Atropos. Federico Betti
Não era grande coisa, mas agora talvez tivessem encontrado uma pista a ser seguida, na espera de saber os resultados das análises no apartamento de Lucia Mistroni.
Lá pela hora do almoço, o inspetor Zamagni, acompanhado por Marco Finocchi, se apresentou ao número 10 da rua Cracovia, para falar com Paolo Carnevali.
Tocaram a campainha sem receber resposta, esperaram alguns minutos e conseguiram entrar no prédio com a chegada de uma senhora anciã que voltava de um passeio com seu cachorro.
“Podemos entrar, senhora?”, perguntou Zamagni.
“Não aceitamos vendedores porta a porta, desculpe. Por isso, se são dois desses, podem até poupar o cansaço e mudar de destino.”
“Estamos procurando o senhor Carnevali. A senhora o conhece?”
“Quem está procurando por ele?”, quis saber a mulher, provavelmente irritada por ter que ficar conversando com desconhecidos.
“Precisamos falar com ele. Não é nossa intenção lhe causar nenhum aborrecimento ou fazer-lhe algum mal físico”, explicou o inspetor, mostrando a carteira de identificação.
“Oh, pelo amor de Deus...”, foi a reação da anciã, “O que andou fazendo aquele rapaz? Parecia-me uma pessoa tranquila.”
“Não se preocupe”, a tranquilizou o agente Finocchi, “Queremos só falar com ele.”
“Assim sendo, acho que a esta hora esteja trabalhando”, explicou a mulher.
“E quando poderemos encontrá-lo? Sabe a que horas ele volta?”
“A menos que tenha compromissos particulares depois do trabalho, geralmente, o encontro às 18 - 18:15h todos os dias da semana. Saio com Toby para o passeio noturno e quando volto ele está estacionando ou subindo as escadas.”
“Saberia nos dizer que carro tem o senhor Carnevali?”
Nós a abordávamos um tanto despreparada, explicou a senhora, porque não era de forma alguma especialista em carros. Os únicos meios de transporte que conhecia bem eram os ônibus, usando-os para ir de casa até o centro da cidade no domingo à tarde.
“Nós a agradecemos igualmente, senhora.”, disse Zamagni, “Voltaremos à noite.”
Os dois saudaram a senhora e Toby, que não a teria seguido sem ao menos que um deles lhe tivesse feito algum carinho e voltaram para o carro com o qual chegaram.
Não teria feito sentido esperar tantas horas antes que Paolo Carnevali chegasse, assim decidiram que iriam para a Central de Operações e Zamagni teria aproveitado para ouvir eventuais novidades da Científica e do patologista que estava encarregado de realizar a necropsia.
Os seus pais estavam realmente felizes por ele, o viam contente e estavam orgulhosos com parentes e amigos da família.
Além de ir para a escola, fazia ainda alguma coisa de útil e produtiva, pelo pouco que pudesse juntar.
Não será tanto, mas para um rapaz que estuda é sempre melhor que nada.
Era assim que falavam do trabalho que o seu filho tinha conseguido.
Parece que não é o único e assim conheceu também outras pessoas da mesma idade com as quais às vezes sai para passear, se encontrar no Jardins Margherita ou na Praça Maggiore no sábado à tarde, se divertir e, às vezes, fica fora para jantar com eles.
Com aquele pouco que ganha, consegue também permitir-se a fazer isso, sem que nós tenhamos que dar nosso dinheiro.
Era um trabalho simples, tratava-se só de fazer panfletagem. E quem não teria sabido fazer uma coisa desse tipo? Bastava distribuir os folhetos publicitários pelas ruas. Nos condomínios, nos locais públicos ou mesmo só nas ruas e estava feito. Não era solicitado mais nada, nenhuma obrigação de qualquer tipo.
Fácil, fácil como beber um copo de água.
E era aquilo que fazia todas as tardes, uma hora ou ao máximo duas por dia, só nos dias no meio da semana, depois de ter ido à escola e ter terminado os deveres. O fim de semana iria descansar, divertir-se e gastar uma mínima parte do dinheiro ganho: como rapaz diligente que era, tinha acertado com os pais para que ficassem com a metade; agora que tinha a possibilidade, queria contribuir com as despesas da casa, dentro do possível.
Continuava assim com o seu trabalho, com a típica leveza da sua idade, sem sequer se perguntar para o que estava fazendo publicidade.