Castrado. Paulo Nunes

Castrado - Paulo Nunes


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pudesse responder, um garçom tagarela aproximou-se dela, cumprimentando-a, desejando-nos uma boa-noite e perguntando o que queríamos pedir.

      Ela o saudou, falando sensualmente, desejando-lhe uma boa-noite, enquanto deslizou suas unhas vermelhas sobre as costas de uma das coxas do garçom, fitando bem em seus olhos e molhando o lábio inferior. Em uma fração de segundos, ela lançou sobre ele seu desejo, como uma feiticeira que não faz esforço para conseguir o que quer com a sua magia. O rapaz a encarou e, logo, deu uma olhada em seu par de seios, abrindo um sorrisinho de boca fechada, com certeza, entusiasmado. Nisso, ela virou-se para mim, que estava concentrado no que via, e perguntou o que queria comer. Respondi que ela poderia escolher para nós, tentando ser gentil, e deixá-la confortável, enquanto assimilava tudo que via e relaxava.

      — Finn, vamos querer dois cones de batatas fritas para começar. E uma água, por favor. Quer algo mais forte? — perguntou, olhando para mim.

      Balancei a cabeça que não, e vi o garçom sair com nosso pedido. Nisso, os olhos dela se voltaram para mim novamente.

      — Então, por que não me fala de você — sugeriu.

      — Confesso que não sei o que dizer. Estou um pouco nervoso — e sorri para que minha frase não soasse em tom desagradável a ela.

      — Nervoso, por quê? Não é a primeira vez que você sai com uma mulher, é?

      — Não. Já saí com mulheres, sim. Mas é a primeira vez que... — e não consegui terminar a frase, pondo-me imediatamente a caçar palavras para continuar, quando fui interrompido por ela.

      — Com uma puta?

      — Sim. É a primeira vez que estou com uma prostituta. É isso.

      — Relaxa. Logo você se acostuma. Com esse rosto lindo que tem, quase não entendo porque está me pagando. As meninas devem se jogar em seus braços, não? — e deu uma gargalhada.

      — Digamos que não tenho do que reclamar — respondi.

      — Então, fale-me um pouco de você. Quero ouvir o que tem a me dizer — e, novamente, fez aquele gesto com o cotovelo sobre a mesa, repousando a mão no rosto.

      Ela fica tão sexy ao jogar seu corpo para frente dessa forma. É como se estivesse tão disponível, tão entregue. Pisquei os olhos, tentando me concentrar. Respondi.

      — Por que não começamos com você? Fale-me um pouco sobre si — e, quase que instintivamente, imitei seu gesto, repousando meu cotovelo sobre a mesa, apoiando meu rosto com a mão.

      E, então, ela começou a falar. Disse-me que havia nascido em Marken, Holanda, e aos dezesseis anos resolveu sair de lá e morar em Amsterdã, pois achava que sua cidade natal havia parado no tempo, e seus desejos e ambições jamais iriam se realizar morando lá. Na capital, tentou conseguir trabalhar e estudar, mas não obteve sucesso, e a prostituição se apresentou como uma opção rápida e fácil a alguém que, como mesmo disse, tinha fome e precisava pagar o aluguel. Contou, ainda, que se apaixonou por um cliente aos dezessete anos, que, à época, era casado com uma mulher. E, dele, engravidou aos dezenove, dando à luz à menina Carolien, com quem morava em uma casa alugada. Acrescentou que a filha sempre soube que ela era prostituta e valorizava-a por sua coragem, mas optou por se dedicar aos estudos, pois pretendia trabalhar como veterinária. Ela afirmou que a única fonte de renda da família provinha dos programas que fazia, e que, além de não poder parar por precisar sustentar a casa, gostava de sexo. Lamentou ter passado algumas situações desagradáveis com clientes que a destrataram, foram rudes com ela e agrediram-na, mas não se arrependia de ter entrado naquele caminho, pois a prostituição, segundo ela, tornou-a uma mulher mais forte e livre, inclusive na cama.

