Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro. Margaret Moore

Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro - Margaret Moore


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      – Esqueceste-te de quê?

      – De quem é você.

      O desprezo na voz de Gabriella atingiu Etienne como a ponta de uma lança, mas ele não deixou transparecer essa fraqueza, a qual não sabia que possuía. Em vez disso, olhou para ela, com o sobrolho franzido.

      – Gabriella, o que aconteceu à tua família não foi culpa minha – defendeu-se, com frieza na voz, uma frieza intensificada pelo desejo que ele não conseguira subjugar.

      – Como também não foi culpa sua ter sido escolhido para ocupar a minha casa – retorquiu Gabriella. – Mas é assim que as coisas são, barão DeGuerre. Cada qual é quem é. Agora, por favor, permita-me que eu prossiga com o meu trabalho, e não tente seduzir-me outra vez. Se me possuir à força, estará a cometer um crime.

      – Não tenho intenção de te possuir à força. Mas tu não podes negar que me desejas, Gabriella. Eu senti o desejo em ti. Quando vieres parar à minha cama... e um dia virás... será por tua livre e espontânea vontade.

      Gabriella olhou para ele, horrorizada e incrédula.

      – A única maneira de eu ir voluntariamente para a cama de um homem, barão DeGuerre, será depois de me casar. E eu garanto-lhe que, mesmo que fosse o último homem à face da terra, eu não me casaria consigo! Sei como tratou as suas esposas!

      – Como é que tu sabes como tratei as minhas esposas? – exigiu Etienne, irritado.

      – Todos sabem. Casou-se com elas por dinheiro e depois ignorou-as completamente!

      Etienne compreendia que as pessoas que o rodeavam tivessem aquela opinião. Em parte, era verdade; ele não amara as duas mulheres com quem se casara, nem elas o tinham amado. Ambas tinham procurado a excitação e prestígio de serem esposas de um guerreiro com a reputação de Etienne DeGuerre; em contrapartida, a riqueza e prestígio que elas lhe deram foram uma fraca recompensa pelo que tivera de suportar.

      Ninguém tinha, no entanto, o direito de o julgar; nem aquela pirralha, nem Josephine, nem ninguém!

      – Não te devo satisfações – ele arqueou uma sobrancelha. – Fala-me mais sobre o patife do teu irmão, que cometeu a criancice de sair de casa depois de uma discussão com o pai.

      – Isso não é verdade!

      – Ele não discutiu com o teu pai, e não se foi embora para não mais voltar, sem se importar com a situação em que ficou a família?

      – Será que não compreende? – Gabriella segurou com as duas mãos o encosto da cadeira. – Se ele soubesse o que estava a acontecer, teria voltado imediatamente!

      Etienne tentou imaginar como seria, ter tanta fé em alguém a ponto de acreditar piamente nessa pessoa, apesar de todas as evidências em contrário. Durante um instante, ele enterneceu-se e teve de reprimir o impulso de abraçar Gabriella, de lhe beijar a testa, os olhos, as faces. Num momento, ela mostrava-se orgulhosa, desafiadora, forte, corajosa; no momento seguinte, parecia delicada e vulnerável como uma flor rara e bela. E, no entanto, era uma mulher, fascinante e desejável, cujo beijo o desarmara, derrubando as reservas que durante anos ele erguera.

      Etienne empertigou-se. Não podia fraquejar! Não fraquejava nos campos de batalha diante dos mais temidos guerreiros de toda a Europa, e fraquejaria diante de uma donzela frágil como aquela?

      – Aceita o meu dinheiro, Gabriella, e deixa este castelo, para o teu próprio bem.

      – Não me pode forçar a ir-me embora, milorde – respondeu ela, depois de um breve silêncio.

      – Se ficares, fica a saber que te darei apenas a mesma protecção que ofereço aos demais servos. Nem mais, nem menos. Tu és... uma mulher atraente. Uma serva atraente. Com tantos homens no castelo, isso poderá criar-te problemas.

      – Basta que lhes diga que me deixem em paz. Esta é a minha casa, milorde, e aqui pretendo ficar – teimou ela, com a voz que embargou apenas por um momento.

