Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro. Margaret Moore

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aquele número de pessoas seria não só um desperdício como também um pecado. Sir George, olhando para Seldon com um ar brincalhão, observou que alguns comiam bem mais que outros, obviamente referindo-se à serva gorducha por quem este se interessara. Foi naquele momento que ele avistou as duas mulheres, junto ao poço, e inclinou a cabeça graciosamente, ao passar por elas.

      – Que homens tão musculados! – sussurrou Mary, fascinada. – O barão está à espera de um ataque?

      – Não que eu saiba.

      Gabriella olhou para os três cavaleiros, reflectindo que nunca se perguntara por que motivo o barão mantinha aquela força à sua volta. Talvez simplesmente fizesse parte da riqueza e do poder, pensou, curvando-se para pegar nos baldes. Mary, no entanto, estendeu um braço para a impedir.

      – Deixe, milady, eu levo os baldes – apressou-se a dizer.

      – Não, Mary – protestou Gabriella, pegando na alça de corda de um dos baldes e tentando tirar a Mary o que ela já tinha na mão. Era perfeitamente capaz de realizar as suas incumbências, e não queria ser tratada como se fosse um bibelô de porcelana.

      – Por favor, milady, deixe-me ajudar – insistiu Mary, segurando a corda com firmeza. O balde começou a balançar.

      – Dá-me esse balde, Mary – ordenou Gabriella, lançando um olhar significativo na direcção dos três homens que se dirigiam para a entrada do salão principal. – Não quero que digam ao barão que não estou a cumprir as minhas tarefas.

      Mary não largou a corda.

      – Eles não estão a olhar. E isto está muito pesado, milady.

      – Não, Mary, estou-te a dizer que posso levá-los sozinha! – Gabriella agarrou a corda e puxou com força. Com igual determinação, Mary continuou a segurar a alça do balde, que balançava precariamente entre elas. Quando a corda lhe começou a cortar a mão, Gabriella largou-a, no momento exacto em que Mary fez o mesmo. O balde voou para o ar, derramando água pelo chão, antes de se espatifar e partir, exactamente atrás de um sobressaltado Sir George. A água que sobrara esparramou-se por todos os lados, em cima de Sir George inclusive, antes de escorrer e desaparecer por entre as pedras do pátio.

      – Oh, Sir George, eu sinto muito! – gritou Gabriella, colocando o outro balde no chão e correndo para ele. – Por favor, perdoe-me!

      – Desde que não esteja a sugerir com isto que preciso de tomar banho... – brincou Sir George, contemplando as roupas encharcadas.

      Atrás dele, Donald e Seldon mal conseguiam conter o riso. Os criados do estábulo e outros servos saíram para o pátio. Guido apareceu à porta da cozinha, com as mãos cobertas de massa, e a cabeça de Alda surgiu a uma das janelas estreitas do andar superior.

      Gabriella ficou parada, desorientada, a tentar decidir o que fazer, com as mãos trémulas de nervosismo.

      – Acalma-te, minha querida – tranquilizou Sir George, com um sorriso afável e sincero. – Já fui molhado, antes, mas nunca por uma pessoa tão bonita como tu.

      Os que assistiam à cena sorriram, e Gabriella detectou risinhos e murmúrios abafados.

      – A culpa foi minha – apressou-se Mary a dizer, aproximando-se e parando ao lado de Gabriella.

      – Realmente, meninas, não importa quem foi a responsável pelo estado em que me encontro. Em todo o caso, acho melhor trocar de roupa, antes que apanhe uma constipação e depois uma pneumonia. Não seria uma causa muito heróica de morte, não acham? – Ele inclinou a cabeça. – Com licença.

      Gabriella levou uma mão à boca, enquanto Sir George entrava no salão com toda a calma, como se fizesse parte do seu dia-a-dia andar com roupas molhadas. Donald e Seldon, divertidíssimos, seguiram-no para dentro do castelo, sem uma palavra ou olhar para as mulheres. Guido voltou para a cozinha, os servos retomaram as suas tarefas, e Alda, depois de um breve momento de evidente pânico, conseguiu tirar a cabeça da janela.

