Revelando O Rei Feérico. Brenda Trim
mais lutava, mais dor irradiava do metal. Queimava-lhe a pele, fazendo-o imaginar se o aço tinha se fundindo com os seus ossos depois de a eletricidade vir comendo a sua pele.
– É inútil, Ryker. Desista. Será mais fácil se vier por vontade própria – disse o macho.
Erguendo os olhos verdes, Ryker notou que o macho estava mais perto e ficou chocado ao perceber que o conhecia. Não havia como confundir aqueles olhos azuis e o cabelo vermelho, ou as asas rubro-negras.
– Aidan? É você?
– Sim. Sou eu. Olha, você precisa ficar calmo. A mágica vai dissipar se você parar de lutar. O Conservatório não é tão ruim quanto ouvimos quando crianças. Você aprenderá a controlar seus poderes. Sem instruções, você não pode esperar canalizar e dominar suas habilidades.
Ryker quis zombar do amigo de infância. Parecia que ele recitava uma mensagem ensaiada. Era impossível esquecer as histórias que ouviram dos estudantes sendo mutilados pelas práticas de ensino de lá. E, às vezes, até pior.
O problema era que, sem acesso à tecnologia, não havia como saber a verdade, a não ser indo para a escola. A malandrice que o atraíra para Aidan agora estava completamente ausente. Aquilo devia significar alguma coisa, não é?
– Ryker – a mãe soluçou de dentro do banheiro. Outro macho estava com as mãos nos ombros dela, e se erguia acima da pequena forma com ombros fortes e um olhar feio. A ameaça era evidente. E, aquilo fez a náusea agitar as suas vísceras.
Ryker esquadrinhou a área rapidamente, e pesou as opções. A área de pedras em ruínas onde os feéricos viviam era urbana e um anátema para o que dava energia a sua espécie.
As velhas lendas diziam que os feéricos criaram Brable’s Edge como uma zona de comércio, mas a área de quinze quarteirões era rodeada por plantas e animais que alimentavam o seu poder. Ryker nunca tinha visto o reino, pois os feéricos não podiam ter acesso a equipamentos ou computadores. Tudo o que sabia era que os humanos viviam de forma muito diferente da deles.
Costumava acompanhar a mãe até as casas que ela limpava para humanos comuns. Eles tinham telas enormes que exibiam filmes e outros equipamentos que ele sequer imaginava o que eram. Diziam que os ricos tinham ainda mais coisas.
Havia apenas uma opção se quisesse escapar e encontrar uma forma de melhorar a posição do seu povo. Ficou de pé. Ryker empurrou o balcão e bateu as asas.
Felizmente, elas estavam abertas quando as algemas de contenção o prenderam ou não teria escolha a não ser a de ir com eles. No ar, ele teve uma visão melhor da Edge. A seção dos centauros era a um quarteirão e meio dali e os condomínios de apartamentos pequenos dos Barghests rodeavam os estábulos do outro lado.
Chamar a área em que os centauros moravam de estábulo era ser bonzinho. Era mais uma ruela cheia de feno e uma área maior para cozinhar. O único abrigo para protegê-los da chuva e da neve era um teto e duas paredes. O prédio dos Barghest servia como os fundos das casas, sendo que a frente era completamente aberta.
Ryker precisou se esforçar muito para voar acima dos prédios altos, mas quando conseguiu, teve um vislumbre do Conservatório e do mar adiante. Se pudesse chegar à água, então talvez fosse capaz de voar pela costa até chegar a uma área livre do controle humano.
Você enlouqueceu? Não há nada além de terra abandonada. Você não é um suicida, seu idiota. A consciência o repreendeu no segundo em que pensou naquilo. Não, não era suicida, mas os outros machos também tinham alçado voo, então não teve muito tempo para mudar de ideia.
Quando passou pela área dos Asrai, pensou que talvez conseguisse fugir. Tentou dar ouvidos ao instinto para decidir o que poderia ser capaz de fazer. Seria ótimo se conseguisse se fundir com as sombras. Não que tivesse muitas sombras naquela hora, disse a si mesmo. A invisibilidade seria perfeita para ajudá-lo a escapar.
