De Volta À Terra. Danilo Clementoni

De Volta À Terra - Danilo Clementoni


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para um relacionamento estável, que durasse mais do que alguns meses. O instinto maternal inato que toda mulher e que ela habilmente fazia questão de ignorar, agora, com a aproximação da maturidade biológica, se fazia presente sempre mais. Talvez fosse hora de pensar seriamente em começar uma família.

      Abandonou esse pensamento o mais rápido possível. Colocou o vestido, calçou o único par de sapatos de salto alto de doze centímetros que tinha trazido, e com gestos largos, jogou em ambos os lados do pescoço o seu perfume favorito. Xale de seda, grande bolsa preta. Estava pronta. Uma última olhada no espelho perto da porta confirmou a perfeição do seu vestuário. Deu uma volta e saiu com ar satisfeito.

      O jovem motorista, depois de colocar o queixo no lugar, que caíra pela visão de Elisa quando saiu do hotel, jogou o segundo cigarro que acabara de acender e correu para abrir a porta do carro.

      — Boa noite, Doutora Hunter. Podemos partir? — o militar perguntou com voz hesitante.

      — Boa noite — disse ela, testando o seu maravilhoso sorriso. — Vamos.

      — Obrigada pela viagem — acrescentou enquanto entrava no carro, sabendo muito bem que a saia subiria ligeiramente e teria parcialmente mostrado as pernas ao militar envergonhado. Ela sempre gostou de se sentir admirada.

      O sistema O^OCM fez materializar, bem na frente de Azakis, um objeto estranho cujos contornos, por causa da baixa resolução da visão de longo alcance que o levavam, ainda não estavam bem definidos. Estava se movendo e andava em direção a eles. O sistema de aviso de proximidade avaliou a probabilidade de impacto entre a Theos e o objeto desconhecido em mais de 96%, se ninguém alterasse a rota.

      Azakis rapidamente entrou no módulo de transferência mais próximo. — Sala de controle — ordenou ao sistema automatizado.

      Depois de cinco segundos, a porta se abriu assobiando e a grande tela central da sala de controle mostrava, ainda muito turva, o objeto que estava se movendo em rota de colisão com a nave.

      Quase simultaneamente, outra porta perto dele se abriu e Petri saiu fatigado.

      — Que diabos está acontecendo? — perguntou o seu amigo, — Não deveria ter meteoritos nesta área — exclamou com espanto, olhando para a grande tela.

      — Não acho que seja um meteorito.

      — Se não é um meteorito, então o que é? — Petri perguntou, visivelmente preocupado.

      — Se não corrigirmos imediatamente a rota, poderá ver com seus próprios olhos quando estivermos espalhados pela ponte de comando.

      Petri imediatamente mexeu nos controles de navegação e ajustou uma ligeira variação na trajetória predefinida.

      “Impacto em 90 segundos” comunicou sem emoção a voz feminina do sistema de aviso. “Distância do objeto: 276.000 km, em aproximação.”

      — Petri faça alguma coisa e já! — gritou Azakis.

      — Estou fazendo, mas essa coisa é muito veloz.

      A estimativa da probabilidade de impacto, visível na tela do lado direito do objeto, estava diminuindo lentamente. 90%, 86%, 82%.

      — Não vamos conseguir — disse Azakis com um sussurro.

      — Meu amigo, ainda não inventaram um “objeto misterioso” que possa esmagar a minha nave — disse Petri, sorrindo diabolicamente.

      Com uma manobra que fez os dois perderem o equilíbrio por um instante, Petri acionou os dois motores Bousen em uma inversão de polaridade instantânea. A nave espacial tremeu por longos momentos e somente o sistema sofisticado de gravidade artificial, assegurando uma compensação imediata na variação, que impediu que toda a tripulação acabasse esmagada na parede à frente deles.

