adulta muitas vezes passam a vida inteira lutando contra os demónios que assolam este mundo.
Os guardiões e humanos mais fortes dentro deste mundo tentaram mantê-los protegidos, mas eles nem sempre podiam estar lá na hora certa.
Essa foi a situação com os gémeos. Não muito tempo depois que o Cristal do Coração Guardião foi quebrado, Kyou ouviu falar de uma vila perto do seu castelo sendo atacada pelos subordinados do seu tio e ele sabia que devia haver um talismã lá para Hyakuhei mostrar tanto interesse. Além disso, a aldeia estava dentro do seu território e, portanto, sob a sua proteção. Infelizmente, por razões que ainda não tinha descoberto, ele não sentiu os demónios se aproximando até que fosse tarde demais.
Quando Kyou chegou, a aldeia estava sob ataque de vários demónios de fogo aerotransportados. Os gémeos foram os únicos que sobraram e isso foi apenas porque os seus pais os esconderam numa caverna sob a sua cabana. Ele não tinha ouvido os seus gritos sob o abrigo em chamas? Kyou achou difícil pensar sobre aquela parte disso que o levava constantemente a um estado de confusão.
Depois de retirá-los dos destroços, ele reparou que os gémeos estavam adornados com um colar feito com os pedaços quebrados do Cristal do Coração Guardião. Os olhos azuis cristalinos dos gémeos combinavam com a cor da joia pendurada no seu pescoço enquanto choravam pela família que lhes fora tirada.
Ele ficou ali olhando ao redor da aldeia destruída enquanto os gémeos agarraram as suas pernas, escondendo os seus rostos contra ele.
Kyou achou estranho que ambos os fragmentos tivessem a forma de uma lágrima... quão irónico ele olhou ao redor da vila que tinha sido massacrada deixando para trás a própria razão de ter sido demolida. O Cristal do Coração Guardião de alguma forma escondeu as crianças dos monstros que vieram atrás delas? Considerando a natureza desconhecida do cristal e os muitos segredos que ele continha... não o teria surpreendido.
Sabendo que outros viriam buscar os colares manchados, Kyou rapidamente removeu os fragmentos dos seus pescoços. Ele tentou se convencer várias vezes de que era parte do seu dever como guardião proteger o talismã, mas, novamente, a emoção constantemente influenciava as suas decisões. Mais tarde, relembrando o acontecimento, ele teve que parar de associar a si mesmo e seus irmãos aos gémeos. Como os filhos, eles não tinham família, exceto um ao outro.
Já escondendo sentimentos por Kyoko, o deixou curioso sobre os seres humanos, então quando os gémeos tentaram andar atrás dele... querendo segui-lo... ele percebeu que eles também morreriam sem a ajuda dele.
Algo sobre os rostos manchados de lágrimas e a maneira como olharam para ele fez o seu peito parecer apertado e pesado... ele não os deixaria. A decisão tomada, ele se virou e os pegou nos seus braços e os trouxe para casa atrás das paredes onde os demónios não poderiam encontrá-los. Ele cuidaria dos irmãos humanos e aprenderia o segredo de por que o Cristal do Coração Guardião protegia tal raça.
Tirando as memórias da sua mente, ele puxou a corrente da sua camisa e olhou para a esfera que estava ali. Os fragmentos do cristal que ele tirou das crianças.
Ele o ergueu até ao nível dos olhos para observar as pequenas lágrimas flutuando dentro da barreira que ele lhes dera. Tão lindas lascas de cristal azul que pareciam nadar num mar de lágrimas que haviam causado. Lágrimas que ele sabia que os gémeos ainda derramavam pela sua família perdida, embora estivessem vindo com menos frequência do que antes. Ocasionalmente, enquanto descansava, um ou ambos tentavam rastejar para a cama com ele para dormir. Ele não entendeu esse aspeto do conforto, mas permitiu, curioso.
Deslizando o colar de volta no seu esconderijo, Kyou voltou para a sala onde ele tinha colocado Kyoko e abriu a porta. Sem pisar dentro, ele podia sentir que a sala estava vazia e a sua raiva cresceu. Ele não disse que ela estava livre para sair. A sua expressão endureceu... Ela teria que aprender o seu lugar se ele quisesse protegê-la.
Ele inalou lentamente, detetando o cheiro dos gémeos misturando-se ao dela. Ele caminhou em silêncio até uma das duas varandas que ladeavam o corredor do lado de fora do quarto dela. Este levava ao centro do castelo e ele olhou para as fontes termais que ficavam lá dentro.
Ao vê-la novamente, Kyou sentiu a sua raiva esfriar. Ela não tinha fugido como ele pensara inicialmente. Ele silenciosamente a observou das sombras enquanto ela falava com os irmãos.
*****
Kyoko caminhou até a borda da fonte termal fechada, ainda indecisa sobre se ela deveria ou não estar aqui assistindo os gémeos se banharem ou tentando encontrar uma maneira de sair completamente do castelo. Ver a felicidade despreocupada das crianças aliviou as suas preocupações por alguns minutos. Enquanto eles estivessem com ela, nada aconteceria... certo?
Deixando a sua mente relaxar, ela se sentou no forro de pedra que cercava a água aquecida, enfiando os pés enquanto observava os gémeos humanos. Ela ainda estava curiosa para saber como as criancinhas vieram parar aqui, com Kyou. – Hiroki, Hiraru, onde estão a sua mamã e papá?
Os gémeos pararam de espirrar e se voltaram para Kyoko com uma inclinação das suas cabecinhas. – A aldeia foi atacada e todos desapareceram nas chamas. – Hiroki pegou um pedaço de pano da lateral, mergulhou-o numa tigela na lateral da fonte e começou a esfregar o seu corpinho.
Kyoko ficou surpresa ao ver que fazia espuma enquanto ele esfregava a pele. Então, os pais dos gémeos estavam mortos? – Como você veio para aqui para ficar com Kyou? – Ela assistiu Hiraru caminhar até ela sorrindo.
O seu rostinho inclinado para Kyoko e ela podia ver o calor nos seus olhos. – Os demónios teriam nos levado