Uma aristocrata no deserto - Escondida no harém. Maisey Yates
estava mais bem qualificado do que ele para esse desafio. Não só porque tinha um grande talento para a política, mas porque era o primogénito. Se o irmão ocupasse o trono, Zachim poderia dedicar-se ao que fazia melhor, alimentar e gerir a mudança com o povo.
Já começara a fazê-lo depois de a mãe lhe ter rogado para ir ao palácio há cinco anos, quando Bakaan estivera à beira de uma guerra civil. As revoltas tinham sido encorajadas por uma das tribos da montanha, onde alguém publicara uma proclamação a detalhar todos os fracassos do rei e a incitar a mudança. A maioria das acusações contra o pai tinham sido certas, embora Zachim tivesse cumprido com o seu dever e tivesse acalmado os ânimos populares. Depois, preocupado com o estado em que o país se encontrava, deixara de lado o seu estilo de vida ocidental e ficara para mitigar os danos que o pai, cada vez mais narcisista e paranoico, causara ao povo. A morte chegara ao rei antes de ter mudado de ideias, o que fazia com que o filho se sentisse vazio por dentro. Por isso e porque o velho monarca nunca o considerara mais do que um possível sucessor ao trono.
– Alteza?
– Lamento, Staph – desculpou-se Zachim, afastando as lembranças, e começou a dirigir-se para a sua ala privada do palácio, enquanto o empregado acelerava o passo para o seguir. – Não, nada está bem. O meu irmão é muito teimoso.
– Não quer regressar a Bakaan?
Não. Zachim sabia que Nadir tinha boas razões para se recusar, mas também sabia que o irmão nascera para ser rei e que, se conseguisse superar o ressentimento, gostaria do trabalho de governar o seu pequeno reino.
Percebendo que Staph mal conseguia segui-lo, Zachim diminuiu o ritmo.
– Agora, tem outras coisas em que pensar.
Nadir acabara de descobrir que tinha uma filha e estava decidido a casar-se com a mãe. Zachim surpreendera-se muito, pois o irmão nunca acreditara no amor, nem no casamento. Ele, pelo contrário, sempre desejara ter uma família para a tratar muito melhor do que o pai os tratara.
De facto, estivera prestes a pedir a mão de uma mulher uma vez, antes de o terem chamado para o país. Amy Anderson tinha todos os requisitos que procurava numa mulher. Era sofisticada, educada e loira. O seu noivado decorrera sem complicações, embora algo tivesse feito com que Zachim repensasse as coisas. Nadir não o ajudara muito, quando o acusara de sempre ter escolhido as mulheres erradas.
Zachim despediu-se de Staph e entrou nos seus aposentos. Tirou a roupa a caminho do duche, lavou-se com a água a arder e deitou-se na cama. Combinara encontrar-se com o irmão à hora do almoço do dia seguinte, para que pudesse abdicar diante do conselho. No entanto, esperava que Nadir recuperasse a prudência antes disso.
Quando o som de uma mensagem vibrou no seu telemóvel, tirou-o imediatamente da mesa de cabeceira, agradecido por poder distrair os seus pensamentos. Era o seu bom amigo Damian Masters, com quem costumava fazer corridas de lanchas.
«Tens um convite para uma festa privada no teu correio eletrónico. Ibiza. Dei o teu endereço privado à princesa Barbie. Espero que não te importes. D.»
Ena, ena! Zachim não acreditava no destino e nos sinais, mas estivera a pensar em Amy, a princesa Barbie, como os amigos costumavam chamar-lhe. E ali estava.
Quando abriu o correio eletrónico, lá estava a mensagem em questão.
«Olá, Zachim, sou Amy.
Há muito tempo que não falamos. Disseram-me que vais à festa de Damian em Ibiza. Espero ver-te. Poderemos conversar?
Beijos,
Amy.»
Um sorriso malicioso desenhou-se no rosto do príncipe. Pelo tom da sua mensagem e pelos beijos da despedida, intuiu que talvez quisesse fazer mais do que conversar. Mas o que queria?
