Um Julgamento de Contos de Fadas a Colarinho Branco. Marcos Sassungo

Um Julgamento de Contos de Fadas a Colarinho Branco - Marcos Sassungo


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silêncio daquela noite trôpega. A noite estava tão abstratamente bela quanto o país das maravilhas no mundo da Alice. Um luar cheio de brilho e pacato. Pela janela, tudo se podia ver. Eram duas da manhã de sexta-feira, quando eu me pus em pé e, silenciosamente, convidei a porta a abrir sob total silêncio e fiquei no claustro do quintal sob um olhar atento ao luar e às estrelas que não paravam de concorrer no brilho; uma brilhando melhor que a outra. O silêncio, enfim amadureceu os meus pensamentos e na minha imaginação nasceu os feixes da sua imagem Santa. Ela estava vagando nos meus pensamentos e a busquei propositadamente para tornar aquele momento mais hipoteticamente romântico. Indubitavelmente, o espaço se tornou o lugar mais romântico que eu já tive. Cheio de um brilho e com uma coragem romântica. Emaranhado e num mundo fantasticamente de paixão a cor Preto e Branco, construí arquitetonicamente um plano de poder declarar-me. Foi a ideia mais absurda que eu já tive. E saber que aconselhei o meu amigo Batinho a fazer o mesmo, perdi-me na minha própria ideia, e no meu próprio princípio. Enfim, estava perdido no deserto dos meus pensamentos triturados com aquela ideia oca. E percebi que no mercado da vida, os homens são convidados e desafiados a sonhar e o sonho desafia o homem a vencer a dor, as lágrimas e o punhal do sofrimento. O sonho desafia o homem a treinar o seu eu para formação do seu carácter e personalidade. Os sonhos maltratam homens sonhadores de sonhos. Alguns bons e outros ruins. Mas a verdade é que nenhum sonho é completamente ruim, se formos capazes de alimentá-lo com a dor do compromisso e com o sofrimento da persistência. Um sonho é uma semente; ela precisa de todas as condições suficientes para brotar, crescer e dar frutos. Eu tenho várias sementes de sonhos como qualquer um. Por isso, não sei ao certo quem eu me tornarei de verdade ou a que status responderei nessa casa universal; médico, advogado, engenheiro, escritor, cantor. Eu não sei. Naquele momento, procurei, de alguma maneira, convidar a minha atenção a lei de Newton; toda força quando aplicada a um corpo, provoca deslocamento e o deslocamento consumado, gera trabalho, logo, a força aplicada será nula, se não houver deslocamento e todo um sonho, precisa de uma força que quando aplicada, o mova, o desloque, o empurre para as alturas da vida igual a uma águia e a realização de qualquer sonho é nula, se não houver um desejo autodiegético ou ainda se os esforços aplicados a eles forem igual a zero. Por isso, todo homem devia ter um mentor. Qual é o meu sonho? O que realmente preciso fazer para movê-lo? Qual é o propósito da minha vida nessa casa universal? Uma coisa eu tinha a certeza naquele momento, a Santa era a mulher que tornaria o meu coração mais adolescente. Conheci-a há dois anos e até agora ainda vivo corrompido com a tentação de a conquistar. E amanhã começam as aulas, o que farei? Já lá se passaram dois anos e eu nunca tive a oportunidade de dizer a ela o que há muito tempo se formou dentro de mim. Convivo com esse apêndice, com esse nódulo que contraria o metabolismo normal da minha cárdia e, dessa vez, vou tentar ser mais ousado ainda. Voltei enfim ao meu quarto, na minha cama, ali, onde eu ensaio todos os dias o silêncio da morte.

      E pela manhã, a minha mãe, do paladar daquele silêncio delongo, e com a voz a nascer de uma nota musical, tocou-me:

      – Tino, acorda, levanta-te, homem. São seis da manhã. É teu primeiro dia, precisas de chegar mais cedo à escola.

      – Obrigado, mãe.

      – Então, filho, como tu passaste a noite?

      – Ansioso com o meu primeiro dia de aula na escola. E você, Mamusca, como está?

      – Graças a Deus passei bem cassule. Seu pai disse-me que ontem chegaste tarde… filho…meu primogênito, não cresças tão rápido. Pare de sair ou vir a casa fora do horário. O mundo é grande e tu não precisas de pegar tudo o que tem nele.

      – Mas, mãe, estive ontem com o Batinho, peço desculpas, não vai voltar a acontecer. Eu prometo.