      — Ótimo trabalho — disse Azakis, dando um tapinha vigoroso no ombro do amigo. — mas agora, como você vai parar a rotação? — os objetos na sala já tinham começado a subir e girar, dando voltas no ambiente.

      — Só um minuto — disse Petri, pressionando botões e mexendo os controles.

      — É só… — uma série de gotas de suor escorria lentamente da sua testa. — abrir a… — continuou ele, enquanto tudo o que estava na sala voava descontroladamente. Os dois até começaram a se erguer do chão. O sistema de gravidade artificial já não podia compensar a imensa força centrífuga gerada. Eles estavam se tornando cada vez mais leves.

      — a… a porta… três! — por fim gritou Petri, enquanto todos os objetos caíram no chão. Uma grande caixa pesada atingiu Azakis exatamente entre a terceira e quarta costela, forçando-o a emitir um gemido enfadonho. Petri, a partir da altura de meio metro de onde foi parar, caiu sobre o painel de instrumentos, em uma posição nem um pouco natural e absolutamente ridícula.

      A estimativa do impacto tinha baixado para 18% e continuou a baixar rapidamente.

      — Tudo bem? — logo perguntou Azakis, tentando esconder a dor no lado atingido.

      — Sim, sim. Estou bem, estou bem — disse Petri, tentando se levantar.

      Um momento depois Azakis estava chamando o resto da tripulação, que prontamente comunicou ao seu comandante a ausência de danos a pessoas e bens.

      A manobra há pouco executada tinha desviado um pouco a Theos da rota anterior e a queda de pressão causada pela abertura da porta havia sido imediatamente compensada pelo sistema automatizado.

      6%, 4%, 2%.

      “Distância do objeto: 60.000 km” anunciou a voz.

      Ambos estavam segurando a respiração, esperando chegarem à distância de 50.000 km, quando seriam acionados os sensores de curto alcance. Esse momento parecia interminável.

      “Distância do objeto: 50.000 km. Sensores de curto alcance: ativos.”

      A figura borrada na frente deles de repente ficou nítida. O objeto apareceu na tela, tornando cada detalhe visível. Os dois amigos se olharam, espantados, olhos nos olhos.

      — Inacreditável! — exclamaram em uníssono.

      O Coronel Hudson caminhava nervoso para lá e para cá, pela diagonal do corredor em frente à sala principal do restaurante. Praticamente olhava, a cada minuto, o relógio tático que sempre usava em seu pulso esquerdo e que nunca tirava, nem mesmo para dormir. Ele estava tão entusiasmado quanto um adolescente em seu primeiro encontro.

      Para matar o tempo, pediu um Martini com gelo e uma fatia de limão ao barman bigodudo que, por baixo de sobrancelhas grossas, observava com curiosidade, enquanto limpava ociosamente alguns copos.

      O álcool, obviamente, não era permitido em países islâmicos, mas, para essa noite, havia feito uma exceção. O pequeno restaurante inteiro fora reservado para os dois.

      O Coronel, logo após terminar a conversa com a Dra. Hunter, havia imediatamente entrado em contato com o proprietário do restaurante, especificamente pedindo o prato especial Masgouf, do qual o restaurante levava o nome. Devido à dificuldade em encontrar o ingrediente principal, o esturjão do rio Tigre, queria ter certeza de que o local pudesse servi-lo. Além disso, sabendo que são necessárias pelo menos duas horas para prepará-lo, queria que tudo fosse cozinhado sem pressa e com absoluta perfeição.

      Para a noite, como o uniforme de camuflagem não seria adequado à situação, decidiu tirar o pó do seu terno escuro Valentino, combinando-o com uma gravata de seda regimental, com listras cinzas e brancas. Os sapatos pretos, engraxados como somente um militar saberia engraxar, eram também italianos. Claro, o relógio tático não combinava com nada, mas jamais poderia ficar sem ele.

      — Chegaram — a voz saiu crepitante do receptor, parecido


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