Nakba. Aníbal Alves
Na esplanada da entrada da estação ferroviária, os quatro tomaram o almoço em amena cavaqueira, como se fossem um grupo de turistas esperando o comboio que os levaria a Walenstadt, junto ao lago do mesmo nome. Dali seguiriam para Zurich e o judeu, para convencer o funcionário da bilheteira que era um turista endinheirado, puxou por um grosso maço de francos suíços. Depois de quase quatro horas de comboio, onde fizeram uma refeição no vagão-restaurante para impressionar alguma autoridade que os vigiasse, chegaram à importante estação da cidade dos bancos. Para testar o número da sua conta bancária, Abramowicz entrou no banco, identificou-se e fez mais um depósito de 2000 francos, ao mesmo tempo que comprava um livro com 20 cheques de viagem de 50 francos cada. Estavam em abril de1945 e pela primeira vez em três anos se sentiam livres. Respiraram a plenos pulmões a paz de uma democracia pluralista, num país que tinha sabido manter-se neutral no conflito que tinha arrasado toda a Europa.
Para se sentir plenamente realizado, só lhe faltava cumprir o compromisso assumido com o tenente Kaufman Wolfgang e comunicar com sua esposa, que morava em Mulheim, uma pequena cidade no sul da Alemanha. Estudou o mapa com Gilad e este comentou:
— A única dificuldade está na tua apresentação à senhora, porque nestes tempos de guerra a vizinhança se torna uma arma de informação para a polícia, mas para sorte tua tens a via fluvial pelo Reno e isso, se bem explorado, te facilitará a fuga com a senhora e o filho.
— Como assim, Gilad?
— Ora, tu tens um visto passado pelo tenente. Assim, em vez de bateres na porta da senhora Rena Wolfgang, deixas um bilhete por debaixo da porta, com as indicações para um local propício de encontro.
Capítulo 2
Nos campos de Auschwitz, no início de 1945, era mais premente o desmantelamento do equipamento sofisticado das fábricas que ali laboravam ou até a destruição de documentos comprometedores, do que a aplicação da justiça comum alemã. Isto provocava o desleixo nos tribunais que estavam relacionados com este tipo de delitos. O maior problema do momento era a falta de víveres. Desde que os Aliados começaram a atacar os comboios que forneciam a alimentação aos campos de trabalho, a produção baixara muito e o esforço de guerra da máquina alemã quase estagnara. A má nutrição, aliada às péssimas condições de acomodação dos prisioneiros e trabalhadores — porque existiam e eram bem pagos — tornava-os vítimas fáceis das doenças infeto-contagiosas. Além desta grande dificuldade, alastrava também o nervosismo patológico fomentado pelo medo que afetava os próprios soldados: a presença do exército russo junto à fronteira norte da Polónia provocava esse temor e desmoralizava todo o sistema defensivo nazi. Foi fruto dessa desorientação e da oferta de alguns valores do pecúlio reunido em comum com o seu amigo Abner Abramowicz, que o sargento das SS se deixou corromper e lhe permitiu a fuga em segurança, durante uma leva de prisioneiros para trabalhar na floresta. A visão e o oportunismo jornalístico nele inculcados durante os estudos dessa profissão levaram Berger Stein a conseguir um visto para a Suécia, salvos condutos esses que estavam a ser facultados em Budapeste por Raoul Walenberg, um diplomata acreditado daquele país. Aquela nação que soube manter-se neutra, durante a guerra que tinha devastado a Europa, recebeu cerca de 70.000 judeus durante o conflito.
Em Estocolmo, por intermédio de outros estudantes judeus, soube da existência de uma instituição sionista que arregimentava ex-prisioneiros e refugiados e lhes prometia emigração segura para a Palestina. Ficou surpreendido, para não dizer chocado, quando durante a entrevista com os responsáveis sionistas, em vez de o interrogarem acerca da sua vivência no Campo de Birkenau, o confrontaram com uma realidade desde há muito programada e o aconselharam a subscrever uma declaração em que ele, na qualidade de kapo, tinha ajudado a incinerar os cadáveres das vítimas das câmaras de gás. Quando pretendeu dar uma explicação cabal acerca do que de fato acontecia, argumentou:
— Meus senhores, eu nunca vi em Birkenau uma câmara de gás!
— Não importa isso, só precisamos da sua declaração assinada e do seu número de prisioneiro. Você, como estudante de jornalismo, sabe que de muitas mentiras se constrói uma grande verdade!
