A Noite Escura Da Alma. Aldivan Teixeira Torres
Determinado, dirijo-me à trilha mais próxima. No meio do caminho começo a ouvir barulhos de animais ferozes. E agora? Como eu iria me proteger? Tomado de medo, começo a repetir uma oração silenciosa e os barulhos acalmam imediatamente como se fosse um milagre. Fico então mais tranquilo e continuo na caminhada, concentrado no desafio. Novamente as dúvidas aparecem incessantemente e me pergunto: Será que sou mesmo capaz de superar este primeiro desafio tão difícil? Bem, da minha parte eu iria me esforçar ao máximo para começar a cumprir os meus objetivos: A procura por respostas sobre a noite escura e a ânsia do conhecimento.
Continuo caminhando e com o cri-cri intenso dos insetos já não consigo me concentrar mais. Como última alternativa, resolvo apostar no meu instinto e na minha experiência para não me perder na trilha. Passado algum tempo, os meus passos ágeis e rápidos me aproximam da gruta do desespero, local em que me tornei o vidente dos livros. Ao avançar mais e ficar de frente com ela, vêm as lembranças da última vez que estive aqui. Lembro-me de todos os detalhes, inclusive de que eu era apenas um sonhador que subiu a montanha em busca dum destino desconhecido. Ao galgá-la completamente, Tive o prazer de conhecer a guardiã, um espírito miraculoso capaz de entender os mistérios mais profundos do ser humano. Com o auxílio dela, realizei três desafios, um mais difícil do que o outro. Ainda na montanha, encarei o fantasma e a jovem com o objetivo de me afirmar sobre o que eu queria para mim mesmo. Depois de todas essas etapas, finalmente pude entrar na gruta do desespero, a gruta que poderia tornar possível o impossível. Ao entrar, derrubando todos os obstáculos, avancei cenários até chegar a câmara secreta. Nela, meus dons naturais foram fortalecidos e terminei por me transformar no vidente, um ser capaz de realizar milagres no tempo e no espaço. Com tudo realizado, saí da gruta, viajei no tempo, corrigi injustiças, ajudei alguém a se encontrar e finalmente reuni as minhas forças opostas e as de outro tempo. Tive êxito nesta missão e agora me sentia preparado para uma nova aventura, penetrar na densa noite escura da alma, algo que ninguém jamais fez antes. Cheio de ânimo, avanço mais, fico na entrada da gruta esperando por um sinal do sobrenatural, mas nada acontece. Com o passar do tempo, fico convencido de que a gruta não tinha nada a ver com o desafio atual e então me afasto dela e procuro outra trilha, rumo ao norte do topo da montanha. Encontro-a imediatamente, auxiliado pela claridade da lanterna e continuo a caminhar.
Ao pegar uma nova trilha, sinto a minha fé e esperanças renovadas, pois acredito que vou realizar os planos e encontrar o tão desejável sucesso. Com essa certeza e seguindo o meu instinto desenvolvido de vidente, em certo ponto, decido sair da trilha e entro na mata fechada. Mesmo enfrentando dificuldades, como espinhos que me ferem, continuo a caminhar no mesmo sentido, pois tinha uma certeza interior. Sigo neste ritmo uns dez minutos, até que do nada surge uma clareira. À minha frente aparecem quatro caminhos distintos e eu tenho que escolher um deles. Pressionado, começo a analisar todas as possibilidades. Neste caso não se trata de sorte ou destino, e sim de sabedoria. Dentre os caminhos há o caminho da pura luz, o caminho da passividade, o do arrependimento e o caminho da noite escura da alma. O primeiro pertence a todos aqueles que se entregam ao chamado do Pai, a sua missão. Certamente este é o caminho mais difícil, pois requer renúncias e escolhas que a maioria não está disposta a fazer. Já o segundo, o caminho da passividade, representa todos aqueles que persistem em seus erros sem se importar com as consequências, como a dor do próximo. Caso eu escolha esse caminho posso até chegar à loucura. Com relação ao caminho do arrependimento, este pertence a todo e qualquer ser humano que esteja disposto a mudar de vida, a perdoar e tentar entender o lado do outro. No entanto, a maioria das pessoas não consegue trilhá-lo por muito tempo, principalmente por causa do orgulho, exatamente o pecado capital que tentarei conhecer a fundo neste respectivo desafio. Caso eu escolha esse caminho, provavelmente irei presenciar e sentir muito sofrimento. Por último, há o caminho da noite escura da alma que representa os conhecimentos e as experiências místicas das trevas que todos em algum momento da vida passam. Depois de pensar mais um pouco, acabo decidindo que o caminho da noite escura era o mais apropriado a seguir naquele momento. Antes de seguir viagem, porém, relembro meus desafios anteriores especificamente quando tive que escolher, na aventura anterior, entre as duas forças opostas. Naquele caso, o caminho da direita foi a escolha mais acertada, pois representava o caminho da luz, enquanto que o da esquerda representava o caminho das trevas. Agora, a situação era diferente, pois eu tinha quatro caminhos e apenas um era a escolha mais adequada. Pensando mais um pouco, decido inverter os papéis e denomino o caminho mais a esquerda da pura luz e o próximo a ele seria o caminho do arrependimento. Já o caminho mais à direita, denomino de noite escura da alma e o próximo a ele de passividade. A fim de confirmar minhas suspeitas, crio uma aura ao redor dos caminhos e este método me dá o resultado esperado. Então eu sigo pelo caminho mais à direita em busca duma verdade que poucos conhecem.
