A Noite Escura Da Alma. Aldivan Teixeira Torres

A Noite Escura Da Alma - Aldivan Teixeira Torres


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familiar, Felipe se mostra bastante carinhoso e responsável. No entanto, quanto ao seu caráter, ele não se mostra tão perfeito, pois age de maneira desproporcional em algumas atitudes. Um exemplo delas, é que ele gosta de festinhas, geralmente acompanhado com ex-colegas de faculdade e nestas ocasiões aproveita para beber muito com o objetivo de perverter os sentidos e se engraçar com algumas mulheres sempre presentes. Foi nesse caminho que começaram as primeiras traições. No início ele se mostrou bastante cauteloso e não despertava muitas suspeitas. Porém, com o tempo, convenceu-se que sua atitude era normal de um homem e não se preocupou em ser mais discreto. Um belo dia, ocorreu o inevitável: Sua mulher descobre as traições e sua desilusão com o marido é completa. Ela acreditava que estava casando com a pessoa certa e que o amor do casal seria para sempre. Revoltada, briga com o marido, mas não se separa porque o amor pelos filhos é maior. Já ele não se importou em ser descoberto e continua em seu caminho de traições. O tempo passa, a situação não muda e com ela sobrevêm doenças graves que lhe provocam a morte. Ele vai a julgamento e a noite escura usa a dor da mulher para condená-lo. Ele é mais um que as trevas recolhem em seu galpão e este é certamente o fim de todos os pervertidos.

      A visão termina, o homem se despede, recomendado que eu divulgue sua história no mundo. Concordo, e um vento forte me leva de encontro ao túnel. Em poucos segundos estou de volta ao topo da montanha, transformado pelo conhecimento do terceiro pecado capital. Agora, só me restavam seis etapas para a completa compreensão da noite que atemoriza todos os corações.

      Eu estava exausto, mental e fisicamente, após a realização do terceiro desafio. Decidi retornar imediatamente a cabana com o intuito de descansar. Com este objetivo em mente, começo a dar os primeiros passos e minhas preocupações se concentram no próximo desafio e na misteriosa e incógnita figura do hindu que ainda não conhecia. Será que eu conseguiria assimilar os seus ensinamentos? Seria o mesmo, paciente, como a guardiã? O quarto desafio seria muito mais perigoso que os anteriores? Bem, eu tentaria achar as respostas dessas perguntas quando me encontrasse com o dito cujo. Por enquanto, eu deveria assimilar completamente os conhecimentos que obtive nos três desafios anteriores.

      O ritmo da caminhada continua intenso e já consigo ultrapassar um terço do percurso de volta. Quem era eu nesse momento? Não apenas um simples sonhador que subiu a montanha em busca dum destino que desconhecia, mas alguém em busca do conhecimento, o total controle e entendimento sobre os aspectos da noite escura, a mesma noite escura que era capaz de salvar ou condenar um indivíduo. Esses aspectos eram essenciais na minha formação de vidente e de homem. Só assim poderia prosseguir minha carreira em busca de mistérios e de verdades escondidas há séculos, com o intuito de fazer muitos corações sonharem. E o que é a vida sem sonhos? Um grande vazio sem sentido e sem alma. Por isto minha nova atitude em busca do tão ardoroso conhecimento.

      Avanço um pouco mais e já ultrapasso metade do percurso. Nesse momento, o cansaço reaparece com muita força, mas tento não pensar nele e continuo a caminhar. Afinal, eu tinha aprendido na gruta que o homem só é digno quando se mostra digno e isso inclui a perseverança, o esforço e a dedicação. Era exatamente o que eu estava tentando cultivar no caminho de encontro ao destino, o qual eu teria que correr atrás, mesmo se eu quisesse alcançar a evolução tão necessária. Isto era essencial na minha carreira para que eu pudesse continuar encantando os corações de todas as idades. Era por eles e pelo universo maravilhoso, que me proporcionou dons, que eu me arriscava mais uma vez na montanha. A viagem tinha valido a pena, pois já descobri a origem da noite escura e mais dois aspectos importantes. Faltava seis etapas para a revelação final.

      Aproximo-me do meu teto provisório, local em que descanso duma aventura tão fatigante. Percebo imediatamente a presença da guardiã, que tanto me ajudou no meu caminho. Chegando perto, ela inicia um diálogo:

      – Então você cumpriu o terceiro desafio. Meus parabéns! Agora, conte-me sobre suas experiências e suas conclusões. Quero ter certeza que você está preparado para avançar ainda mais no complexo caminho da noite escura da alma.

