Lash. L. G. Castillo

Lash - L. G. Castillo


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uma jovem gritar no telefone público. — Não, o avião dele ainda não pousou. Deveria estar aqui em alguns...

      Ele se virou para olhar a mulher que parou no meio da frase, curiosa para ver o que aconteceu. A mulher olhou através dos óculos cor de rosa diretamente para ele.

      Lash saltou de surpresa. Era como se ela pudesse vê-lo. A maioria dos humanos não podia quando ele tomava sua forma de anjo - exceto por crianças pequenas ou animais, mas mesmo isso era raro. Quando um adulto conseguia vislumbrá-lo, ele muitas vezes descartava isso como uma invenção de sua imaginação.

      â€” Anita, qué paso? — perguntou a voz do outro lado da linha. — O que aconteceu?

      â€” Espere um minuto. — Anita tirou os óculos e limpou as lentes com sua blusa floral de poliéster.

      Lash ficou imóvel, esperando para ver se ela diria algo sobre sua presença. Anita colocou os óculos de volta. Olhos castanhos olharam em sua direção novamente. Depois de um momento, ela balançou a cabeça e continuou sua conversa.

      â€” Não importa, eu pensei que tinha visto alguma coisa — disse ela quando voltou sua atenção para o interlocutor. — Me dê a informação novamente, preciso anotar. — Ela enfiou a mão na bolsa e tirou um pedaço de papel. Embalagens de doces e chiclete caíram no tapete junto com uma caneta preta. — Onde está minha caneta? Não consigo encontrar nada nesta bolsa.

      â€” Faça uma oração para São Longuinho — disse a voz ao telefone.

      â€” Boa ideia. — Anita fechou os olhos. — São Longuinho, São Longuinho. Por favor, me ajude a achar o que eu perdi e não consigo encontrar. Ajude-me a encontrar minha caneta para poder escrever as informações que Gloria deveria ter me dado esta manhã antes que meu filho de oito anos subisse sozinho no avião. E enquanto você está nisso, você pode pedir ao Senhor para perdoar Gloria por seu esquecimento? Ela tem que aturar o meu ex-marido, e só o Senhor sabe como esse homem é imprestável - especialmente quando se trata de lavar a roupa de baixo.

      â€” É oração suficiente — retrucou Gloria do outro lado da linha.

      Lash riu. Não havia São Longuinho ‒ pelo menos não no aeroporto. Ele pegou a caneta e colocou-a na borda da prateleira do telefone público.

      Anita estremeceu. — Dios mío, senti um calafrio. Eles deixam o ar muito frio aqui. Eles deveriam... — Seus olhos se arregalaram quando ela viu a caneta. — Como que isso foi parar aqui?

      Anita se virou e Lash prendeu a respiração. Ela estava nariz-a-nariz com ele, tão perto que ele podia sentir o hálito de menta e ver uma mancha de batom vermelho no dente da frente. Ela respirou fundo, fechou os olhos e sorriu. — Gracias, São Longuinho. Me sinto abençoada. — E deu os três pulinhos para o santo.

      Lash piscou com espanto. Já fazia muito tempo desde que se deparara com um humano como ela. Ele não conhecia a minúscula mulher de cabelos escuros, mas uma aura de paz a cercava. Era como se soubesse que estavam cuidando dela.

      Ele olhou para o relógio e deixou Anita conversando com sua amiga. O avião do garoto estava programado para pousar em breve. Enquanto corria pelo corredor, ele se perguntou se sua tarefa era o menino de Anita.

      Quando chegou ao portão, olhou pela grande janela para o espaço vazio onde deveria estar o avião. Em vez disso, Jeremy, seu melhor amigo, estava no asfalto. Ele estava vestido impecavelmente, parecendo mais um modelo de capa de uma revista GQ do que o Arcanjo da Morte. Seus cabelos dourados, escovados do rosto, brilhavam sob o sol do Texas. Lash sempre achou estranho que ele se importasse com a sua aparência, considerando que raramente aparecia em sua forma humana. A maioria das pessoas o conhecia apenas pelo seu nome de anjo, Jeremiel, e quando aparecia para eles, era porque estavam morrendo. Jeremy, como Lash, decidiu modernizar seu nome alguns anos atrás. Pena que ele não fez o mesmo com suas roupas. Comparado a Jeremy, Lash parecia o perpétuo rebelde adolescente, preferindo jeans rasgados e camisetas justas.

