Nakba. Aníbal Alves
atlético e tinha um sorriso fácil de bonacheirão. Seu olhar pousou descarado e terno no rosto da jovem inglesa e, sem formalidades de maior ou timidez, murmurou com admiração:
— Bendito é o sol que ilumina tal obra de arte! Confesso que não esperava esta surpresa. Menina, você é linda!
— Bem-vindo, doutor, e obrigada pela sua solidariedade com estes deserdados da fortuna!
— Não tem que agradecer, jovem. Cumpro o prometido no juramento de Hipócrates. Bem haja você que, sendo uma jovem, se sacrifica em prol de uma boa causa!
Entregou o Dr. Muller a uma das assistentes, recomeçou as boas vindas aos restantes passageiros daquele voo de solidariedade e iniciou a saudação ritual com o médico francês especialista em anestesia, o Dr. Bardot. Este era um sujeito ainda jovem, com uma barba negra e pontiaguda, quiçá para encolher a juvenilidade de um rosto bonitão. Era de trato delicado e os olhos perspicazes mostraram não se intimidarem com a beleza da cicerone. Seguiu-se um médico de clínica geral, o Dr. Edmund Wolfgang, um austríaco maduro e de aparência austera que, num inglês um tanto macarrónico, cumprimentou polidamente:
— Precisamos de organização e cooperação, menina; providencie com os meus colegas.
De seguida saiu um casal que, sorrindo para todos com à vontade, anunciou:
— Lamentamos não ser cooperantes nesta campanha de benfazer. Só vamos ajudar na montagem do hospital e seguiremos o nosso destino: sou Gilad e esta é minha mulher, Shira. Este pequerrucho é nosso filho, tem 3 anos.
Lady Douglas sorriu e fez uma carícia no rosto do pequerrucho de olhar vivo que, segurando na mão delicada da Lady, a abriu e fixou o olhar negro e brilhante nas linhas misteriosas que a sinalavam, como se instintivamente quisesse ler nelas o destino daquela senhora tão simpática. A inglesa voltou a inclinar-se sobre a criança e afagou-lhe as faces angelinas ao mesmo tempo que procurava na bolsa uma guloseima, daquelas que costumava oferecer às crianças palestinas do campo para lhes amenizar o choro.
Do portaló do avião descia o Dr. Ibraim Jali, um egípcio de meia-idade e porte cavalheiresco que num inglês impecável respondeu à sua saudação feita em arabish:
— Em nome do meu povo, que Alá, o Misericordioso, lhe mostre a sua benignidade!
Sara voltou a falar-lhe em arabish mas ele não mostrou qualquer sinal de entendimento.
Desceu logo a seguir o Dr. Abner Abramowicz, designado como chefe de equipa do departamento médico, e o intérprete oficial, Levy Cross, ambos funcionários da Cruz Vermelha Suíça. Ao dar-lhes as boas vindas, a sua mente perspicaz anotou que, pelos nomes e traços fisionómicos, eles pareciam judeus do leste europeu. Sara Douglas dirigiu-se-lhes em inglês e cumprimentou demoradamente o Dr. Abner, que ela sabia ser de nacionalidade polaca, e seguidamente falou em arabish para experimentar o intérprete. Ambos eram jovens ainda e ela perguntou-se sobre o porquê de o Dr. Abner ter sido indigitado como chefe clínico. Informar-se-ia discretamente junto dos outros médicos, no entanto estava segura de que a Cruz Vermelha só aceitava nos seus quadros pessoal altamente competente e com provas dadas. Será que a idade eclipsaria a experiência? Gostou da simpatia de um e de outro, assim como a modéstia de ambos, quando Abner indagou:
— A senhora é a enfermeira chefe?
Sara dedicou-lhe o seu melhor sorriso e corrigiu:
— Não, doutor, eu pertenço ao Exército de Salvação e sou a chefe do pessoal auxiliar. A enfermagem está ao cuidado da Ordem das Passionistas.
— Entendo, Lady Douglas, as freiras fizeram um bom trabalho durante a guerra e adquiriram maturidade e experiência.
Num aparte de humor exclamou:
— Então a nossa enfermeira chefe deve ser uma matrona esposada com Jesus!
Sara riu do comentário e esclareceu:
— Engana-se, doutor. A irmã Angélique é ainda muito jovem e por acaso é bem bonita e simpática.
— Entendo, Lady Sara. Juventude nem sempre é apanágio de inexperiência. Nos tempos conflituosos que vivemos e agora também aqui, o saber da medicina cresce infelizmente na proporção inversa à da paz. A guerra torna-nos maduros e peritos à força!
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