Castrado. Paulo Nunes
e ligações por quase quatro dias, mas, depois, procurei-o e convenci-o a ir ao médico e investigar o que acontecia para que gozasse tão rápido comigo, visto que aquilo não era comum nele. Precisava estar com Aidan, mas na situação em que ele se encontrava, seria difícil para mim. Alexander me recomendou, veementemente, que não visitasse o clube de sexo próximo ao Rio Hudson, pois isso poderia contribuir para que a minha imagem ficasse comprometida. Desobedeci-o e fui conhecer aquele lugar instigante na sexta-feira daquela mesma semana sem ele saber. No outro dia, informei a ele que não tinha interesse em comprar o clube do sexo, e pedi que procurasse outra empresa para compor o projeto dos próximos três investimentos. Alyce contratou George para preparar meus drinks, Peter, como cozinheiro, e Max, como meu relações públicas. Precisava de alguém que entendesse a forma como me comunicava com as roupas, então, tive a ideia de chamar um velho amigo para cuidar disso. Desiludido por não ter conseguido ingressar na Gucci de Florença, e abandonado por Aidan durante o meu sequestro, Richard sobrevivia como freelancer da Vogue, que não pagava tão bem para manter o estilo de vida com que havia se acostumado quando ainda estudava e era sustentado pelos pais ricos. Richard não pensou duas vezes em aceitar a generosa quantia que propus a ele para me manter antenado com o mundo da moda e cuidar do meu visual e roupas, trabalhando duas ou três vezes por semana mais os dias em que eu tivesse eventos para ir. Os dias em que estive brigado com Aidan, Ryder dormiu todas as noites em minha suíte. E Juanita e Rosa avançavam no aprendizado do inglês com as aulas de James. Arthur, assim como eu, consolava-se nas fotografias e alimentava a saudade que não parava de machucar.
Peter, Max, Richard, George e Alyce aguardavam o momento em que compraria meu apartamento em Nova Iorque, e, assim, pudessem começar a trabalhar para mim. Para que isso acontecesse, precisava de Aidan, pois já tinha escolhido onde queria morar. Quando disse qual apartamento queria comprar a Aidan, ele hesitou e considerou o valor exorbitante. Mas depois que comentei que pagaria a metade e que lá seria o lugar onde nós dois moraríamos, vi um sorriso surgir em seu rosto. Em seguida, a preocupação dele ao saber que a cobertura ficava na Park South 220, que custaria mais de duzentos e trinta milhões de dólares e, também, que ele teria que desembolsar mais de cento e quinze milhões, caso quisesse me ter em casa todas as noites quando chegasse do trabalho. Aidan coçou a nuca discretamente como se estivesse temeroso ao gastar tanto dinheiro em um apartamento, mas, logo em seguida, deu um sorrisinho e balançou a cabeça, dizendo sim. Eu o beijei e pedi um champanhe ao garçom para comemorar. Na noite daquele almoço com ele, transamos em minha suíte no The Plaza, e mais uma vez ele teve uma ejaculação precoce durante o sexo. Mas, dessa vez, não briguei com ele e dormi em seu peito durante toda a noite, como ele mesmo pediu.
Depois daquela semana em que tudo se organizou e nós compramos o apartamento até o momento em que o pai de Aidan, o Senhor Daan, morreu, passou-se um ano. Há um ano, Aidan e eu morávamos juntos e tínhamos uma relação. E, durante esse tempo, estive orquestrando minunciosamente o que faria e como distribuiria as ações desse plano. Estabeleci uma linha do tempo para que as coisas acontecessem de forma gradual. E com a morte do pai dele, imaginei que fosse interessante começar a pôr em prática o que pensei.
Na manhã em que Alyce me contou sobre a morte do Senhor Daan, ainda no banho, relaxado sob aquela água que limpava e organizava meus pensamentos, lembrei-me de algumas coisas que aconteceram desde o momento em que voltei a Nova Iorque pela segunda vez até aquele dia fatídico, conforme descrevi. E resolvi que não poderia desperdiçar aquela oportunidade. Era o momento perfeito. Alyce e os seguranças me esperavam na sala de estar do meu apartamento e, juntos, iríamos pegar o avião que me levaria ao Havaí para encontrar Aidan e seu pai morto. Depois de vestir a roupa, encarando meu rosto levemente maquiado no espelho do banheiro, Rosa entrou em meu quarto e perguntou, solícita:
— Quer comer alguma coisa antes de sair?
— Não, Rosa. Obrigado. Arthur está no colégio? — perguntei, deslizando o pincel com um pouco de pó em minhas bochechas e testa.