      No meio da conversa, Finn nos levou os cones com batatas fritas e diversos molhos esparramados sobre elas. Ouvindo atentamente o que a prostituta contava sobre sua vida, entre uma mordida e outra naquelas batatas grossas e crocantes, pensava em quão excitante devem ter sido as experiências que ela já teve na cama. Deixando-a à vontade, eu ficava em silêncio, mantendo meus olhos fixos nos dela, enquanto sua boca se mexia sem parar, narrando um pouco da sua história para mim. Percebendo que não tinha mais o que contar sobre sua trajetória de vida, brevemente resumida por ela, perguntei:

      — Deve ser instigante estar todos os dias na cama de vários homens em uma única noite, não? — e dei um sorrisinho para ela, enquanto lancei um olhar lascivo e curioso sobre seu rosto.

      Ela entendeu o que eu queria saber, e não hesitou em falar:

      — E de mulheres também — e deu mais uma gargalhada com a boca cheia de batatas.

      — Muitas mulheres a procuram? — perguntei, entusiasmado.

      — Muitas. Algumas para satisfazerem seus maridos. Outras para se satisfazerem. São dois tipos de sexo muito diferentes. O tempo me levou a entender que a dinâmica e a energia de um homem são diferentes das de uma mulher. Adaptei-me aos gostos de cada um, e, hoje, é mais fácil para agradá-los, sejam juntos ou separados — e terminou a frase quase sussurrando, sugerindo que gostava de transar com ambos os sexos, dando mais uma gargalhada ao final.

      Suas risadas vulgares e escandalosas chamavam a atenção de alguns clientes do bar, e isso imprimia, em mim, uma sensação de liberdade, ao saber que tinha em minha mesa uma mulher que não se importava com convenções e reputações, mas que mostrava o que era, sem máscaras ou dissimulações. Adoro vê-la sorrir dessa forma tão estapafúrdia!

      Nossas batatas acabaram, e, então, ela limpou seus dedos em um guardanapo, enquanto falou:

      — Mas não seja mal-educado comigo. Não me deixe aqui falando sozinha. Conte-me um pouco de você também.

      Balancei a cabeça em negativa, sorrindo para não parecer rude com ela, já sentindo algumas emoções pulsarem dentro de mim.

      — Tenho certeza de que um homem belo como você deve ter histórias interessantes para contar, não é? Algo que aconteceu no colégio, talvez? Uma mulher por quem se apaixonou? Ou um homem? Fale-me alguma coisa. Contei quase a minha vida inteira para você. Tenho certeza de que...

      — Você não entenderia o que fiz — disse, interrompendo-a com uma única frase, percebendo seus olhos apertarem-se e sua cabeça mover-se para o lado, analisando-me melhor.

      Instantes depois, com a voz suave e maternal, comentou:

      — Por que não tenta me contar e me deixa decidir se entendo ou não?

      Balançava minha cabeça, tentando controlar minha emoção, buscando forças para sorrir, quando me percebi desabar em um choro. Logo, solucei e cobri meu rosto com as mãos, evitando minha vergonha. Ela ficou em silêncio até que eu conseguisse controlar minhas lágrimas e limpá-las de minhas bochechas. Então, sorriu para mim e disse:

      — Acho que sei o que quer de mim esta noite. E por mais que pense que não vou conseguir entender, quero ouvir o que está preso aí dentro do seu coração.

      Eu sorri para ela, como se dissesse que iria contar o que aconteceu. Nisso, fiz força para controlar a gargalhada que quis dar, quando a vi gritar para o garçom, chamando a atenção de todos que estavam no bar:

      — Finn, traga-me dois jenevers! — e, mais uma vez, repousou seu cotovelo sobre a mesa, batendo levemente os dedos sobre as bochechas, aguardando que eu começasse a falar.

      Respirei fundo e contei minha história a ela. Naquele momento, tive vontade de revelar um segredo que somente eu sabia. Uma realidade aparentemente inofensiva, mas que, por trás dela, escondia o quão complexa e nebulosa minha mente havia se tornado. Evitava pensar sobre aquilo em lugares não administrados. Era perigoso e fatal acessar esses quartos escuros da minha mente, principalmente com pessoas que não poderiam oferecer a dose de compaixão e empatia que tal ação exigia. Decidi não falar e manter a farsa que propaguei no passado.

      Após me ouvir atentamente, aquela mulher, ainda tentando se recuperar do choque, fez-me apenas uma pergunta:

      — Quanto


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