Lash. L. G. Castillo

Lash - L. G. Castillo


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Ugh, vá embora. E leve seus amigos com você. — Ela o empurrou de brincadeira e foi procurar o pai.

      3

      Naomi jogou o último saco na lata de lixo e sentou-se em frente ao pai nos degraus da varanda da frente. Ele estava brincando com uma moeda vermelha, seu símbolo de sobriedade de um mês, lançando-a por entre os dedos. Ela se encostou no corrimão olhando as estrelas no céu sem nuvens e ambos ficaram em um silêncio confortável, não querendo perturbar a rara quietude da noite. Tiros e sirenes soando à distância eram comuns. Mesmo que Naomi morasse a poucos quilômetros de distância, ela se preocupava com a avó e Chuy morando em um bairro tão perigoso.

      â€” Você se divertiu, Mijita? — Perguntou Javier.

      â€” Eu adorei, pai. — Naomi olhou para a garrafa marrom que ele segurava. Ela esperava que ele não estivesse bebendo de novo.

      â€” É cerveja de raiz — disse ele, lendo a expressão em seu rosto. — Eu sei que você está preocupada que eu vou começar a beber de novo. Você tem a minha palavra que não vou beber novamente.

      â€” Você mantém contato com seu padrinho?

      â€” Todo dia.

      â€” Bom.

      Seu pai ficou quieto por um momento, se mexeu e limpou a garganta antes de falar. — Há algo que eu quero te dar.

      â€” Papai...

      â€” Antes de dizer não, deixe-me explicar. — Ele deu um tapinha no local ao lado dele. — Venha aqui.

      â€” Mas...

      â€” Por favor, isso é importante.

      Ela deslizou através do degrau, e o desconforto tomou conta enquanto esperava que seu pai falasse. A última vez que ele fez a cara que estava fazendo agora foi quando teve que dizer a ela que sua mãe morreu.

      Ele enfiou a mão no bolso e tirou um delicado colar de prata. Faíscas azuis e brancas brilhavam nos minúsculos diamantes que se alinhavam no crucifixo enquanto pendia sob a luz da varanda ‒ o colar de sua mãe. Lágrimas nadaram em seus olhos quando se lembrou de estar sentada na cama do hospital, a mãe pálida de dor, círculos escuros sob os olhos, as bochechas magras, mas sempre que ela tocava o colar, a paz cintilava em seus olhos. Sua fé era tão forte; Era algo que Naomi desejava que também tivesse.

      Ela deslizou os dedos, sentindo o toque frio da prata. Quando a mãe morreu, o pai guardou-a numa pequena bolsa aveludada e levava-a sempre consigo. — Eu não posso.

      â€” É seu — disse ele, sua voz soando alta na noite tranquila, mesmo que ele falasse com um sussurro.

      Naomi baixou a mão. — Isso pertence a você.

      Ele pegou a mão dela e virou-a. Ele largou o colar na palma da mão e olhou para o colar por um momento antes de fechar a mão dela. Colocando a mão sobre, ele olhou em seus olhos com um olhar firme. — O futuro está em suas mãos.

      â€” Papai, eu...

      â€” Você ouviu o que eu disse?

      â€” Sim, mas...

      â€” Vou me sentir melhor sabendo que você tem isso. Você está crescida e tem uma vida plena à sua frente. Você precisa sair para se divertir, conhecer alguém especial. Quando foi a última vez que você foi a um encontro?

      Naomi fez uma careta. Havia algo sobre ver seu pai perder o amor de sua vida que colocava a palavra namoro em perspectiva. Ela pensou em todos os caras que tinha namorado antes, e não conseguia pensar em um com quem se importasse tão intensamente quanto seus pais se importavam um com o outro.

      â€” Eu não estou interessada em namorar, pelo menos não por agora.

      Javier sacudiu a cabeça. — Não se feche para o amor, Mijita. Quando for a hora certa, a pessoa irá encontrá-la. Tudo que você precisa é ter fé. — Ele pegou o colar da mão dela e colocou-o em volta do pescoço.

      Naomi estudou seu rosto e se perguntou por que ele estava agindo tão estranho. Ele parecia querer contar mais a ela, então ficou em silêncio, esperando que ele falasse. Em vez disso, ele suspirou e se levantou.

      â€” Onde você está indo? — Ela perguntou, surpresa por ele estar saindo.

      â€” Trabalhar. — Ele tirou as chaves do carro do bolso. — Estou fazendo limpeza no escritório à noite.

      â€” Você tem dois empregos de meio período?

      â€” Eu tenho um monte de contas para pôr em dia. Não olhe para mim assim. — Ele bateu na linha de expressão no meio de sua testa. — Você vai ter rugas antes dos trinta anos.

      â€” Agora que você está melhor, talvez possa conseguir um emprego de TI. — Ela olhou para longe, sabendo que até mesmo o seu diploma em ciência da computação não poderia apagar o rastro de repreensões que recebera de seus empregadores anteriores. Ela não podia deixar de manter a esperança de que em uma cidade grande como Houston, ele pudesse encontrar um emprego e que alguém lhe desse um novo começo antes que o mundo da tecnologia decolasse.

      â€” Talvez. — Javier ligou a ignição, e as luzes que envolviam o Mustang piscaram para a vida.

      â€” Você e Chuy fizeram um bom trabalho. — Naomi se afastou para ver melhor. — É muito legal. Vocês dois deviam entrar nesse negócio juntos.

      â€” Isso não é uma má ideia. Embora, conhecendo Chuy, ele devoraria todos os lucros. — Ele colocou o carro em marcha a ré. — Te vejo amanhã. Não esqueça de colocar o capacete.

      â€” Eu sempre coloco. — Ela acenou.

      Ele estava na metade da rua quando do nada ela teve um forte desejo de correr atrás dele. Ela balançou a cabeça e se repreendeu por agir como boba.

      â€” Eu o vejo amanhã. — Ela ligou a moto e seguiu na direção oposta.

      Jane Sutherland encostou-se à pia e tirou os Jimmy Choos. Depois de cinco horas conversando e bebendo com os ricos de Houston e com os mais importantes do Texas, seus pés gritavam de dor. Ela mexeu os dedos quando o chão esfriou seus pés doloridos. Muito melhor, pensou. Se pudesse participar de eventos formais descalça, isso tornaria tudo muito mais divertido.

      Ela olhou para o espelho e aplicou uma nova camada de batom rubi. Seu cabelo loiro platinado penteado para trás em um coque, destacava grandes olhos cor de safira. Quarenta e sete anos evitando o sol ‒ ela queimava com facilidade ‒ mantiveram o rosto pálido e sem rugas.

      Houve uma batida na porta. — Senadora Sutherland? O Sr. Prescott tem um convidado que gostaria de lhe apresentar.

      â€” Eu já estou indo. — Jane suspirou e colocou o batom em sua bolsa Gucci. Outro convidado. Outra bebida.

      Quando ela começou sua carreira política, não tinha idéia de que a maior parte do tempo seria gasto na captação de recursos. Havia ingenuamente pensado que ela seria diferente dos outros. Ela faria a diferença. Agora, a única diferença que fazia era se seus apoiadores financeiros se beneficiariam de suas generosas doações para sua campanha.

      Ela abriu a porta para encontrar um homem de aparência distinta em pé no corredor.

      â€”


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