A novela gráfica como género literário. Alexandra Dias

A novela gráfica como género literário - Alexandra Dias


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formada por imagens em sequência coerente, com ou sem texto, integrado ou não nas próprias imagens, que conta ou transmite uma história ou uma ideia com a máxima liberdade criativa, sendo portanto vastíssimo o leque de formas e tipos que pode revestir, da mais clássica história bem contada ao mais poético poema gráfico, sem limites de género, tema, forma, grafismo, tom37.

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      As adaptações de Georges Bataille, Herberto Hélder e Raul Brandão, com Eduarda, de Miguel Rocha, Arquipélagos, de Dinis Conefrey, e Diário de K., de Filipe Abranches, respetivamente, ou de biografias como a de William Burroughs, com Mr. Burroughs, de Pedro Nora e David Soares, ou ainda o desenvolvimento de uma «ficção de horror» inspirada no Doutor Fausto, de Thomas Mann, com Sammahel, de David Soares, são exemplos de novelas gráficas. Estes álbuns, juntamente com outros, inspirados em episódios da História nacional, como, por exemplo, As Pombinhas do Sr. Leitão ou Borda d’Água, de Miguel Rocha, ou ainda História de Lisboa, de Filipe Abranches, apresentam-se como narrativas longas, em formato de livro, com qualidade gráfica e estética superior à dos comics e permitem observar uma série de processos homólogos aos do sistema literário. Constituem exemplos de obras que possuem requisitos narratológicos e ideológicos que nos permitem afirmar que existe uma ficção narrativa portuguesa em banda desenhada. A estrutura da narrativa da banda desenhada assemelha-se à da narrativa verbal, nela encontramos as mesmas categorias narrativas:

      Estas obras possuem uma estrutura novelística que nos coloca em presença de um género estruturalmente identificável com o romance. Sendo o romance uma forma proteica cujo desenvolvimento assume uma sucessão diversificada de formas, certamente nem todas esgotadas nos últimos anos do século XX, a sua evolução mostra como os modelos literários se multiplicaram e a poética perdeu a validade geral, assim como a pretensão de ordenar cada um dos géneros literários em compartimentos previamente estabelecidos, pois os fenómenos literários e artísticos são complexos e as facetas que podem revestir, imprevisíveis. Tudo é suscetível de ser combinado com tudo. As combinações não são certamente ilimitadas, mas podem ser imprevisíveis, tal é o caso da novela gráfica.

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