Nakba. Aníbal Alves

Nakba - Aníbal Alves


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Kalila!

      Também Gilad teve uma surpresa ao entrar no apartamento. Estava derreado e desejava descansar umas horas antes de privar com sua esposa.

      — Olá, amigo. Sei que estás estourado de corpo e alma. É bom que faças um sono sossegado, para entrares na tua lua de mel. Antes de iniciares o merecido descanso, estes teus amigos desejam que proves este conjunto de cerimónia para fazeres jus à estada de três dias, que te reservamos num hotel de cinco estrelas próximo do parque da cidade. Tens aqui este envelope que eu e o Levy te oferecemos, como prova da nossa estima e amizade eterna.

      As lágrimas brotaram nos olhos de Gilad e, sem palavras, os três se abraçaram numa manifestação de afeto fraterno.

      Os pais dos noivos foram convidados por Levy Cross a se instalarem num apartamento cedido pela Cruz Vermelha e foi-lhes oferecido uma autorização para permanecerem na Suíça até resolverem o que fazer no futuro.

      Quem tivesse curiosidade de apreciar aquele casalinho vestido a rigor, que de mão dada contemplava o reflexo da lua sobre as tranquilas águas do lago, diria que eram um par de namorados fazendo vénia ao amor que os embalava na euforia do romantismo. Ambos olharam na mesma direção: era aquele o palacete, cuja entrada em forma oval, estava encimada pelo mesmo nome escrito no bilhete que os amigos lhes tinham oferecido.

      A magnificência do local, só frequentado pela flor da sociedade, lhes causou temor; era uma aventura que jamais tinham acometido e aquela figura de uniforme vermelho com platinas douradas e botões brilhantes no mesmo tom inibiu-os de tal sorte, que estiveram quase a desistir. Tomaram coragem e aproximaram-se da bizarra criatura qu, para surpresa deles, saudou-os cordialmente em francês e lhes deu as boas vindas, apontando a entrada:

      — Boa noite, Senhora! Boa noite, Senhor! Bem-vindos sejam, tenham a bondade, estamos ao vosso serviço!

      Um outro engalanado a preto e branco fez-lhes uma saudação amiga e, antes que perguntasse, Gilad informou-o: — Temos marcação para a mesa 24!

      — Façam o obséquio, eu próprio encaminho-os.

      — Sentaram-se um frente ao outro e ambos esboçaram um sorriso escarninho. Nunca tinham sentido tal atenção e deferência!

      Aproximaram-se os rostos e Kalila murmurou, constrangida com a confusão de copos e talheres que ladeavam os pratos:

      — Querido, parece que aqui o hábito é que faz o monge e eu estou numa confusão, não sei qual o garfo ou o copo a pegar, para me servir.

      — Deixa isso comigo, amor, eu já resolvo.

      Quando o criado chegou para lhes entregar o cardápio, o cigano, contra todas as regras da etiqueta, segurou-lhe um braço e, em jeito de murmúrio, desabafou:

      — Companheiro, não quero fazer figura de parolo para esses figurões e você gosta de uma boa gorjeta. Assim, ajude-nos nesta salada de talheres e copos. Comece por trazer-nos um vermute digestivo, de seguida arranje-nos uma botelha de um bom tinto da região de Bordéus, para comer um bom bife mal passado com batatas fritas à fartura e um ovo a cavalo, entendeu, meu amigo?

      O criado sorriu e murmurou:

      — Entendi, meu caro senhor. Não tenha problemas e posso adiantar-lhe que farão um figurão, pois há aqui aqueles que, de tão snobes, até se julgam cavalheiros de nascimento e na sua presunção nem dão pela rudeza da sua conduta, o que causa sorrisos dissimulados nos que os rodeiam.

      Depois de uma sobremesa deliciosa aconselhada pelo simpático servidor, estepresto-lhes a respetiva vénia de despedida, ao mesmo temo que os informava:

      — O táxi de vossas Senhorias já está à porta!

      Novamente o embaraço na receção do hotel, só que desta vez foi Kalila quem tomou a iniciativa:

      — Somos os Sauer e temos marcação para três dias!

      O rececionista saudou-os e perguntou:

      — Tem V.ª Ex.ª bagagem?

      — Sim, uma mala de pele azul que vos foi trazida ontem, aquando da marcação.