      Gabriella imaginou como é que o barão DeGuerre reagiria àquele incidente, se Sir George, Bouchard, Seldon, ou um dos servos lhe contasse. Ela esperava ardentemente que ninguém mencionasse o ocorrido.

      – É uma pena que o castelo não tenha ficado para este – murmurou Mary, pensativa. – Ele é muito simpático.

      – Sim, muito – concordou Gabriella, abaixando-se para recolher os pedaços do balde partido. Suponho que a minha dívida seja maior, agora.

      Com uma expressão séria, Mary pôs-se a ajudar Gabriella.

      – Há uma outra coisa que eu lhe queria perguntar – começou ela. – É verdade que o barão estava disposto a deixar William e os outros pagarem a dívida por si, e eles recusaram-se?

      – Sim – respondeu Gabriella, colocando os bocados no fundo do balde partido.

      – Ora, todos sabem que eles têm condições para pagar, não acha, milady? – recriminou Mary, indignada. – Homens! São todos uns egoístas, se quer saber!

      – Tu dizes isso porque não viste o barão, Mary – Gabriella sentiu-se na obrigação de esclarecer. – Ele mete medo. E aumentou as rendas no dia seguinte!

      – Mas eles não lhe ofereceram nada? Depois de tudo que o seu pai fez por eles, é assim que retribuem? Eu sinto-me envergonhada, sabia?

      – Não ficarei para sempre nesta condição, Mary – lembrou Gabriella.

      – Mas não está certo!

      Mary segurou o braço de Gabriella e puxou-a para o outro lado do poço, onde não poderiam ser observadas por olhos curiosos.

      – Eu tenho umas economias – sussurrou, enfiando a mão dentro do corpete e retirando um pedaço de tecido enrolado e amarrado com um nó. – Tome, milady. Não é muito, mas ajudará um pouco. Pode dar ao barão, como parte do pagamento da dívida.

      Gabriella olhou para a oferta sincera. A sua fé no povo do seu pai, justificadamente abalada, renovou-se. Como ela queria que o barão estivesse ali, para assistir àquela cena!

      – Não posso aceitar, Mary – recusou, balançando a cabeça. – Tu podes vir a precisar desse dinheiro.

      Mary continuou com a mão estendida.

      – Milady, isto não é nada comparado com o que o seu pai nos deu. Além do mais, não posso ficar de braços cruzados, a ver milady nesta situação – Mary sacudiu o rolinho de pano. – Se não aceitar, entregá-lo-ei pessoalmente ao barão!

      Gabriella conhecia Mary o suficiente para saber que, se não aceitasse a oferta, ela seria capaz de reunir coragem e procurar o barão. Segurou a mão grossa e calejada entre as suas e apertou-a, ternamente.

      – Eu agradeço-te, do fundo do meu coração, Mary – murmurou, com sinceridade e humildade. – Sinto-me honrada em aceitar a tua oferta.

      O rosto de Mary iluminou-se.

      – As outras pessoas também querem ajudar. Jhane é uma, mas ela tem medo que William descubra. Eu disse-lhe, «O dinheiro é teu, ora bolas!» Afinal, não é ela quem faz a cerveja?

      – Mary – disse Gabriella, enfiando o saquinho de moedas dentro do cinto. – aprecio tanto o vosso carinho, que não quero causar problemas. Não insistas com Jhane para que me dê o dinheiro.

      – Bem... – Mary hesitou, como se não concordasse com o ponto de vista de Gabriella.

      – Obrigada, Mary, a sério! Isto é muito mais do que eu podia esperar – Gabriella gesticulou na direcção do que sobrara do balde. – Agora, preciso de voltar ao trabalho, embora, graças a ti, os meus dias como serva serão bem mais curtos!

      – E quero que prometa que, no dia em que sair do castelo, irá morar comigo. A minha casinha não é grande coisa, mas é minha.

      Gabriella


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