      – Eu sei que sim, meu filho. Tu alegraste meu coração quando nasceste. Eras tão pequeno que pensei que alguma coisa mal haveria de acontecer. Orei a Deus para que me devolvesse a ti. Eras tão pequeno e escondido do mundo. Agora que cresceste, filho, por favor, cuida da tua vida por mim. Na rua ou na escola, lá a onde eu não te poder proteger ou cuidar, por favor, ajuda-me a cuidar de ti.

      – Está bem, mãe. Não precisas de ficar triste, mãezinha. E quer saber?

      – O que filho?

      – Eu amo-te, Mamusca.

      – Eu também te amo, meu bonequinho lindo… bujujo da mamãe.

      – Mãe!? Eu já não sou bebê…

      – Rsrs, está bem, meu filho.

      – Mas o café já está na mesa? Perguntou o Sr. Américo, pai do Tino.

      – Mãe, o pai quer saber se o café está pronto.

      – Está sim, amor. Respondeu a minha mãe com uma voz alta e acresceu: “filho, vai lá, faz companhia ao teu pai na mesa.

      – Mãe, eu não posso tomar café.

      – Eu sei, filho. Para ti, há leite e fiambre na geladeira.

      – Está bem, mãe.

      – Agora vai, antes que esfrie.

      – Está bem, mãe. Pai, dás-me uma carona?

      – Claro filho, coma calmamente, que eu te espero, ok?

      – Está bem, pai.

      O Tino levantou-se, despediu-se da mãe e dos irmãos e aproveitou a boleia do Sr. Américo. Pela estrada, vários feixes de pensamentos cruzaram as ideias do Tino. A conversa com o pai no dia anterior, a confusão provocada pelo Marquitos, o pastor na igreja, o vizinho que pedia ajuda, a música que tocava pelo rádio no carro etc. Mas dentre todos eles, o pensamento que mais governava a sua atenção naquele momento foi o de Santa.

      A distância não diminui a importância. És especial. No claustro do salão dos meus pensamentos, no lugar mais claro perguntei-me: Como alguém pode provocar tantos sentimentos mesmo estando longe? Por que você teve que morar tão longe e viver tão dentro de mim? O tempo me alistou a fila de espera à um diagnóstico conclusivo, depois de tão longos e dolorosos exames. O conclusivo diagnóstico deu positivo a “deepfeeling in Love”. Feliz ou infelizmente, estudos revelam que em 100 pessoas afectadas, apenas 10 % delas vivem a felicidade como resultado do mesmo vírus e 90 % delas são infelizes por não haver compatibilidade. Nesse momento, considero-me objecto de estudo dessa pesquisa. Estou tecnicamente infectado de paixão e você pressupõe o antídoto Sanguita. E para sempre é muito tempo, mas eu não me importaria de passar ao seu lado… a eternidade. Acabei de provar que de longe também se ama, pois o verdadeiro amor é uma opção consciente e livre do medo e do fracasso. Ficar longe de ti, está cada dia mais insuportável. A distância nos impede de beijar, abraçar, mas nunca de amar. Para alguns, amar é uma perda de tempo. Para mim, é um dos tipos de sentimentos mais sincero que existe. Isso se houver uma tipologia no amor. E nunca alguém vai entender como um certo tipo se apaixonou por alguém telepaticamente. Mas a distância não impediu que eu te amasse. A distância é grande, mas o sentimento é, sem nenhum revés, maior. Santa, será que estarei eu a pedir demais ter-te comigo? Seria perigoso demais se acreditássemos no facto de um destino existir para nós? Não te vou dizer que seja fácil. Mas eu prometi esperar-te. És o claro na escuridão, o branco no preto, o candelabro no escuro, a esperança na guerra, és a mais perfeita mulher que os meus olhos acharam entre as mulheres, a pesar de mil defeitos. Queria saber qual é a sensação de ter quem eu mais amo do meu lado. Aceitas namorar comigo?…Meu Deus, e se ela disser não!? E se ela disser que já tem namorado e por isso não vai dar? Meu Deus, ajuda-me, o que farei então? Que palavras seguiriam a minha língua para traduzir o que realmente quero? E que palavras me seriam amistosas agora para dizer a ela o quanto a quero do meu lado?

      Surpreendentemente, uma voz aproximou-se interrompendo a catarse dos meus pensamentos. Era, no entanto, a voz do meu pai a chamar-me.

      – Tino….

      – Tino….

      – Tino….

      Papai gritou, Tino…

      – Pai. Desculpa, estava a pensar alto.

      – Oh filho, então,


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