A Atriz. Keith Dixon

A Atriz - Keith Dixon


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      Eles repassaram lentamente as últimas cinco páginas do Ato até satisfazer as funções críticas de Pedro o suficiente para que eles pudessem fazer uma pausa para o almoço. David pegou-a pelo braço de forma amigável.

      â€˜Fale um pouco. Segunda-feira sua voz estava ótima, muito forte. Hoje soou um pouco como piano. Ele pegará no seu pé até que você equilibre isso.’

      â€˜Obrigada. Estou com outras coisas em minha mente.’

      â€˜Coloque sua mente no ensaio, querida, pelo menos enquanto estiver aqui.’

      â€˜Desculpe.’

      â€˜Sem problema. Oh, e esteja certa de que você irá destruir aquela imbecil.’

      Mai deu um sorriso forçado – o primeiro sentimento honesto que ela sentiu naquela manhã.

      Antes que começassem o trabalho da parte da tarde, Pedro veio até ela e a levou para fora. Ele caminhou com ela pelos portões da escola e parou perto dela enquando observavam o movimento do tráfego e de pedestres. Ele colocou sua mão no ombro dela e falou calmamente.

      â€˜Esta tarde vamos dar início ao Terceiro Ato. Trata-se do eixo central da peça. Podemos ver o desespero da mulher mais velha em busca de um amor perdido, e a traição do seu amante quando ele se dirige a você. Mai, você não tem muito o que fazer neste Ato, mas você deve estar lá constantemente, como uma sombra que sustenta todos os outros personagens. A felicidade de muitos deles está nas suas mãos – o escritor condenado que ama você, mas que por sua vez é amado por outra; o escritor mais velho que está começando a amar você, a mulher que deveria amá-lo. E você é uma garota do interior, ingênua e inquieta para aprender, que caiu na armadilha do sonho da fama e do sucesso.’

      â€˜Pedro, o que você quer que eu faça?’

      â€˜You are the centre of this play. Esta tarde eu quero que você mostre suas falas, é claro, mas eu quero que você deixe os outros perceberem que você está assistindo. Hoje eles estarão atuando para ganhar o seu amor, e você deve estar lá, quando olharem para você.’

      â€˜Isso é tudo?’

      â€˜Não, não é tudo. De amanhã em diante eu quero que você se vista de acordo com sua personagem. Chega de jeans e moletons largos. Uma saia, talvez botas e uma blusa simples. Esteja dentro dessa garota, e se torne desejável para aqueles que a desejam. Eu sei que você está envolvida nessa competição estúpida dos jornais. Você tem que ganhar o amor de milhares de pessoas que não te conhecem. Mas à partir de amanhã, você deve ganhar o amor de todos nós aqui que conhecemos você.’

      Ela sentiu uma estranha sensação em suas entranhas, uma necessidade de fazer esse trabalho. Ela tinha entendido o que ele quis dizer embora houvesse parte do seu intelecto que se rebelava contra isso. Ela tinha ganhado os corações de milhões de pessoas na TV – mas eram as histórias que a colocavam em problemas e dificuldades que a mantinha viva. Ela apenas tinha que aparecer. Pedro estava querendo que ela ganhasse o mesmo amor, que se colocasse dentro da personagem – algo que nunca ninguém tinha pedido que ela fizesse. Começaram a surgir ideias na sua cabeça. Ela sorriu porque sabia que tinha sido acionada por um desafio.

      A tarde pertencia principalmente a Linda, uma mulher que Mai tinha visto na televisão por muitos anos mas que também tinha tido um longo estágio na sua carreira. Mai observava como ela ouvia os outros personagens – o seu filho, o jovem homem a quem ela queria como amante, aqueles que dependiam dela para viver. Ela viu como ela se manteve imóvel e deixou que sua voz fizesse o trabalho. Ela sabia que mais a frente no Ato, a personagem se tornaria emotiva e perturbada e queria ver como Linda iria conduzir a mudança de um estágio muito físico – para outro de se jogar aos pés do seu amante em desespero. E depois revelar à plateia que isso tudo era apenas um modo de conseguir tê-lo de volta.

      Ela também percebeu que os outros atores estavam assistindo atentamente. Ela tinha o carisma e a força adequados para o seu papel. Mai disse a si mesma, assista e aprenda. E pratique sua voz. Os olhos, a voz e depois os gestos mínimos para o máximo impacto.

      Eric tinha escolhido um bar no distrito comercial de South Bank que tinha uma bela vista para a Tower Bridge, que estava iluminada como um cartão postal gigante à noite.

      Ele tinha trocado sua jaqueta esporte bege por um elegante terno e estava comendo amendoim.

      â€˜Você já reparou como eles deixam seu hálito ruim?’ disse ela, deslizando pelo assento indo para perto dele.

      â€˜Você já reparou há quanto tempo eu estou te esperando? Você disse, seis horas.’

      â€˜Surgiu um imprevisto que se chama trabalho.’

      â€˜Peguei um coquetel de vinho branco.’ Ele fez um gesto apontando para uma taça com um líquido amarelo.

      â€˜Vinho branco? Parece suco de banana.’

      Ele ignorou o comentário dela. ‘Então isso é por causa da Enquete para Deannah, parece que é assim que eles estão começando a chamar isso. Terá uma marca e um logotipo na próxima semana. O que está acontecendo?’

      â€˜Ninguém do jornal me disse nada ainda. Você está me preservando ou algo parecido? Eu preciso sair daqui e conversar com as pessoas, não é? Helena Cross estava na TV esta manhã. O que eu preciso fazer para conseguir alguma visibilidade aqui?’

      Eric olhou para seus olhos caídos, como se o absurdo daquela conversa tivesse mergulhado em águas mais profundas. Ele se abaixou e pegou uma cópia do jornal Daily Paper e jogou-o sobre a mesa.

      â€˜Você nem viu isso? É de hoje.’

      Mai folheou até encontrar a seção de entretenimento. Duas páginas mostravam Mai de perfil à esquerda olhando para Helena Cross que estava à direita olhando-a de volta. As fotos tinham sido fortemente editadas pelo Photoshop para retirar os planos de fundo e colocar sobrancelhas franzidas em cada uma delas.

      Eric disse, ‘Pelo jeito você já está lá, mostrando todo o seu poder. Aliás, o que significa isso sobre você e Alfie? Está certo?’

      â€˜Quer dizer alguma coisa,’ ela disse. ‘Eu estou exatamente tentando descobrir o quê. Onde eles conseguiram essas fotos? Eu pareço uma mulher das cavernas com essas sobrancelhas falsas. O que eu digo na entrevista?’

      â€˜Que você está extremamente entusiasmada, que deseja boa sorte a todas e que vença a melhor. Eles procuraram alguma coisa sobre você e Helena disputarem o mesmo papel no Terraço Amberside. Diz que ela ainda está ferida sobre o injusto processo para a formação do elenco naquele projeto. E que este será diferente, será por meio de votação por parte do grande público inglês e assim por diante.’

      â€˜Pareço bem aqui?’

      â€˜Há tanta coisa que eu posso fazer com o material que você me dá,’ ele disse. ‘Talvez você devesse voltar com o jovem Ringo Starr e fazer tudo de forma apaixonada. Aí você vai assistir ao próximo filme de Helena, uma matéria especial na Hello! onde ela mostra sua linda casa e o novo homem da sua vida, alguma coisa nas revistas de adolescentes também. Jackie ainda está em cartaz?’

      Mai fechou os olhos. ‘Posso pensar grande pelo menos uma vez?’

      â€˜O que – entrevista no Financial Times?’

      â€˜Não sei ... algo


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