Pensativo, entrelaçou as mãos atrás da cabeça. Talvez não tivesse pensado muito nela nos últimos cinco anos, mas o que importava? Gostaria de verificar o que sentia ao vê-la outra vez. Assim, saberia se podia continuar a considerá-la uma candidata para ser a mãe dos futuros filhos.
Sem prestar muita atenção, enviou uma resposta curta, indicando que, se fosse à festa, falariam. No entanto, em vez de se sentir melhor, sentiu-se pior.
Cansado dos pensamentos sombrios que ameaçavam não o deixar dormir, levantou-se, vestiu as calças de ganga e uma t-shirt e dirigiu-se para a garagem do palácio. Entrou no todo-o-terreno e, depois de se despedir dos guardas, dirigiu-se para o deserto vasto e silencioso que rodeava a cidade. Sem pensar e deixando-se guiar pelo seu ânimo inquieto, saiu da estrada e levou o carro pelas dunas, iluminadas pela lua cheia.
Duas horas depois, atirou o bidão vazio de combustível para o banco de trás e praguejou em voz alta. Não se apercebera do tempo que passara ao volante nem de como se afastara. E ficara preso no meio do deserto sem gasolina e sem rede no telemóvel.
Sem dúvida, o pai teria chamado a sua impulsividade de arrogância. Para ele, fora apenas uma estupidez. Não devia ter entrado no deserto dessa maneira.
Bolas!
Naquele momento, ouviu movimento atrás dele e, quando se virou, viu que vários homens montados a cavalo apareciam no horizonte. Estavam vestidos de preto, com os rostos cobertos pelos keffiehs tradicionais para impedir que a areia lhes entrasse no nariz e nos olhos. Assim, era impossível saber se eram amigos ou inimigos.
Em poucos minutos, quando cerca de vinte estranhos estavam à frente dele, quietos e sem falar, Zachim adivinhou que deviam ser inimigos.
Devagar, observou cada um deles. Talvez conseguisse acabar com dez, dado que tinha uma pistola e uma espada. Embora talvez fosse melhor tentar ser diplomático primeiro.
– Suponho que nenhum de vocês tenha um bidão de gasolina, pois não?
O som de movimento numa das selas de couro fez com que Zachim fixasse a atenção no homem que estava no centro do grupo, que devia ser o líder.
– És o príncipe Zachim Al-Darkhan, orgulho do deserto e herdeiro ao trono, não é assim?
Bom, o pai não estaria muito de acordo com o título «orgulho do deserto» e também não era o herdeiro direto, mas Zachim pensou que não era o momento ideal para pensar nos detalhes.
– Sou.
– Ena, que coincidência – declarou o estranho, que olhava para ele fixamente com uns olhos cor de ónix.
Levantara-se um pouco de vento, mas a noite continuava limpa e, no céu, brilhava a lua cheia que o impulsionara a queimar a sua frustração com um dos seus passatempos favoritos.
O chefe do grupo dirigiu-se a um dos seus homens. Desmontou devagar e aproximou-se, até parar à frente de Zachim com uma postura desafiante. Ele manteve a expressão impassível, pensando que, se iam lutar com ele um a um, sairia a ganhar.
Então, os outros dezoito desmontaram também.
Muito bem, aquilo já era demasiado. Era uma pena que as suas armas estivessem no carro.
Farah Hajjar acordou, de repente, a meio da noite. Nunca dormia bem com a lua cheia. Era como um mau presságio para ela. A mãe morrera numa noite de lua cheia. Não conseguira adormecer naquela noite e chorara até ficar sem forças. Já não tinha doze anos, mas não o superara. Tal como não vencera o seu medo dos escorpiões… Algo difícil quando se vivia num deserto onde havia escorpiões às centenas.
Levantou-se na cama e, ao longe, ouviu um cavalo a relinchar.
Interrogou-se se o pai estaria de regresso de uma das suas reuniões de uma semana para discutir o futuro do país. Depois da morte do horrível rei Hassan, era da única coisa que falava. Disso e do seu temor de que o príncipe déspota Zachim governasse como o pai. O príncipe tivera uma vida de conto de fadas antes de voltar a Bakaan há cinco anos, se o que as revistas cor-de-rosa que ela lia contavam fosse verdade. Por isso, suspeitava que o pai tinha razão sobre o herdeiro ao trono.