      Etienne olhou para ela demoradamente, antes de ordenar:

      – Sai daqui.

      Gabriella olhou para ele, surpresa.

      – Sai! – gritou ele, elevando a voz como há muito tempo não fazia, incapaz de conter a raiva e a frustração.

      Etienne virou-se e aproximou-se da janela, sem olhar para trás para ver Gabriella a sair do quarto, e tampouco vendo os campos que se estendiam a perder de vista. Repetia a si mesmo que não queria Gabriella Frechette, a não ser na cama; não queria Josephine de Chaney, a não ser pelo facto de que os outros homens a cobiçavam; não precisava de ninguém, a não ser dos cavaleiros e soldados necessários para manter o que conquistara até então.

      Mas... por tudo o que era sagrado... ele não queria mais sentir-se só! Seria pedir demais, ter alguém que o amasse? Que o amasse de verdade, por ele mesmo? Isso era algo que Etienne nunca tivera. As suas esposas e amantes só o queriam pela sua aparência e reputação; os homens seguiam-no pelo seu poder; a sua própria mãe não o amara porque ele era Etienne, o seu filho; para ela, ele não representara outra coisa se não a imagem viva do pai.

      Etienne tentou recapitular a sua vida, o que conseguira realizar até então, as metas que alcançara. Ele era o rico, o poderoso, o invejado barão DeGuerre.

      E, no entanto, tudo o que conseguia recordar era o momento em que perdera o controlo; e o súbito medo e apreensão num par de olhos castanhos.

      Etienne ainda se encontrava parado perto da janela, a olhar lá para fora, quando Josephine entrou no quarto, algum tempo depois, a tentar decidir qual era a melhor cor de fundo para o tapete que trazia nas mãos, quando viu Etienne. Ela nunca o vira daquela maneira, quieto, pensativo, e uma ponta de apreensão penetrou-lhe o coração. Se acontecesse alguma coisa a Etienne, o que seria feito dela?

      – Não te estás a sentir bem, meu amor? – perguntou, solícita, largando imediatamente o tapete e aproximando-se dele. Enlaçou-o pela cintura e encostou a cabeça às costas dele. – Foi um dia cansativo? Senta-te, meu amor, que te vou servir vinho e lavar-te o cabelo.

      – Eu estou a sentir-me bem – respondeu Etienne, afastando-se bruscamente da janela.

      Ele não parecia abatido, pensou Josephine, aliviada. Com um sorriso, ela foi até à mesa onde ficava o jarro de vinho e encheu um cálice. Foi somente então que percebeu que o quarto não estava totalmente arrumado. Ou Gabriella deixara a tarefa por concluir, por cansaço ou preguiça, ou fora interrompida. Por Etienne? Teria ele dito, ou... feito... alguma coisa que levara Gabriella a sair do quarto deixando o trabalho inacabado, e que o deixara tão pensativo, quase abalado?

      As mãos de Josephine começaram a tremer e ela respirou profundamente, tentando acalmar-se. Afinal, ela era Josephine de Chaney, famosa pela sua beleza e graça. John Delaney suicidara-se porque ela o recusara; Alfred de Morneux e Ralph Bordette tinham-se ferido mortalmente em duelo, por sua causa. Certamente, ela nada tinha a temer de uma pirralha como Gabriella Frechette.

      Além de que, era muito possível que Etienne tivesse subido para o quarto com a intenção de ficar sozinho para reflectir sobre algum assunto, e mandado Gabriella sair.

      – Queres que eu fique aqui, Etienne? – perguntou, carinhosamente, oferecendo-lhe o cálice de vinho. – Ou a minha presença incomoda-te?

      – A tua presença nunca me incomoda – murmurou ele, sentando-se, com um leve sorriso nos lábios.

      – Estás com dores de cabeça?

      – Um bocadinho. Tu já me conheces bem demais, Josephine.

      Josephine observou-o a beber o vinho, com uma ruga na testa. O que é que ele queria dizer com aquilo?

      – Queres deitar-te? – indagou, com a esperança de que ele dissesse que queria ir para a cama, mas não para dormir.

      – Ainda é muito cedo – respondeu ele, distraído.

      Josephine


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