Uma aristocrata no deserto - Escondida no harém. Maisey Yates
Não, não me parece. A tribo de Al-Hajjar nunca reconhecerá o poder dos Darkhan e não consigo acreditar que a minha própria filha me fale assim. Sabes muito bem o que me arrebataram.
Farah suspirou. Sim, o rei recusara-se a abastecer as regiões contíguas a Bakaan com provisões médicas, entre outras coisas. Por isso, ninguém pudera salvar a vida da sua mãe grávida, o tesouro mais querido do pai. Ela nunca bastara para acalmar a sua dor.
O pai continuou a enumerar tudo o resto que os Darkhan lhe tinham roubado: terra, privilégios, liberdade. Eram as mesmas histórias que ouvia desde pequena. E, na verdade, estava de acordo com a maioria das suas acusações. O falecido rei de Bakaan fora um tirano egoísta que nunca se preocupara com o povo.
No entanto, na sua opinião, sequestrar o príncipe Zachim não era uma maneira de resolver os velhos problemas. Sobretudo, quando era uma ofensa que se pagava com a prisão ou a morte.
– Como é que isto vai melhorar as coisas e trazer a paz? – inquiriu ela, apelando ao seu sentido racional.
O pai encolheu os ombros.
– O país não terá nenhuma oportunidade com ele no trono. É muito poderoso.
Sim, Farah ouvira dizer que o príncipe Zachim era poderoso. Também ouvira dizer que era muito bonito, o que as fotografias que vira publicadas na imprensa cor-de-rosa confirmavam. Embora não se preocupasse com o aspeto dele!
– E o que se passará agora? O que fará o conselho de Bakaan?
Pela primeira vez desde que Farah entrara, o pai mostrou-se inseguro. Levantou-se e começou a dar voltas pela tenda.
– Ainda não sabem.
– Não sabem? – repetiu ela, franzindo o sobrolho. – Como é possível que não saibam?
– Quando estiver pronto para revelar os meus planos, fá-lo-ei – afirmou o pai.
Isso significava que não tinha nenhum plano, adivinhou ela.
– Além disso, não é algo de que queira falar contigo. E porque estás assim vestida? Essas botas são de homem.
Farah bateu com o pé no tapete. Esquecera-se de que não tirara a roupa velha que usava para trabalhar com os camelos. Mas, iam falar da sua vestimenta quando tinham sequestrado o homem mais importante do país?
– Isso é o menos importante…
– Não é, se eu o disser. Sabes o que penso.
– Sim, mas penso que há coisas mais… urgentes para discutir, não achas?
– As cartas já estão lançadas. Não há mais nada para discutir.
Com um ar cansado, o velho chefe deixou-se cair nas almofadas.
– Pelo menos… Está bem? – quis saber ela, com o coração apertado, temendo que lhe tivessem batido. Isso só pioraria as coisas ainda mais.
– Para além de que o maldito homem se recusa a comer, sim.
– Sem dúvida, pensa que a comida foi envenenada.
– Se quisesse matá-lo, usaria a espada – declarou o pai.
– Talvez essa seja a solução – indicou Amir. – Matamo-lo e desfazemo-nos do corpo. Assim, ninguém poderá atribuir-nos a sua morte.
Farah lançou-lhe um olhar assassino.
– Não consigo acreditar que estejas a falar assim, Amir. Para além de ser uma barbaridade, se descobrissem no palácio, dizimariam a nossa aldeia.
– Ninguém descobriria.
– E ninguém vai morrer – assegurou ela, pondo as mãos na cintura. – Irei vê-lo.
– Não te aproximes dele, Farah! – ordenou o pai. – Tomar conta do prisioneiro é trabalho de homens.
Ela mordeu a língua para não responder que o pai não estava a fazê-lo muito bem se o prisioneiro se recusava a comer. Sem dizer nada, virou-se.
– Onde vais? – gritou Amir, num tom autoritário.
– Vou comer – indicou ela, tensa. – Parece-te bem?
– Gostaria de falar contigo.
Farah sabia que estava à espera de uma resposta sobre poder cortejá-la ou não, mas não estava de humor para enfrentar a sua reação quando se recusasse.
– Não tenho nada para te dizer por enquanto – informou ela.
– Espera por mim lá fora! – ordenou Amir, cerrando os dentes.
Ela sorriu para si. Nunca obedeceria às ordens dele!
Depressa, saiu da tenda. Lá fora, o vento sacudia o acampamento, mas o céu continuava limpo. Pelo menos, não parecia aproximar-se uma tempestade.
Decidiu não perder tempo a comer e dirigiu-se para a única tenda vigiada por guardas. Estava furiosa com o pai pelos seus atos e também estava furiosa com o príncipe, o filho do homem que devastara a sua vida para sempre ao ser o responsável indireto pela morte da mãe.
Mesmo assim, precisava de manter a calma para procurar uma maneira de tirar o pai daquela confusão antes de fazer algo ainda pior… como ouvir os conselhos de Amir.
Capítulo 3
Zachim retorceu as mãos e os pés atados com cordas. Doía-lhe o estômago de fome.
Normalmente, não era um homem fácil de zangar. Depois de três dias naquele buraco, nas mãos de uns selvagens da montanha, estava vermelho de raiva. E não era apenas por eles. Fora um estúpido por se afastar tanto da cidade sem dizer a ninguém para onde ia.
Esfregou as cordas dos pulsos contra a pequena pedra bicuda que escondera no colo. Apanhara-a do chão quando fingira cair ao ir à casa de banho no dia anterior. Como se recusara a comer, não lhe tinham revisto as cordas e, graças a isso, conseguira ir rasgando uma das cordas a pouco e pouco. Quando tivesse as mãos livres, seria mais fácil desatar os tornozelos e sair dali.
Apoiou a cabeça contra o poste sólido de madeira a que estava preso por uma corda à cintura. Permitia-lhe movimento suficiente para se deitar no chão poeirento, mas pouco mais. Sentia a falta da sua cama confortável no palácio! Era irónico, se pensasse que, há três dias, se sentira desesperado por sair dos seus muros.
Devia ter cuidado com o que desejava, recordou-se, com amargura.
Interrogou-se o que teria acontecido na sua ausência e como o irmão estaria a agir diante do seu desaparecimento. Também se questionou porque não ouvira nenhum helicóptero a sobrevoar a zona.
Fletindo os músculos duros, tentou ignorar a fome que o embargava. Estivera em situações piores durante o seu treino no exército, embora não desejasse que alguém passasse pelo que estava a passar naquele momento. Bom, talvez só Mohamed Hajjar e o seu ajudante pomposo que pensava que era mais importante do que um rei.
O som de passos na entrada da tenda fê-lo levantar a cabeça e esconder a pedra. Quando se abriu a porta, fingiu que estava a dormir, esperando que o deixassem a sós novamente o quanto antes.
Alerta, ouviu o som de passos a aproximar-se. Devia ser um soldado muito leve, pensou, um peso-pluma. Alguém que podia derrubar com facilidade, se fosse preciso. Além disso, pelo seu cheiro, parecia que estivera muito tempo com os camelos.
– Sei que não estás a dormir – declarou alguém, num tom suave e sensual.
Bolas, aquela voz não parecia a de um soldado, pensou, sentindo que o seu corpo reagia diante do estímulo. Devagar, Zachim abriu os olhos, vencido pela curiosidade. À frente dos seus olhos, elevava-se uma figura esbelta com calças de combate e uma túnica escura por cima de uns seios pequenos e intumescidos. Levantou o olhar para uma cara feminina que não sorria.
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