Um Julgamento de Contos de Fadas a Colarinho Branco. Marcos Sassungo

Um Julgamento de Contos de Fadas a Colarinho Branco - Marcos Sassungo


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Sofia e Carolino; Alberto, Sofia e Ana; Ana, Sofia e Cristina etc. Alberto é aquele que introduz o vírus da interrogação no seio da comunidade eborense: Era absolutamente necessário que a vida se iluminasse na evidência da morte e como professor, caber-lhe-ia, além disso, trazer respostas. No entanto, ele cumpre apenas ambígua e incompletamente esse estatuto. As suas interrogações desintegram definitivamente Sofia de quem será amante, e corporiza toda a despolaridade potencial que as interrogações comportam. E Carolino que destruído pela corrosividade das interrogações da vida e perplexo diante do poder que percebe em si, acabará por assassinar Sofia infelizmente, esta de quem também se tinha tornado amante.

      Queridos estudantes, minhas senhoras e meus senhores, quando falamos das interrogações, falamos da problematização da vida em face da morte. E logo, perceberão, durante a leitura, que Alberto não cessa de verbalizar o absurdo da mortalidade, tal como ela é expressa no sacrifício de Cristina, a criança loura que tocava Chopin divinamente, sugerindo através da música uma autonomia da realidade humana. Todavia, é exactamente através da morte de Cristina que se torna possível a exaltação integral da condição humana desde as suas raízes mortais – a sua aparição.

      A professora, olhando atentamente para os alunos, disse:

      – Minhas senhoras e meus senhores, sejam bem-vindos ao mercado da vida. Aí onde a dor e lágrima são sacrificadas para a ressurreição da felicidade. Nas minhas aulas, é imperioso que tragam convosco o livro que será o nosso objeto de estudo, a gramática do Português Moderno que será a nossa ferramenta indispensável, o meio através do qual estudaremos morfológica e sintaticamente a natureza das palavras que foram convidados a construir o livro “Aparição”, e, sem vos esquecerdes, por favor, do Dicionário. Vós, no entanto, sereis autores das vossas notas. Haverá encenação dos personagens em forma de teatro e trabalharão arduamente nos textos. Esses exercícios bem feitos e mais outros que adiante actualizarei, determinarão a vossa passagem de ano. Sendo assim, está aberto o ano académico na disciplina de Português. Há alguma pergunta?

      – Sim, professora. – Disse o Francisco.

      – Diga Francisco.

      – Onde encontraremos o material e quanto custa?

      – Na secretaria do colégio, e os custos variam desde quatro mil a três mil kwanzas ou, contactar, por favor, o Padre Carlos. E mais alguma pergunta? Está bem, então, nada mais havendo, dou por terminada a nossa aula de hoje. Até a próxima.

      – Até a próxima, Senhora Professora. Responderam os estudantes, entusiasticamente.

      Era a hora do intervalo. A aula de português dividia opiniões entre os estudantes. Como isso seria feito? Perguntavam-se. Outros ainda aplaudiam a competência comunicativa e gramatical da nova professora. Ela é uma excelente professora. – Disse o Angelino ao Tino.

      – Afor tior. – Respondeu o Tino.

      – Vamos à cantina?

      – Estou sem dinheiro, a não ser que me pagues uma sandes hoje.

      – Está bem, eu pago. “Ars Longa Vita Brevis”. – Disse o Marcos ao Tino.

      Ao descerem as escadas, Marcos avistou a Santa e disse:

      – Tino, olha quem está na cantina.

      – A sério?! Eu não vou. Vamos mais tarde. Respondeu o Tino com um ar medonho.

      – Fica calmo, seu medroso, seja homem.

      – Está tudo bem.

      Naquele dia, apesar de todos os planos de tentativa de poder se aproximar e declarar-se, Tino não conseguiu. A timidez abraçou-o e não conseguiu sequer falar com ela e o dia foi passando e passando, e já era meio-dia, hora de sair da escola para a casa.

      A cobardia é o inimigo da coragem quando a felicidade nos convida a passar pela ponte da dor. E naquele dia, mais uma vez o Tino não conseguiu falar com ela. Triste e interiormente solitário sentiu-se réu das suas próprias dúvidas e condenado pela sua própria consciência e pelo seu próprio medo; eu sou um fracasso dizia ele. E desesperado dizia; eu sou um aaaa obviamente eu não sei quem eu sou.

      Por conseguinte, e já de saída da escola, o telefone chama.

      – Aló, mestre.

      – Sim, Tino, onde estás?

      – Estou a descer a rua da Sé Catedral em direcção à oficina.

      – Estamos a tua espera porque há aqui um cliente. De momento, vou ausentar-me, mas assim que chegares, dê um jeitinho.

      – Está bem, mestre.

      Os dias eram difíceis e Tino além de estudante, era mecânico de geradores domésticos, numa oficina no bairro do São João popular. Na verdade, todos os seus amigos eram mecânicos e trabalhavam juntos, com excepção de Marquitos que embora também o fosse, a oficina onde trabalhava era diferente. Todos os dias ao meio-dia, era uma obrigação Tino aparecer na oficina para reparar geradores. O tipo era um médico de geradores.

      – Boa tarde, colegas.

      – Boa tarde, Tibox. Respondeu o Vavá, um dos seus colegas e acrescentou:

      – O Sr. Miguel está cá a reclamar da prontidão do seu gerador e nós dissemos que apenas você autorizaria a saída do gerador pelo facto de o ter reparado. E isso se está mesmo reparado. E o mestre saiu. Foi ver uma obra e disse para tomar as devidas decisões de negócio com o Sr.Miguel.

      – Está bem, Vavá.

      – Então, Sr. Miguel, boa tarde.

      – Boa tarde, Tibox.

      – Sr. Miguel, o seu gerador está pronto, fiz as devidas alterações. Inicialmente pelo estator e o induzido queimado, trocámos por outro. Trocámos a anilha do carburador, o condensador também queimou e troquei-o por outro.

      – Está bem, está bem…só me diga quanto eu devo pagar e prontos. Disse o Sr. Miguel.

      – Seis mil Kwanzas pelas peças substituídas e mil e quinhentos pela mão-de-obra. Ao total sete mil e quinhentos.

      – Está bem, aqui tens. E posso levá-lo, agora?

      – Pode, sim, à vontade, senhor.

      – Está bem. Obrigado pelo serviço.

      – Nada por isso, Sr. Miguel e volte sempre.

      Era um dia de sol, naquela tarde de segund. – feira, e no trabalho do Sr. Américo as coisas iam calmamente.

      – Chefe, como foi o almoço? Perguntou o Sr. Américo, pai do Tino ao Sr. Rafael, pai de Batinho.

      – Foi óptimo, o almoço… a Petisco Gigi hoje ofereceu um prato novo à disposição dos seus clientes. É uma comida portuguesa, um tal framboesa… E advinha quem esteve hoje como convidado no restaurante a cantar.

      – Bessa Teixeira? Perguntou o Sr. Américo.

      – Não. Ela nasceu cá, mas vive na capital. Suas músicas têm sido um referencial angolano… vai lá, tu consegues Américo.

      – Hammm, ok, Pérola?

      – Positivo. Ela esteve deslumbrante hoje. Música ao vivo, comida boa e saúde boa e devias ter ido, certamente não te arrependerias. Isso eu posso assegurar-lhe.

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