Com um pouco mais de tempo de caminhada, os meus passos regulares me levam a um lugar plano, exuberante e extenso, onde no seu centro se localizava uma lagoa. Às margens da mesma, uma mulher acena para mim, chamando-me. Por curiosidade, atendo o seu chamado e me aproximo mais. Ao chegar de frente com ela, inicio o diálogo:
– É você a detentora do mistério da origem da noite escura da alma?
– Não, meu caro. Mas posso lhe ajudar.
Dito isto, a mulher se movimenta rapidamente e em poucos segundos se coloca exatamente atrás de mim, empurrando-me para dentro da lagoa. Sem defesa, entro em contato com a água. Neste instante, a montanha treme, as forças gravitacionais são abaladas, o céu escurece e meu corpo sobe numa velocidade gigantesca. Gradativamente vou perdendo meus sentidos e com isso as visões começam a aparecer. Concentro-me numa delas, e como se fosse uma viagem no tempo, vejo uma grande explosão e as consequências da mesma. Na respectiva visão, percebo a criação dos sistemas solares e todos os seus elementos constitutivos, representando a criação material. Além desta, ocorre simultaneamente a criação espiritual de todos os seres. Nesta, em particular, observo os exércitos angélicos sob o comando dum único senhor, auxiliado por um servo chamado Lúcifer, anjo prestativo e eficiente. Tudo ia bem no plano espiritual, até que um dia o Senhor dos Exércitos teve que se ausentar com o intuito de criar novas galáxias em universos distantes, e com isso deixou a administração do Céu com Lúcifer. Logo após a saída do Senhor, Lúcifer cresceu em importância e o poder lhe subiu. Num instante decidiu que não seria mais servo e organizou uma rebelião junto com outros anjos. Ele conseguiu adeptos de todas as hierarquias: Tronos, potestades, Ikiriris, arcanjos, anjos etc. No entanto, os planos de Lúcifer foram descobertos a tempo por outro servo: Miguel. Este não concordou com as ambições do seu irmão Lúcifer e organizou junto com outros anjos uma contraofensiva. Foi aí que a guerra começou. De um lado, os que apoiavam Miguel e Javé como seu único senhor. Do outro, os que apoiaram Lúcifer como ser supremo. Este momento foi o mais delicado de todo o Universo porque muitas vidas foram perdidas (bilhões) em prol do poder, ou seja, duma causa sem sentido. Depois de inúmeras batalhas, Miguel e seus anjos conseguiram encurralar Lúcifer e seus seguidores, e os venceu, trancando-os no temido abismo da Terra, em salas intransponíveis. Com isso, a guerra chegou ao fim e o Senhor voltou de viagem, ocupando o seu lugar devido e merecido. Ao voltar, Ele fez questão de parabenizar Miguel e seus comandados pela bravura nas batalhas e os fez alcançar postos mais altos na administração do Reino dos Céus. Quanto à Lúcifer, como castigo, foi transformado na figura dum dragão horroroso e o fogo do abismo foi acendido, cozinhando pouco a pouco os que ali se encontravam.
É nesse exato momento que surge a temida noite escura da alma e a sede de poder e o orgulho são causas primitivas dela. Depois de presenciar todos esses fatos, as visões desaparecem da minha mente e num instante estou de volta, às margens da lagoa, para minha surpresa. Observo ao redor e não vejo ninguém. Decido então voltar imediatamente à cabana, pois a noite já estava avançada. Com pressa, percorro o trajeto de volta em pouco tempo e com mais alguns passos já me encontro novamente na cabana. Dirijo-me imediatamente à minha cama em busca dum sono restaurador. Ao chegar exatamente nela, caio prontamente. Amanhã seria um novo dia e eu continuaria a percorrer o caminho temido das trevas em busca do tão ardoroso conhecimento.
Um outro dia
O dia finalmente amanhece e os primeiros raios do sol batem