      Lash se perguntou por que Jeremy não mencionou que tinha uma missão em Houston durante o jogo de pôquer da noite anterior. Pela primeira vez desde que começaram a jogar, décadas atrás, Lash estava ganhando, e eles estavam se divertindo muito ‒ fumando charutos e bebendo uísque. Não foi até que Gabrielle apareceu e entregou a Lash a tarefa, que Jeremy ficou estranhamente quieto. Jeremy parecia tão incomumente chateado quando pediu a Lash uma garantia dos seus ganhos, embora Lash não conseguisse pensar em uma única vez onde precisou cobrá-lo. Gabrielle parecia estar de mau humor também. Talvez ele devesse ter reconsiderado o sopro de fumaça que deu diretamente em seu rosto. Ela provavelmente não gostou disso.

      Lash estava prestes a se juntar a ele na pista quando Gabrielle apareceu. Ela sussurrou algo no ouvido de Jeremy e seu sorriso sempre presente, congelou. O que quer que ela tenha dito a ele, não poderia ter sido bom.

      Ele seguiu o olhar de Jeremy e olhou para o céu sem nuvens. Ao longe, viu uma pequena partícula e, instintivamente, soube que era o vôo 1724. Lash olhou para Jeremy e imaginou se sua tarefa envolvia alguém no mesmo voo.

      Jeremy acenou para Gabrielle e, num instante, desapareceu. O pavor atingiu a boca do estômago de Lash quando Gabrielle levantou os braços no ar e girou as mãos delgadas em círculos. Árvores ao redor do aeroporto balançavam enquanto o vento aumentava e nuvens escuras começavam a se formar.

      Lash pressionou as palmas das mãos contra o vidro. O que ela estava fazendo? Ele cerrou os dentes, imaginando se ela estava intencionalmente tentando dificultar seu trabalho. Foi-lhe dito para cuidar de Javier e ter certeza de que ele retornasse em segurança para sua mãe. Ela convenientemente esqueceu-se de lhe dizer que o menino estaria em perigo ‒ ou que o perigo seria a própria Gabrielle.

      Lash observou enquanto ela continuava a manipular o vento e as nuvens, e o céu que escurecera.

      â€” Parece que uma tempestade está chegando — disse uma mulher sentada na fileira de cadeiras atrás dele.

      â€” O clima do Texas é assim — disse o companheiro masculino ao lado dela. — Um minuto está um dia ensolarado; você pisca e então todo o inferno se solta.

      Um estrondo de trovão fez o vidro vibrar sob as mãos de Lash. Ele se afastou quando um fluxo de pedaços de gelo bateu no chão.

      â€” Senhor, tenha misericórdia — disse a mulher enquanto pressionava a mão contra o peito. — Isso foi alto. — Ela olhou pela janela. — Espero que passe em breve. Não queria ser pega lá fora nesta tempestade.

      Foi então que Lash soube por que Gabrielle e Jeremy estavam lá e por que ele recebeu essa tarefa. Nem todos os passageiros do voo 1724 iriam pousar em Houston - não vivos.

      Ele fechou os olhos e projetou-se no avião. Quando os abriu, estava de pé no corredor ao lado de uma garota bonita. Seu cabelo loiro claro estava enfiado atrás das orelhas, destacando vibrantes olhos azuis. Ela não poderia ter mais de doze anos, mas algo sobre ela, a fez parecer sábia além de seus anos.

      Lash olhou pela janela. Um nevoeiro de escuridão cercava o avião. As pessoas sentadas nos bancos perto dele murmuravam freneticamente enquanto olhavam para fora. Eles estavam assustados. Ele rapidamente afastou os sentimentos que ameaçavam borbulhar, precisava se concentrar.

      Um choramingo vindo do assento atrás da garota chamou a sua atenção, e ele deu um passo em direção a ela. Sentado no banco estava um menino pequeno, seus pés mal tocando o chão. Javier.

      â€” Mãe, ele está com medo — disse a menina. — Posso ir sentar com ele?

      A


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