Mestres da Poesia - Florbela Espanca. August Nemo

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que logo são realidades,

      Que nos deixam a alma como morta!

      Só acredita neles quem é louca!

      Beijos de amor que vão de boca em boca,

      Como pobres que vão de porta em porta!...

      Ao vento

      O vento passa a rir, torna a passar,

      Em gargalhadas asp'ras de demente;

      E esta minh'alma trágica e doente

      Não sabe se há de rir, se há de chorar!

      Vento de voz tristonha, voz plangente,

      Vento que ris de mim, sempre a troçar,

      Vento que ris do mundo e do amar,

      A tua voz tortura toda a gente!...

      Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!

      Desabafa essa dor a sós comigo,

      E não rias assim!... Ó vento, chora!

      Que eu bem conheço, amigo, esse fadário

      Do nosso peito ser como um Calvário,

      E a gente andar a rir p'la vida fora!!...

      Tédio

      Passo pálida e triste. Oiço dizer

      «Que branca que ela é! Parece morta!»

      E eu que vou sonhando, vaga, absorta,

      Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...

      Que diga o mundo e a gente o que quiser!

      — O que é que isso me faz?... O que me importa?...

      O frio que trago dentro gela e corta

      Tudo que é sonho e graça na mulher!

      O que é que isso me importa?! Essa tristeza

      É menos dor intensa que frieza,

      É um tédio profundo de viver!

      E é tudo sempre o mesmo, eternamente...

      O mesmo lago plácido, dormente...

      E os dias, sempre os mesmos, a correr...

      A minha tragédia

      Tenho ódio à luz e raiva à claridade

      Do sol, alegre, quente, na subida.

      Parece que a minh'alma é perseguida

      Por um carrasco cheio de maldade!

      Ó minha vã, inútil mocidade

      Trazes-me embriagada, entontecida!...

      Duns beijos que me deste, noutra vida,

      Trago em meus lábios roxos, a saudade!...

      Eu não gosto do sol, eu tenho medo

      Que me leiam nos olhos o segredo

      De não amar ninguém, de ser assim!

      Gosto da Noite imensa, triste, preta,

      Como esta estranha e doida borboleta

      Que eu sinto sempre a voltejar em mim!...

      Sem remédio

      Aqueles que me têm muito amor

      Não sabem o que sinto e o que sou...

      Não sabem que passou, um dia, a Dor,

      À minha porta e, nesse dia, entrou.

      E é desde então que eu sinto este pavor,

      Este frio que anda em mim, e que gelou

      O que de bom me deu Nosso Senhor!

      Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

      Sinto os passos da Dor, essa cadência

      Que é já tortura infinda, que é demência!

      Que é já vontade doida de gritar!

      E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,

      A mesma angústia funda, sem remédio,

      Andando atrás de mim, sem me largar!...

      Mais triste

      É triste, diz a gente, a vastidão

      Do Mar imenso! E aquela voz fatal

      Com que ele fala, agita o nosso mal!

      E a Noite é triste como a Extrema Unção!

      É triste e dilacera o coração

      Um poente do nosso Portugal!

      E não veem que eu sou... eu... afinal,

      A coisa mais magoada das que o são?!...

      Poentes de agonia trago-os eu

      Dentro de mim e tudo quanto é meu

      É um triste poente de amargura!

      E a vastidão do Mar, toda essa água

      Trago-a dentro de mim num Mar de Mágoa!

      E a Noite sou eu própria! A Noite escura!!

      Velhinha

      Se os que me viram já cheia de graça

      Olharem bem de frente para mim,

      Talvez, cheios de dor, digam assim:

      «Já ela é velha! Como o tempo passa!...»

      Não sei rir e cantar por mais que faça!

      Ó minhas mãos talhadas em marfim,

      Deixem esse fio de oiro que esvoaça!

      Deixem correr a vida até ao fim!

      Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!

      Tenho cabelos brancos e sou crente...

      Já murmuro orações... falo sozinha...

      E o bando cor de rosa dos carinhos

      Que tu me fazes, olho-os indulgente,

      Como se fosse um bando de netinhos...

      Em busca do amor

      O meu Destino disse-me a chorar:

      «Pela estrada da Vida vae andando;

      E, aos que vires passar, interrogando

      Acerca do Amor que hás de encontrar.»

      Fui pela estrada a rir e a cantar,

      As contas do meu sonho desfiando...

      E noite e dia, à chuva e ao luar,

      Fui sempre caminhando e perguntando...

      Mesmo a um velho eu perguntei: «Velhinho,

      Viste o Amor acaso em teu caminho?»

      E o velho estremeceu... olhou... e riu...

      Agora pela estrada, já cansados

      Voltam todos p'ra traz, desanimados...

      E eu paro a murmurar: Ninguém o viu!...»

      Impossível

      Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste:

      «Parece Sexta Feira de Paixão.

      Sempre a cismar, cismar, de olhos no chão,

      Sempre a pensar na dor que não existe...

      O que é que tem?! Tão nova e sempre triste!

      Faça


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