Lash. L. G. Castillo

Lash - L. G. Castillo


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o conheceu. Por alguma razão, havia uma lacuna em sua memória. Tudo o que conseguia se lembrar era de acordar uma manhã com Raphael sentado ao seu lado.

      Quando Raphael se levantou e caminhou até a porta, Lash seguiu e deu um soco no ombro dele. — Ei, não se preocupe. Eu vou receber uma palmatória como da última vez.

      Raphael sacudiu a cabeça. — Algum dia; sua rebeldia irá alcançá-lo.

      Ele sorriu. — Hoje, não. Tenho certeza disso.

      Ao descerem pelo corredor, um anjo alto e esguio se aproximou deles. Ondas de cabelos louros emolduravam um rosto carrancudo. — Michael está pronto para ver você.

      Lash sorriu. — Bom dia para você também, Gabrielle.

      Gabrielle estreitou os olhos verdes de gato. — Você não entende as ramificações do que você fez? Ou você simplesmente não se importa?

      Ele estava prestes a responder quando Raphael entrou na frente dele. — Não responda a isso. Gabrielle, acredito que é melhor ter essa conversa com Michael. Vamos?

      Seus olhos suavizaram quando ela olhou para Raphael e então ficaram gélidos. — Você não pode protegê-lo desta vez. — Ela se virou para Lash, e o olhou com ódio. — Por que você se importa? — Virando-se, ela caminhou em direção ao Salão do Julgamento.

      Na porta, ela se afastou e ficou ao lado de Raphael. Quando Lash entrou, piscou para ele, tentando esconder sua crescente ansiedade. Estranho. Em todas as vezes que já esteve em apuros antes, ele nunca ficou ansioso. Algo estava diferente.

      â€” Não se preocupe, Raphael. Eu tenho isso sob controle — disse Lash. Qual a pior coisa que poderiam fazer com ele?

      2

      Trinta e cinco anos depois

      Naomi Duran desligou a moto e sentou-se por um momento observando as crianças da vizinhança jogar basquete. Três garotos correram descendo a rua enquanto duas garotas estavam na calçada, avisando-os sobre os carros que passavam. Ela soltou a alça do capacete e riu.

      Ela não podia acreditar que finalmente se formara na faculdade.

      Percorrera um longo caminho desde a magricela que estava nos ombros de seu primo Chuy enquanto pregava a cesta de basquete no poste de telefone. A cicatriz em seu joelho e o tapa no traseiro que levou do seu pai valeram totalmente a pena, no entanto. Ela ganhou a aposta contra Lalo Cruz, o melhor amigo de Chuy, e gastou dez dólares em refrigerante Big Red. Ela não podia acreditar que o aro ainda estivesse pendurado no mesmo lugar.

      Naomi tirou o capacete e o cabelo escuro caiu sobre o rosto. Eu preciso de um corte de cabelo, ela pensou enquanto afastava a massa emaranhada. A última vez que teve um foi quase dois anos atrás quando sua mãe perdeu o próprio cabelo durante a quimioterapia. Sem hesitar, ela cortou as tranças que estavam na cintura e o usou para fazer uma peruca. Um ano depois, seu cabelo cresceu e sua mãe faleceu. Ela queria cortar o cabelo curto novamente, mas toda vez que ia ao cabeleireiro, isso trazia de volta memórias que não queria lembrar.

      Era doloroso pensar em sua mãe e Naomi evitava isso sempre que possível. Ela comprou a motocicleta Ninja 250R usada, depois que sua mãe morreu. A moto vermelha gritava: "Dirija-me!" e ela teve que tê-la. Graças às habilidades mecânicas de Chuy, ele fez a moto funcionar como nova. Só enquanto dirigia era capaz de afastar a memória de sua mãe murchando em sua cama ou seu pai afogando a sua dor no álcool depois que ela morreu.

      â€” O que você está fazendo sentada aqui fora?