— Sim. Ele e Juanita estão animados com o retorno das aulas agora no fim do verão — e passou a juntar os lençóis da minha cama para lavá-los.
— Por favor, diga que precisei viajar e não estarei em casa para jantar com ele. Dê-lhe um pouco de atenção e não o deixe assistir à TV de forma nenhuma. Não quero que ele saiba da morte do Senhor Daan e de outras coisas pela imprensa. Melhor, mande retirar a TV do quarto dele e desligue a da sala. Se ele perguntar, invente que a empresa informou que fará uma manutenção pelos próximos dias. Invente alguma coisa, mas não o deixe assistir à TV pelos próximos dias. Entendeu, Rosa? — e larguei o pincel, procurando com os olhos um brilho labial incolor que hidratasse meus lábios.
— Pode deixar.
— São quase 17h. Devo chegar no Havaí de madrugada ou no início da manhã. Não sei quando conseguiremos retornar. Peço a Alyce para ligar com notícias — e, depois, fui até ela, encostei minha bochecha em seu rosto, carinhosamente, fazendo som de um beijinho, despedindo-me.
Enquanto caminhava pelo corredor dos quartos até a sala, liguei para meu relações públicas, Max:
— Precisamos antecipar a publicação do vídeo. Faça isso agora mesmo. E se certifique de que o estrago seja grande nos tabloides e internet. Estou falando em nível internacional. Entendeu, Max? — e desliguei, depois que ele afirmou que faria o que pedi imediatamente.
Ordenei a Max para enviar anonimamente aos tabloides norte-americanos um vídeo meu de dezessete minutos, onde estou transando com dois homens negros e bem-dotados. Na cena, um está embaixo de mim e o outro sobre mim. Estou recebendo uma dupla penetração anal, e fiz questão de, antes de iniciar a gravação, pedir ao cinegrafista para focar bem em meu rosto e em meu ânus, principalmente quando o sangue estivesse escorrendo. Considerando a situação e os meus propósitos, imaginei que o funeral do pai de Aidan fosse um momento bom para ele lidar com uma traição pública e uma exposição dessa natureza. Confesso que, depois que encerrei a ligação com Max, não me contive e dei um sorrisinho malvado, ansioso para que o escândalo explodisse o mais rápido possível. Não sei explicar o porquê, mas, naquele instante, lembrei do Grande dragão vermelho, de Blake, e, em uma fração de segundos, tive a certeza de que o placar entre nós dois era de um para mim e zero para o dragão.
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CAPÍTULO DOIS
Amsterdã
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No momento em que retornei a Nova Iorque pela primeira vez, um ano e seis meses antes da morte do Senhor Daan, Aidan e eu entramos em um acordo sobre o que fazer a partir dali. Na ocasião, disse a ele que precisava de um tempo para organizar minha cabeça, alegando que viajar seria algo importante para mim e me faria bem. Prometi que voltaria a Nova Iorque e o procuraria. Aidan não acreditou no que falei e não queria permitir que eu viajasse, alegando que eu já havia quebrado a promessa que fiz a ele uma vez, quando o convenci a me levar de Tijuana para Monte Carlo, para conversar com papai sobre tudo que Pablo me contou sobre sua mãe em troca de me separar de Maison para ficar com ele. Durante a discussão, ele relutava veementemente, argumentando que eu estava muito abalado por ter passado dois anos de país em país como um foragido. Mesmo depois de todas as minhas explicações, Aidan se mantinha inflexível em não me deixar viajar, reafirmando, por diversas vezes, que o que tinha aceitado fazer por mim era contra seus princípios e, também, que por causa daquilo, tinha a certeza de que perdeu a amizade de um amigo para sempre. Ele cobrava a minha presença como recompensa por aquilo que aceitou fazer por mim. De fato, sem ele, jamais teria conseguido o que queria naquele momento. Estávamos em um impasse, pois eu queria viajar, mas não podia romper com ele, visto que já tinha em mente o que faria em um futuro próximo. Só precisava encontrar uma maneira de convencê-lo a me deixar viajar. Então, comecei a chorar, dizendo coisas desencontradas, argumentando que não conseguia ficar em Nova Iorque naquele momento. Não demorou muito e, logo, vi o rosto dele se compadecer ao olhar para mim. Nisso, emocionado, abraçou-me e rendeu-se, afirmando que eu poderia viajar, mas que sabia que eu não o procuraria depois, pois já tinha mentido para ele uma vez. Apertei o corpo de Aidan contra o meu