A Deusa Do Oriente. Barbara Cartland

A Deusa Do Oriente - Barbara Cartland


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      “Encontrei pessoa solicitada. Seguem detalhes.

      Afetuosamente,

      Brucena.”

      Omitiu deliberadamente a data da chegada e deixou de explicar que ela própria iria, em lugar da babá que prima Amelie havia pedido.

      Era urna precaução necessária, pois sentia que talvez eles não a quisessem e não poupariam esforços para enviá-la de volta para casa, assim que chegasse a Bombaim.

      –Haverão de pensar que a babá chegará dentro de um mês e que na carta, que aliás não tenho a menor intenção de escrever, explicarei quem é ela e por que penso que é uma pessoa recomendável.

      Voltou a refletir profundamente sobre o assunto e certificou-se de que quando chegasse disposta a fazer tudo aquilo que se esperava de uma babá, os Sleeman achariam extremamente difícil mandá-la embora.

      –Vão ter de manter-me em sua companhia pelo menos durante alguns meses– pensou Brucena.

      Ao mesmo tempo, a despeito de ter certeza de que seria uma babá muito mais competente do que aquelas rudes moças escocesas, não podia deixar de sentir que estava se impondo junto a pessoas que talvez não a quisessem.

      O primo William tinha sido sempre muito gentil com ela.

      Lembrava-se de que quando criança ele lhe inspirava um grande respeito e até mesmo um certo receio, pois lhe parecia um jovem muito inteligente.

      Tinha cabelos alourados, olhos azuis e uma fronte ampla e quando ele os visitou pela segunda vez, anos mais tarde, tinha domínio do árabe, do persa e do urdu.

      Nascera na Cornualha, a exemplo de sua mãe, e suas famílias tinham sido vizinhas durante anos a fio.

      Devido a sua inteligência, por volta dos trinta anos foi dispensado de seu regimento, ingressando na administração pública. O General Nairn ficara impressionado com o fato de que ele havia se tornado um magistrado e um administrador regional na Índia Central muito antes dos homens de sua idade.

      Há três anos, uma carta do Capitão Sleeman dirigida ao General comunicava que ele tinha sido nomeado pelo novo Governador-Geral, Lord William Bentick, para ocupar um cargo muito importante.

      –É o homem certo para o posto certo– dissera o General sentenciosamente enquanto lia a carta durante o café da manha.

      –E de que cargo se trata, papai?

      –O título dele é superintendente para a supressão da seita Thuggee, mas você não entenderia se eu lhe dissesse do que se trata.

      Ele se exprimia em tom perentório, não somente como um homem que acha que o intelecto de uma mulher não pode se expandir alem dos limites da cozinha ou do quarto das crianças, mas também porque não apreciava a curiosidade de Brucena, que a levava a formular perguntas que ele teria apreciado ouvir de um rapaz e não de uma menina.

      –Já li a respeito dos Thugs , papai– replicou Brucena–, trata-se de uma sociedade secreta, que culta Kali e acha que é um dever sagrado estrangular as pessoas.

      –Você não devia se informar a respeito dessas coisas– disse o General com profundo desagrado–, mas, dentro em breve, William controlará essa gente abominável.

      –E como pretende agir?

      –Deram-lhe cinquenta soldados da cavalaria e quarenta sipaios, pertencentes à infantaria. É mais do que suficiente. Gostaria eu mesmo de empreender esta tarefa, se fosse mais jovem.

      Havia dezenas de perguntas que Brucena queria fazer a seu pai, mas ele saiu do quarto levando a carta de William Sleeman e ela sabia que sua curiosidade não seria satisfeita.

      Assim sendo, tentou averiguar tudo o que pudesse a respeito dos Thuggee, mas sem grande sucesso. Mesmo em Edimburgo os livros que conseguiu comprar não lhe disseram muito mais do que aquilo que ela já sabia.

      Enquanto o Major Huntley a encarava com um brilho de suspeita no olhar, ela disse:

      –Meu primo pediu que arranjasse uma babá, mas como não consegui encontrar a pessoa de que eles necessitavam… resolvi me apresentar.

      O Major Huntley sorriu.

      –E sem lhes dar a oportunidade de rejeitá-la?

      –Sim.

      –Agora estou começando a entender. A senhorita não viajou desde a Inglaterra sem ter a companhia de alguém, não é mesmo?

      –Não. Fui assistida com muita dedicação pelo pastor Grant e sua senhora, até Bombaim. Chegaram até mesmo a encontrar alguém que tomasse conta de mim de lá até a cidade de Bhopal, mas infelizmente minha acompanhante ficou doente no último momento e em vez de esperar que eles providenciassem mais alguém decidi vir sozinha.

      –Vejo que é uma jovem cheia de iniciativa. Sabe, porém, que é fora de todo e qualquer propósito uma mulher, seja ela casada ou solteira, viajar sozinha na Índia?

      –Pensei que os ingleses tinham os indianos sob controle– ela retrucou, em tom de provocação.

      –Fazemos o que podemos. Ao mesmo tempo, mal posso acreditar que a senhorita viajaria pela Inglaterra sem uma governanta ou uma criada.

      –Sei tomar conta de mim mesma.

      –Não duvido, mas é algo que não deve tentar fazer neste país.

      Brucena lembrou-se dos revoltosos e da cena tumultuosa que eles haviam aprontado na estação. Não daria ao Major Huntley a satisfação de saber que eles, na verdade, haviam-na deixado terrivelmente assustada e não duvidava de que algo terrível havia acontecido com o bebê.

      –Agora que se encontra aqui, posso cuidar da senhorita até o fim da viagem, mas acho que o Capitão ficará muito surpreendido.

      –Está trabalhando com ele?

      –Estou, sim.

      –Então, porque tem um posto mais alto do que o dele?

      O Major Huntley sorriu.

      –Seu primo é um funcionário público nomeado diretamente pelo Governador-Geral. Administra um território muito extenso, enquanto eu comando os soldados.

      Brucena haveria de descobrir mais tarde que ele estava subestimando suas funções, mas naquele momento limitou-se a sorrir.

      –Já que está trabalhando com primo William, não quer me falar a respeito dos Thuggee? Fiquei muito interessada no assunto desde que o primo William foi nomeado para este cargo, há três anos, mas é muito difícil saber o que quer que seja a respeito deles.

      –E por que está tão interessada?

      –Tudo o que diz respeito à Índia me interessa. Na realidade, nasci aqui e apesar de não me lembrar de nada sempre tive vontade de regressar.

      O Major Huntley pareceu ter ficado muito surpreendido.

      –Meu pai serviu durante alguns anos na fronteira noroeste. Partimos da Índia quando eu tinha um ano de idade e apesar de ele regressar mais tarde, permanecendo aqui durante alguns anos, minha mãe e eu ficamos na Escócia.

      –E ainda assim o país a atrai?

      –É estranho– disse Brucena, após uma pausa–, mas desde que cheguei a Bombaim tenho como que a sensação de me encontrar em casa.

      Ele a encarou com uma certa reserva, como se achasse que ela estava se exprimindo daquele modo para conseguir um certo efeito.

      Ela, entretanto, não o olhava e sim para a paisagem, achando que aquelas terras secam e quentes, as aldeiazinhas perdidas em meio às árvores, e os búfalos que aravam a terra eram algo que ela já vira algum dia.

      Não tinha a menor ideia dos motivos que a levavam a sentir-se daquele jeito.

      –A senhorita


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