Castrado. Paulo Nunes
— e tentei me controlar para não chorar novamente.
— Sinto muito. Lamento que tenha passado por tudo isso. Mas veja pelo lado positivo. Depois que tudo isso acabar, poderá ter sua vida de volta — e sorriu com a boca e com os olhos, tentando me consolar.
— É verdade. Mas eu estou organizando um plano para executá-lo ao longo desse tempo de espera. Não sei ao certo por que vim a Amsterdã, mas, pelo que já pensei em fazer, precisarei de alguém como você. No momento certo, vou procurá-la — e vi seu rosto se encher de curiosidade.
— Pode contar comigo. Ficarei feliz em ajudar — e piscou os olhos para mim.
Mais aliviado e calmo, depois de ter chorado e contado minha história para ela, tentando harmonizar a conversa novamente, comentei:
— Você ainda não me disse seu nome.
Ela repetiu aquele gesto de rebolar o pescoço para trás, sacudindo levemente o cabelo, exibindo seus ombros, tentando sensualizar para mim. Nisso, meus olhos encontraram suas orelhas, que prendiam um par de brincos discretos. Eles tinham uma espessura fina, em forma de espiral, com detalhes de pequenos círculos indianos dourados. Vendo-os, paralisei meu rosto e pus-me a observá-los com mais atenção, enquanto ela me encarava curiosa, sem nada dizer, tentando entender o motivo da mudança das feições e da minha testa franzida. Percebendo que eu observava sua orelha esquerda, virou levemente à cabeça para a direita, a fim de facilitar minha visão. Ela e eu estávamos próximos. Então, pude levar minha mão até o brinco e tocá-lo. Contemplando o lóbulo da orelha e aquele acessório pendido, ouvi dela:
— São lindos, não? Quer usá-los? — perguntou e, logo, deu um sorrisinho de boca fechada para mim.
Ainda com os olhos fixos em suas orelhas, acariciando o lóbulo e o brinco, respondi.
— Rachel. Todo o tempo em que estiver comigo, seu nome será Rachel — e pisquei meus olhos, já com minha pupila fixa na dela, ao abri-los.
Ela não entendeu nada, mas achou interessante poder usar outro nome pelo tempo que estivesse comigo. As expressões de seu rosto confirmaram isso para mim. Então, comentou e perguntou, de forma sugestiva:
— Você que manda. Qual o seu nome? Quer ir para um lugar mais íntimo? — e lançou um olhar de luxúria sobre mim, demonstrando claramente que desejava me levar para a cama.
Encarei-a, depois de afastar minhas mãos de sua orelha, retornando meu corpo para a posição que estava antes, e respondi:
— Meu nome é Gaius. Iremos, sim. Quero você e Finn na minha cama hoje.
Ela moveu sua cabeça para baixo, quase encostando o queixo no ombro, expressando seu semblante de surpresa e admiração por eu estar dizendo o que queria para aquela noite, e falou:
— Acho que os jenevers estão começando a fazer efeito — e fez cara de safada para mim.
— Parece que sim — respondi e devolvi o semblante de lascívia para ela.
— Preciso falar com ele antes. Não sei se vai querer — e levantou-se da mesa para tentar realizar o meu desejo.
Nisso, eu disse:
— Ofereça dois mil euros. Se ele recusar, mande-o à merda, pois ele não vale tudo isso — e, logo, ouvi-a gargalhar escandalosamente.
Instantes depois, ela voltou e confirmou:
— Ele topou por mil e quinhentos. Os outros quinhentos, você paga para mim — e piscou os olhos, achando-se esperta demais por ganhar mais do meu dinheiro em tão pouco tempo.
— Você merece! — e dei três batinhas com as palmas das mãos, aplaudindo-a pela proeza em convencer um garçom holandês a fazer sexo comigo e com ela ao final do expediente.
— Vou pedir algo para comermos e um pouco mais de... — falava, quando a interrompi, dando o último gole no gin holandês, logo batendo a pequena taça na mesa com força.
— Rachel, pergunte a Finn a que horas devemos vir buscá-lo aqui. E leve-me a algum lugar para dançar. Agora.