Só mais tarde veio a constatar o porquê daquele afã dos seus compatriotas sionistas. Foi um rabino que, apologista da criação de um estado de Israel na Palestina, lhe deu a conhecer a profecia que estava inserida na Torá e o seu significado místico: este holocausto de judeus nos campos de trabalhos forçados era de feição à criação realista do mito judaico talmúdico que prometia. — Tu retornarás à Terra que te prometi, mas com seis milhões a menos. Ora, se a II Guerra Mundial trazia as condições certas para a criação da Pátria de Israel, os judeus só teriam que fazer acreditar que no holocausto teriam perecido os tais 6.000.000 requeridos pela premonição messiânica. Assim, se tornava obrigatório publicitar o sacrifício dos judeus para que o mundo, perante tal atrocidade, sentisse remorsos e ajudasse a criar, de uma mentira, um fato histórico. Os generais russos, aliciados por Estaline, que desejava os ingleses fora da Palestina, estavam já dando o seu contributo propagandístico ao deturpar a informação colhida nos campos de Auschwitz, onde até inventaram as famigeradas câmaras de gás. Os tais 6.000.000 descritos na profecia tinham mesmo que desaparecer como vítimas das pseudo fornalhas do nazismo!
Berger Stein riu-se daquela farsa e, numa retrospetiva do que tinha aprendido na faculdade, recordou-se de ter ouvido um zunzum acerca dessa fraude: foi no ano 1900, um artigo publicado pelo jornal New York Times e copiado de um discurso do Rabi Wise, onde este afirmava — «Há 6.000.000 de judeus vivendo, sangrando e sofrendo» — como argumento a favor do sionismo.
Em 1906, um jornalista judeu, em virtude dos pogrom do rescaldo do primeiro levantamento comunista na Rússia, grita aos quatro ventos que está eminente um holocausto de seis milhões de judeus.
Também pouco depois da I Grande Guerra os sionistas invocaram um massacre de 6.000.000, só que o argumento não foi longe e ninguém acreditou na história.
Em 1921, o povo russo, já farto de ver os judeus como usurpadores bolcheviques na sua própria terra, começaram a persegui-los como bodes expiatórios da falta de liberdade e do racionamento de víveres. Estes, na vã tentativa de chamar a atenção do mundo para a chacina de que eram vítimas, recorreram novamente ao mito dos seis milhões.
Se a história desta hipotética mortandade atribuída aos carrascos nazis conseguisse mais apoio dos políticos ocidentais, do que somente de Estaline, era bem mais fácil convencer o mundo. Ora, os americanos precisavam na altura de esconder os seus erros na Europa e também os massacres nucleares de Hiroxima e Nagasáqui. Assim, estavam dispostos a satisfazer a farsa, porque além do interesse político, havia os dividendos das indemnizações a pagar aos judeus, as quais iriam potenciar a sua economia. Também ao alinharem com Estaline no embuste, conseguiam mais argumentos para impor a sua vontade ao povo alemão, que necessitava da sua ajuda para voltar a erguer-se e, como tal, seria um bom cliente da indústria americana. Também os testemunhos do julgamento de Nuremberga arranjados pelos carrascos judeus ao serviço do exército britânico, que recorreram à bestialidade da tortura para conseguir falsas declarações sobre atrozes ações que só estavam na mente dos torturadores, conseguiram o objetivo a que se propuseram. Só esqueceram que a história, mesmo a dos vencidos, vinga sempre a própria história e a declaração dos sentenciados à morte ficou na memória dos vivos!
Tal como afirmei no meu livro, O Cruel Josué, o holocausto, forjado ou não, enalteceu a religião judaico-cristã. Também a profecia da mulher heroína que no alto das muralhas de Libna, enquanto fazia holocausto dos seus filhos para não caírem vivos nas mãos dos bárbaros hebreus, comandados pelo cruel Josué, os arremedava com sanha: «Vinde, malditos adoradores de um deus cruel! Vede como ofereço em holocausto ao vosso sanguinário Javé o fruto das minhas entranhas, a carne da minha carne e sangue do meu sangue! Que a memória do tempo fixe a minha maldição: que os filhos dos vossos filhos sejam pelos homens humilhados e escarnecidos da mesma maneira que vós trespassais os corpos dos nossos velhos, mulheres e crianças. Que o sangue deles esteja sempre sobre as vossas cabeças nos tempos do advir. Sereis escorraçados de todos e apedrejados pela canalha; sereis escravos de um futuro