      — Queiram desculpar, o mandarete levá-la-á aos vossos aposentos!

      Que alívio! Ambos caíram nos braços um do outro e Gilad exclamou:

      — Ai, querida! Juro que nunca mais! Prefiro o nosso prato de folha, as calças de ganga remendadas e a camisa aos quadrados!

      Abriram a mala e foi Kalila quem pronunciou, com um sorriso ambíguo:

      — Tem bom gosto, esta nossa amiga, mas não sei, Gilad, se me queres de camisa de dormir.

      Apagaram a luz e ambos sobre o leito procuraram-se naquele aconchego exigido pela atração dos corpos, porque o amor é uma força que impele outras energias e as conduz para a sexualidade despertada; exige que o fogo da paixão se consuma na venérea volúpia do sexo.

      As bocas uniram-se naquele contato já ensaiado ao longo do namoro e saborearam, um do outro, o licor que lhes molhava as palavras. Naquele afã de procura, os dedos deslizavam na pele carente e já excitada na sensualidade, com a leveza de uma nuvem. Seus corpos eram jovens e necessitados de ternura. Na partitura dos carinhos, eles reviviam os trilos de longínquos suspiros de desejo não consumado. Excitados eram os pelinhos macios que bordavam os seus genitais e terminavam em circuitos erógenos, que reclamavam o delir do prazer venéreo.

      Naquela procura agitada que fazia vibrar os sentidos como cordas retesadas de um violino, excitavam-se as fibras interiores e humedeciam as pétalas sedosas da flor, que ansiava ser desfolhada. Foi em êxtase que ela sentiu os lábios dele acariciando a sedosa pele dos peitos dilatados de anseio e a língua húmida e quente saboreando o orvalho que ressudava daqueles róseos mamilos empolados de desejo sensual. Ele voltou a saborear sua boca ao mesmo tempo que sentia o roçagar do seu sexo entre os lábios da vulva dela. Ela também deu conta da investida da glande intumescida e foi com um jeito dos quadris que permitiu a penetração daquela haste portadora do seu prazer e daquela guinada de dor aguda, na rápida transição do rasgar do hímen ao ser dilacerado para permitir a profunda penetração daquela carne túmida, que a inundou de estranhas e voluptuosas sensações, que se acenderam como luzinhas de cores brilhantes, no arco festivo do seu triunfal desejo:

      — Ai, querido meu! Sinto-te em mim! Faz-me saborear o fogo que vem de ti! Delicia os meus privados jardins!

      E naquele ritmo do ir e vir, no vir e ir entre as carnes tenras e cálidas como lava de vulcão, ela usufruía pela primeira vez o encanto sexual que havia nela. Ele sentiu as pernas feminis que gostava de acariciar, se colando em seus rins como uma echarpe estranguladora e ouviu seus gemidos:

      — Querido meu, não me deixes sozinha neste delíquio celeste! Ai, amor! Inunda-me com a tua semente! Enche este vaso de ti!

      Gilad não conseguiu controlar o seu tesão e naquela tempestade de cicios e gemidos, ele não se coibiu de lançar na ebulição dos sentidos o urro de macho empolgado de volúpia, ao sentir expelir de si o leite seminal que fez extravasar o dique das águas felizes dela, que deslizaram como regato manso entre as coxas já humedecidas de sucos vaginais. Como o abraço das pernas de Kalila sobre seus rins continuasse a reter o seu afã venéreo, ele sentiu desejo de mais uma vez usufruir o prazer que os fazia transpor a fronteira do aqui e agora. Era delicioso assentar a cabeça sobre aquele colo suave e macio no destoldar da modorra, depois de saciados o corpo e o espírito, do apetite sexual que os agitara na fogueira da paixão carnal.

      No torpor do descanso do guerreiro, ele perguntou-lhe se alguma vez fizera ideia do ato sexual vivido e ela, com um sorriso ambíguo, delatou a vivência da sua indiscrição na tenda familiar:

      — Ai, querido meu, quantas vezes eu, fazendo-me adormecida, assisti à fornicação de minha tia com o tio Rico e não sei se tu alguma vez sentiste o que vou contar-te: algumas vezes minha tia obrigava o marido a levantar-se e, naquela posição, ela ajoelhava na sua frente e abocanhava o sexo dele.

      Gilad riu-se com ronha. Jamais conseguiu esquecer o que tinha


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