      – Antes de qualquer coisa, queria agradecer pela presteza da senhora e dedicação à minha causa. Sem seus conselhos, certamente eu não conseguiria superar todas as adversidades que encontrei. Saiba que a partir de agora minha vitória será também sua vitória. Quanto aos aspectos da noite escura da alma eu absorvi que o orgulho é a origem dessa noite escura. Ele impossibilita o indivíduo de enxergar o mais adequado caminho para evoluir e chegar junto ao Pai. Além disso, quem se deixa enganar por esse pecado, torna-se autossuficiente, e, como consequência dos seus atos, perde todo o contato com as forças da luz que poderiam ajudar em sua missão. Analisando bem esse pecado, terminei por concluir que a humildade é o único e melhor antídoto, pois só os humildes conseguem triunfar. Já com relação à avareza, o segundo pecado capital, pude concluir que ela fecha o coração do ser humano para a dor e os problemas dos outros. Precisamos entender que o dinheiro, o poder e a ostentação social não são perpétuos. São apenas bens materiais que podem e devem servir de meio para atingir a evolução desejada e necessária. Como acontece isso? Através da doação, da caridade e do desprendimento. Pensando mais um pouco sobre este pecado, concluo que os avaros nunca vão evoluir e provavelmente serão condenados pela noite escura que os persegue. Quanto à luxúria, a mesma afeta os aspectos da moralidade e da dignidade do ser humano. Atualmente há uma banalização do sagrado que perverte os sentimentos e o coração da pessoa, tornando-a impura. Com isso, perde-se o contato com o Pai Santo que quer apenas o nosso bem. Analisando a situação, posso dizer que os pecados da carne, incluindo a luxúria, são os mais perigosos, pois controlam os instintos humanos. A fim de nos libertamos, é necessária uma boa educação, recheada de princípios éticos e humanos. Precisamos, enfim, fazer com que a nossa parte espiritual e racional prevaleça sobre a parte animal. A luxúria é capaz de condenar, caso o indivíduo persista em seus erros.

      – Interessante. Acho que você tem possibilidades de evoluir ainda mais, mas por enquanto é o suficiente. Você poderá passar à próxima etapa, o encontro com o hindu. Trata-se de um homem sábio, vindo do estrangeiro, especialista nos quatro últimos pecados capitais. Se obtiveres sucesso com ele, poderás avançar ainda mais, rumo a uma terceira etapa.

      – Bem, eu não estou bastante seguro quanto a ser auxiliado por esse hindu. Ele é mesmo confiável?

      – Se duvidas, é sinal de que ainda não estás pronto. Mas se queres mesmo o conhecimento, então não tem escolha. A minha parte já está cumprida, agora é com você e seu novo mestre.

      – Onde o encontro?

      – Ele reside aqui mesmo, na montanha, no Noroeste dela, numa casinha de sapê. Quando o vir, diga-lhe que você é o enviado do espírito da montanha. Ele irá prontamente atendê-lo.

      – Obrigado por tudo, guardiã. Eu nunca esquecerei da senhora.

      – Não se preocupe. Ainda nos veremos mais vezes porque você precisará de mim e dos meus conselhos. Boa sorte em seu caminho, filho de Deus, que você realize os seus sonhos mais profundos.

      Logo em seguida, a guardiã desapareceu sem deixar rastro. Quem era exatamente ela? Eu até hoje não sabia, apesar de ter convivido com ela. A única certeza que eu tinha naquele momento era que ela fazia parte do mistério da montanha e do mundo, alguém digna de não ser esquecida. Depois da saída dela, descansaria um pouco e depois começaria a me preparar para o encontro com o hindu misterioso.

      A passagem de fase me deixara muito feliz, mas ao mesmo tempo preocupado. Que desafios e perigos eu ainda teria que enfrentar? Como seriam os métodos adotados pelo hindu? Essas eram algumas das perguntas que povoavam minha mente. Pensando sobre o meu caso. Afirmo minha preparação e o fato de que não iria julgar ninguém sem ao menos conhecer. Com essa constatação, observo-me melhor e começo a crer que os conhecimentos outrora absorvidos me davam certa segurança para encarar finalmente esse novo mestre. Encho-me de ânimo e conto seis desafios que me separavam da minha plena evolução como vidente


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