Do lado de fora do bar, enquanto caminhávamos para um clube erótico de dança, Rachel e eu gargalhávamos ao tentarmos adivinhar qual o tamanho do pênis de Finn. O clima que se instalou entre nós era agradável e leve. Ela não estava bêbada, e eu consegui sentir que sua alegria era espontânea. Sem motivação nenhuma, de supetão, ela parou no meio da rua, encarou-me e perguntou:
— Espere aí. Uma coisa não ficou clara na história que você contou lá dentro. O que aconteceu com a cadela Helena?
Estava alguns passos à frente dela. Parei, encarei-a, enquanto me aproximava, e já com meus lábios tocando aqueles brincos baratos, sussurrei em seu ouvindo:
— Em uma das brigas, tomei a arma, enfiei no cu da cadela e atirei. A bala saiu pela boca dela. Mesmo morta ao chão e sangrando pela boca e pelo cu, fiz questão de dar mais dezessete tiros na cabeça. E, antes de sair, chutei com força sua barriga e vi mais sangue espirrar de sua boca — e afastei meu rosto do dela, encarando seus olhos com satisfação, aguardando sua reação ao que tinha ouvido.
Rachel me olhou sério, e, instantes depois, comentou:
— Eu não teria feito nada diferente do que fez — e deu uma gargalhada, novamente repousando suas mãos em seu quadril.
Nisso, percebendo que o gin já tomava conta do meu corpo e mente, pensei: A bebida afrouxa sua boca, Gaius. Cuidado com ela. Não esqueça que não deve confiar em ninguém, muito menos em uma puta.
Rachel e eu entramos no Bananen bar, um clube erótico de stripers do Bairro da Luz Vermelha, que carrega em sua história a audácia de Maarten Lamers, ao driblar as autoridades locais na década de 1970. À época, diversas licenças de bebidas foram negadas ao pequeno estabelecimento, onde cafés eram servidos por mulheres nuas aos clientes. Engenhoso, Maarten procurou o chefe de polícia e afirmou que tinha fundado uma igreja para satanás dentro do clube, o que conferia a ele a partir daquele momento o direito de ser chamado de Monsenhor Lamers. E, ainda, que as bartenders eram irmãs da ordem de Wallburga, e os seguranças na porta eram colecionadores. O atrevimento de Lamers excedeu todos os limites ao impor o ato de morder a banana como um ritual religioso. Arrogando-se o direito de liberdade religiosa, o empresário conseguiu manter o clube de sexo aberto e funcionando. Suas moças serviam cafés e bebidas totalmente peladas, e, ainda, dançavam sobre os homens, enquanto descascavam bananas e as chupavam e mordiam de forma provocante, característica essa que conferiu sucesso ao local desde o seu início. O ápice dos shows das stripers ocorria quando elas retiravam as bananas das cascas e enfiavam em sua vagina, arreganhando suas pernas sobre as mesas dos homens e fazendo-os mordê-las até que os lábios deles tocassem e lambessem seus clitóris. A intitulada igreja ganhou notoriedade e publicidade com o tempo, chegando à marca de mais de quarenta mil fiéis, o que despertou a atenção do Departamento de Justiça e de Impostos da Holanda, visto que igrejas são isentas de pagamentos de tributos ao Governo. Depois de uma cautelosa investigação, descobriu-se que Lamers já havia faturado milhões de euros com o clube de sexo disfarçado de igreja de satanás e que vivia viajando de país em país, sendo capturado em um castelo na França anos depois. Para evitar ficar preso, um acordo de milhões de euros foi feito com o Departamento de Justiça holandês, o que incentivou Maarten a continuar seus investimentos no mundo do sexo, tornando-se, depois, proprietário do teatro erótico Casa Rosso, onde começou a trabalhar como guarda antes de adquirir fortuna, o Hospital Bar, o Museu erótico e, finalmente, um peep show, compondo assim o Grupo Otten, um dos mais influentes do entretenimento adulto. O homem que driblou o Governo holandês por anos enricou incentivando e alimentando o desejo de sexo das pessoas.
É claro que eu não sabia dessa história na noite em que entrei no clube de streepers com Rachel, pois, além de estar começando a ficar bêbado, queria mesmo era dançar e preparar-me para o sexo que teria com Finn e Rachel depois daquela balada. Mesmo não sabendo da história das bananas nas vaginas, isso não me impediu de, naquela noite,