      Chuy saiu da pequena casa branca, a porta de tela se fechou atrás dele. Ele percorreu um longo caminho desde o garoto magro com acne. Agora está todo musculoso, graças ao seu trabalho na Companhia Cruz de Mudança. Levantar diariamente muitos quilos de mobília o preencheu muito bem, embora Naomi nunca admitiria isso em voz alta. Ele já tinha seu ego acariciado regularmente por várias garotas da vizinhança que se reuniam em torno dele.

      â€” Estou apreciando o silêncio antes de ter que enfrentar a multidão que chamamos de família. — Ela jogou a perna por cima do banco e prendeu o capacete na moto.

      â€” Deixe-me empurrar essa armadilha da morte para você. — Ele se inclinou sobre sua motocicleta e flexionou seus braços musculosos para ela. — Confira minhas armas. Elas ficaram maiores.

      Ela revirou os olhos e empurrou-o para longe. — Eca, Chuy. Você precisa de um banho.

      â€” O que está errado? Seu nariz é bom demais para a Eau de Mexicano? Alguns de nós têm que trabalhar para viver. Nem todos nós podemos ser universitários como você. — Chuy sorriu.

      Naomi bufou. Ele sempre a provocava quando estava tentando esconder seus verdadeiros sentimentos. Ele era como um irmão mais velho, sempre cuidando dela, especialmente depois que as coisas ficavam difíceis com o seu pai. Às vezes, ela ficava com ciúmes do relacionamento especial entre pai e filho que Chuy e seu pai tinham, mas ela não podia culpar seu pai por tomar Chuy sob sua asa depois que seus próprios pais foram mortos quando ele tinha cinco anos. Sua avó criou Chuy, seus olhos de falcão sempre atentos para que ele não fosse recrutado por nenhuma das gangues da vizinhança. Se Chuy tivesse algum problema, seu pai estava lá para colocá-lo em seu lugar.

      â€” Você poderia ter seu próprio negócio agora, se você não tivesse desistido após o primeiro semestre.

      â€” Você pode me culpar? Como aprender sobre Sócrates ajuda a pagar as contas? — Chuy baixou o suporte.

      Ela olhou para ele com cuidado. Era um ponto dolorido para ele, já que queria ficar na faculdade, mas também não podia pagar as mensalidades e sustentar a avó. Na época, papai estava lutando para manter o seu próprio emprego e também não podia ajudar.

      â€” Está bem, está bem. Eu admito. Você é muito inteligente, você sabe disso. — Ela o cutucou no braço. — Eu não conseguiria passar em álgebra sem a sua ajuda.

      â€” Não tão alto. — Chuy olhou em volta nervosamente quando chegaram aos degraus da frente da casa. — Eu tenho uma reputação para proteger.

      â€” Oh, que horror! Eu não quero que ninguém pense que você é inteligente.

      Naomi ouviu a música crescendo antes que visse. Os garotos da vizinhança deram um passo para o lado e observaram o mustangue preto virar a esquina. Aros semelhantes a espelhos giravam devagar enquanto o carro descia a rua. Na grade do carro, luzes LED brilhantes contornavam o logotipo do cavalo como um halo branco-azulado.

      â€” Realmente, papai. Depeche Mode? — Naomi perguntou quando o seu pai, Javier Duran, parou o carro na frente dela.

      â€” Você sabe que gosta disso. Você costumava dançar o tempo todo quando era pequena. — Javier tomou-a nos braços e deu-lhe um abraço. — Parabéns, Mijita. Você ficou linda esta manhã com seu chapéu e beca.

      â€” Obrigada, pai. — Naomi adorava quando ele usava o carinhoso termo espanhol para filha.

      â€” Você nos ouviu? Batemos palmas para você. — Javier abriu o porta-malas do carro e tirou uma sacola de compras.

      â€” Sim, pai. Acho que todo mundo ouviu a buzina de Chuy.

      â€” Ei, eu tive que agitar um pouco as coisas — disse Chuy enquanto pegava as sacolas restantes do porta-malas. — Foi tão chato que estávamos caindo no sono.

      â€” Missão cumprida.


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