– Ryker, você precisa desistir. As autoridades já foram notificadas – Aidan gritou atrás dele. Claro, um segundo depois uma sirene alta soou por toda Edge fazendo duendes e fadas buscar abrigo.
A faixa agora comprimia a sua cintura, fazendo com que fosse difícil respirar. A agonia fez pontos de luz dançarem em suas vistas. Ryker aumentou a velocidade e se esquivou do ataque que Aidan lançou em seu caminho.
A espiral caiu inútil no chão e provocou uma chuva de faíscas.
– Podemos ir ainda mais longe, Aidan. É só você me deixar ir embora.
– Eu não posso. Está claro que seus poderes estão descontrolados e tomando as rédeas do seu comportamento, Ryker. Pare e pense no que está fazendo.
A imensa estrutura de pedra se avultou à distância, distraindo Ryker. Estava longe demais para enxergar os detalhes, mas era óbvio que inúmeros estudantes estavam reunidos no gramado na frente do Conservatório observando o que se passava.
Não havia nada óbvio sobre a instituição para lhe dizer que estaria em perigo caso fosse para lá. Ao longo da vida, a mãe lhe contou inúmeras vezes o que aconteceu durante a guerra contra os humanos e a subsequente ruína.
O pior foi o assassinato do rei e da rainha feérica, o que deixou o povo vulnerável. Sem ninguém para tomar o manto do rei, eles ficaram indefesos. Era comum Ryker imaginar como a vida seria se eles tivessem um soberano. Os humanos não iriam dar meia-volta e fugir, mas precisava acreditar que um rei lhes daria mais uma barreira de defesa.
As asas estavam ficando pesadas com o esforço ininterrupto, mas ele se recusava a desistir àquela altura. Um barulho vindo de trás forçou Ryker a extrair cada grama de energia que ainda tinha e direcioná-la para as asas.
Ele se lançou para a frente e voou mais rápido com o esforço. Balançou no ar como um mosquito bêbado. De repente, facas fatiaram suas asas, roubando toda a sua atenção. Virando a cabeça, notou que não tinha sofrido ferimentos visíveis, mesmo que parecesse ser o caso.
Foi dito a cada jovem feérico que não deveriam voar para longe, porque havia uma barreira ao redor da Edge. Até aquele momento, a informação não passava de uma historinha para os pequenos. À medida que suas asas ficavam dormentes e paravam de bater, Ryker percebeu a dolorosa verdade sobre os poderes controlarem a vida deles.
Aidan e o outro feérico voavam em círculos e observaram enquanto Ryker caía no chão em um emaranhado de asas. Com os braços presos na lateral do corpo, não havia nada para amortecer a queda.
Quando bateu no chão duro, a vista ficou preta por vários segundos. Uma asa ficou debaixo dele enquanto as costelas batiam com força suficiente para estilhaçar as pedras.
O estalo foi logo seguido pela agonia. Cada centímetro do corpo doía, e tinha certeza absoluta de que nunca mais seria capaz de voltar a usar a asa esquerda. Felizmente, a escuridão o emborcou e o engoliu.
Pouco antes de perder a consciência, ouviu os policiais reclamando do quanto os feéricos em transição andavam difíceis aqueles tempos.
Porque estamos cansados pra caralho de ser escravos dos humanos. Pensou.
CAPÍTULO DOIS
O estômago estava revolto, Maurelle se demorou no banheiro para se assegurar de que o resto do que comeu no café da manhã decidisse voltar. Abriu a janela e desfrutou da brisa fresca de outono que soprou no pequeno cômodo. Aquilo recarregou suas baterias de uma forma que não entendeu muito bem, mas que amou mesmo assim.
Apoiando as mãos na pia, ela se encolheu quando viu as olheiras sob os olhos cinzentos e a confusão de nós oleosos que era o seu cabelo cor de rosa. Não parecia nada com a feérica vibrante que normalmente era. Até mesmo as asas rosa e turquesa estavam desbotadas.
Desde que seus poderes se manifestaram um ano atrás, ela foi relegada à casa porque não havia como não reparar na cor berrante das suas asas. Não que o desbotamento momentâneo significasse que ela poderia se aventurar fora do pequeno apartamento da família. Era óbvio que estava em transição, e era seu dever reportar para o Conservatório